terça-feira, 6 de julho de 2010

O Brasil entregou o jogo


A Copa do Mundo de Futebol acabou para a Seleção Brasileira. No exato momento em que o jogo acabou parece que uma febre foi sanada e o país voltou ao normal. As pessoas retomaram suas vidas, trabalho e preocupações. É engraçado como esse jogo ainda move e toma o Brasil. Mas há algo de imensamente positivo em termos caído frente à Holanda.

É inegável, o jogo que o Brasil apresentou mesclava algo de burocrático com deslealdade. Estava ficando cada vez mais comum ver Kaká, Robinho e companhia em jogadas infelizes cheias de cutucões, carrinhos e empurrões. Entendo que às vezes a única forma de parar um jogador é fazendo a falta – um mal necessário principalmente para o jogador sem brilho, que não consegue pensar noutra alternativa –, mas o time comandado por Dunga estava fazendo disso uma rotina.

Tínhamos atuações razoavelmente boas, ainda que sem entusiasmo, já que assim que os jogadores percebiam que tinham garantido os pontos ou a classificação simplesmente dormitavam em campo. Assim o time nunca convenceu de fato.

E devemos admitir que a seleção idealizada por Dunga é o seu próprio espelho, um time irritadiço, intolerante e raivoso. Por isso, acho que a Holanda mereceu ganhar, ainda que não tenha jogado um futebol realmente bom e também tenha tido seus momentos de ‘catimba’, o que é sempre feio.

E também é exatamente por isso – porque a Holanda não jogou lá grande coisa – que fica a impressão que o Brasil entregou o jogo. Não digo que o Brasil combinou alguma coisa, ou recebeu ordens, ganhou dinheiro para isso... Não. Entregou o jogo porque perdeu as estribeiras da emoção. Além dos jogadores parecerem que tinham desaprendido a jogar no segundo tempo. O time voltou do intervalo sem a mesma garra. Vendo pela televisão fiquei pensando: o que danado eles conversaram no vestiário!?

Para falar do desequilíbrio emocional. Tínhamos esse problema há três ou quatro Copas atrás – antes de 1994 – mas já tínhamos resolvido isso. Então, por que esse desequilíbrio emocional retorna justamente na seleção idealizada por Dunga, uma seleção que deveria ser disciplinada e organizada ao extremo? Vai ver que disciplina somente não resolve, principalmente no que diz respeito ao homem latino. É preciso mais molejo, mais graça e prazer. Não vi o prazer de jogar dos titulares ou reservas, antes uma tensão por resultados.

Agora, alguns que adoram ver uma teoria da conspiração, circulam na internet várias versões para o acontecido. Alguns insistem que em 98 o Brasil entregou o jogo para a França. A promessa seria ganhar em 2002. A Fifa teria resolvido agraciar a Alemanha que topou perder em sua própria casa em 2006. Segundo essa teoria, a Copa será da Alemanha.

Nem digo que conspirações e arranjos sacanas não existam, mas para mim quem fica com a taça é a Holanda ou Espanha.

Mas vamos combinar, faz tempo que uma seleção não ganha e convence. Na Copa passada a Itália ganhou da França utilizando o artifício da provocação de Materasi sobre Zidane. A França merecia a taça. O futebol da Itália era feio e minguado, tanto é assim que foi preciso jogar sujo para ganhar.

Antes da Itália o Brasil tinha ganho com Felipão. Tudo bem, aquela foi uma seleção que se auto-superou e foi bonito ver o renascimento de vários jogadores. Os jogos não foram fáceis, nem o Brasil parecia indestrutível, tinha lá suas fragilidades, mas conseguiu.

Em 1998 foi a vez da França ganhar naquele episódio infeliz da convulsão de Ronaldo Fenômeno. O Brasil estava tonto em campo e a França também não mereceu ganhar. Assim como em 1994 o Brasil não mereceu ganhar - com seu jogo mínimo - a competição realizada nos EUA. Mas é assim mesmo, o mundo é cheio de equívocos e injustiças.

No final das contas pelo menos o que pareceram ser os maiores egos que desfilaram na África do Sul – as seleções da França, Itália, Brasil e Argentina (esta última sem dúvida a melhor das quatro no quesito jogo) – foram mandadas para casa mais cedo. Assim, quem sabe, veremos ao menos um pingo de justiça nos campos, ainda que o futebol seja mínimo, feio, trancado.

Mas não deixa de ser engraçado uma coisa: como o país, ou os países, são tomados pelo clima da Copa. É quase uma febre, devia ser assim nas arenas de Roma. Talvez seja por isso que espírito de gladiador assalta alguns jogadores e torcedores.

Até quando o esporte vai ser mais um exercício de guerra e menos a expressão de união de uma equipe em prol de um objetivo, onde superação, força, lealdade, esforço, foco, alegria e lances iluminados encontram as pernas, cabeças, corpo, mentes e espíritos para realizar a verdade? Faz tempo que o melhor nem chega às finais. Espero que agora seja diferente.

Um comentário:

Eduardo Henrique disse...

Depende do que se considera o que seja melhor no futebol. Se for aquele em que o time joga bonito, dá espetáculo, realmente faz tempo. Pelo Brasil, em 70. Mas na prática futebol é resultado e todos os campeões mundiais tem crédito. Por exemplo: em 74, a Holanda tinha o melhor time (no sentido da exibição) e mesmo assim caiu diante de uma Alemanha eficiente. O mesmo aconteceu em 54 com Hungria e de novo a Alemanha. Ou em 82 com Brasil e Itália. Exatamente por isso que o futebol é tão apaixonante. A imprevisibilidade do resultado. O que ganha jogo é eficiência e não necessariamente plasticidade. Quando dá para aliar as duas coisas ótimo, mas quando não, ganha o melhor (o mais eficiente).