terça-feira, 30 de março de 2010

Guerra ao Terror ou Avatar?


Sei que o Oscar é a premiação que a maioria dos cineastas ‘cabeças’ não vê com bons olhos, mas não tem nenhum que não se deixaria seduzir se fosse lambido pelo prêmio. Sambemos que também há política na entrega do prêmio, assim como em qualquer decisão de jurados. Ainda mais se tiver fama e dinheiro envolvidos.

Mas quero falar aqui não do prêmio em si, mas das escolhas da Academia como um reflexo do momento do planeta. Ou pelo menos de uma parcela das cabeças pensantes que consideram o filme ‘Guerra ao Terror’ como uma expressão honesta da realidade e ‘Avatar’ apenas como uma fantasia milionária e infantil, feita para ganhar dinheiro. Há verdades e mentiras aí.

Para ilustrar a mente estreita de alguns críticos cinematográficos, de alguns intelectuais, jornalistas, gente que gosta de fazer a cabeça de outras pessoas, vou transcrever parte da resenha feita pelo pernambucano Luiz Felipe Pondé, escrita para a Folha.

O filme ‘Avatar’ acaba sufocado por um tipo de besteirol que é seu romantismo para idiotas: a fé no povo da floresta que vive em harmonia com a natureza. Nenhum povo vive em harmonia com a natureza. A diferença na relação com a natureza sempre se definiu pela maior ou menor capacidade técnica de cada cultura em controlá-la. (...) Preste atenção: a relação com a natureza é de vida ou morte, ou ela ou nós. A expressão "lei da selva" não foi inventada pela avenida Paulista e seus bancos, mas sim como descrição da natureza e seu horror. (...) Em "Avatar", o romantismo degenera em conversa de retardado. (...) No filme os humanos gananciosos não são capazes de perceber como os Na'vi são seres em contato com a deusa cósmica.

O personagem humano principal é paraplégico, mas ao se tornar um Na'vi recupera as pernas: eis a metáfora da condição humana vista pelas lentes do romantismo degenerado. Somos uns aleijados em comparação aos belos índios místicos donos da verdade cósmica. E qual é essa verdade? Que a natureza é um grande cérebro pensante e que devemos nos dobrar a ela porque assim a vida será bela. Meu Deus, como ter paciência com esses aleijados mentais? Ninguém leu Darwin? Ninguém nunca observou a natureza de perto? Nunca sentiu o odor de sua violência?
”.

Creio que o moço anda meio perdido no na ironia cáustica do falecido Paulo Francis, quem sabe não está possuído pelo seu fantasma.

Ainda que ‘Guerra ao Terror’ seja um filme anti-belicista, ele também pode ser encarado (e duvido muito que os nossos irmãos norte-americanos não tenham visto apenas isso) como a heróica intervenção dos EUA e seus bravos soldados num país terceiro-mundista com uma cultura incompreensível. O filme fala da degeneração da resposta dada pelos Estados Unidos no pós 11 de setembro. Uma degeneração que compreende o país invadido, o invasor e seus soldados. Mas esse filme é apenas um naco de realidade, uma pequena parte de uma realidade que envolve uma história muito maior, por isso o filme pode se perder com o passar dos anos e tornar-se apenas a história do heroísmo e da loucura da guerra.

Avatar’ não fala de um presente degenerado, mas fala de um futuro tristemente melancólico. É apocalíptico? Sim, e mexe que essa parte irracional do fim do mundo, como 2012. Toca em idéias incrivelmente em voga no momento e que foram resgatadas de culturas antigas, algumas indígenas, gregas, hindus, egípcias e até chinesas? É verdade. É romântico? Também, porque trata da possibilidade de vivermos em harmonia com a natureza, sem sermos apenas parasitas no planeta.

Uma amiga minha me perguntou como fica o subsolo após a extração do petróleo e do gás. Afinal, aquilo preenchia algo antes de ser retirado do local de origem. Fica um buraco, essa é a resposta. Não digo que esse buraco influencie nos terremotos que hoje assolam o planeta, mas não vamos dizer que esses buracos não afetam em nada o equilíbrio. O nosso equilíbrio.

Mas, ao contrário do que sugere Pondé, o filme não fala da impossibilidade de uma interação sã com a natureza, mas, antes de tudo de uma forma de não destruir uma cultura, seja essa cultura humanóide, animal ou vegetal, por acreditar que essa cultura não tem nada a ensinar. O filme fala que não devemos ver num ambiente apenas o que é possível lucrar imediatamente, mas toda a biodiversidade capaz de trazer ganhos a longo prazo, que podem ser revertidos em curas de doenças e mais sabedoria para a própria humanidade.

Sei que o filme ‘Avatar’ entra claramente na lógica mercantilista como produto, um arrasa quarteirão feito por um cineasta que sabe muito bem como emocionar as platéias e ganhar dinheiro. Mas vejam bem, se há uma parte da população mundial que está temerosa com o futuro, e que começa a ter uma mentalidade ecológica, demonstra seus anseios, o mercado nada mais faz do que, oportunamente, se adiantar a essa necessidade. Mas isso não tira o mérito das idéias e das propostas do filme, que são, apesar de alguns pecados no roteiro, mais avançadas do que Guerra ao Terror, principalmente por se tratar de um filme para a massa.

Não estão ali apenas a repetição de histórias que deram certo como ‘Dança com Lobos’, ‘O Último Samurai’, ‘Pocahontas’, ‘Matrix’, ou os mitos. O filme dá certo porque trata dos medos do inconsciente e porque reflete esse próprio inconsciente. Sabe o inconsciente, aquele espaço invisível e interior que Freud entendeu que se comunica com o mundo exterior através dos símbolos.

Assim, em ‘Avatar’ vemos o exército americano composto por mercenários. Eles são os vilões, sem meias palavras. Em ‘Guerra ao Terror’ os americanos são os heróis, ainda que equivocados, são heróis. O nome Na’Vi, como diz Pondé em outra parte do seu artigo, lembra a palavra hebraica para profeta, aqueles homens que tinha uma conexão especial com o mundo invisível e podiam falar do futuro. São homens e mulheres que mantém uma comunicação especial com a natureza e olham para uma árvore como um elemento sagrado. Para um intelectual, talvez olhar para uma árvore como um elemento sagrado seja uma estultice ou uma atitude bárbara e ignorante.

Na Kabalah a árvore é um símbolo rico. Os rabis ensinam que devemos observar a dignidade da árvore. Aprender como ela vive. As árvores, normalmente, vivem e morrem em pé. Uma árvore, ao crescer, consegue se adaptar ao ambiente e espaço onde vive.

As árvores retiram o seu alimento da terra, mas avançam sobre os obstáculos em direção ao céu, em busca de luz. Elas são úteis, dão frutos, flores, sombra, servem de madeira para construção de móveis e casas e quando secas ainda são usadas como lenha para aquecer nos dias frios ou serem utilizadas no cozimento do alimento. Além desse aspecto prático, a Kabalah ainda fala do símbolo da Árvore da Vida, aquela que está expressa no corpo humano e que é descrita na Bíblia como a Árvore que guarda o segredo da vida eterna que está no centro do Paraíso.

Há uma outra analogia no filme ‘Avatar’, os antigos afirmavam que o homem perdeu sua conexão com sagrado ao afastar-se de sua própria natureza. Esse afastamento do que é natural, criou os artificialismos, também as comodidades, a tecnologia e muitas das doenças que vemos aí. O homem esqueceu como entender os sinais do seu próprio corpo, esqueceu como ler a si mesmo e agora prefere discutir o que ele vê fora de si. Entre essas coisas está a guerra no Iraque. Mas a grande questão é que o que ele acredita que é verdade, é uma ilusão.

Para mim, premiar ‘Guerra ao Terror’ em detrimento de ‘Avatar’ é uma escolha clara: preferimos a guerra, a destruição, a força. O heroísmo que avança sobre as culturas diferentes como estupradores. A ilusão dos soldados que desarmam uma bomba que está fadada a explodir.

Podem me dizer: não a Academia premiou a mulher e o filme independente. Dizer que ‘Avatar’ é uma colcha de retalhos sem nada de novo, é um filme puramente comercial. Tá jóia, essa é a resposta superficial. As respostas não são fáceis de dar, simplesmente porque não tem manual. Às vezes é preciso sair da briga tola contra o mercado e admitir que algumas pessoas podem usar o mercado para dizer coisas corajosas, ainda que pareçam tolas e outras podem ir contra o mercado e serem aplaudidas porque dizem coisas pertinentes. Mas no fundo, essas coisas ‘pertinentes’ não acrescentarão nada, apenas servirão à satisfação estética e intelectual que, me desculpem alguns por generalizar, podem ser sinônimo para o vazio torturante.

É preciso olhar, ver e fazer leituras mais profundas. O crítico da Folha vai contra o que ele considera os desejos da maioria, entusiasmada com a beleza da aventura, e prefere usar sofismas para defender seu ponto de vista. Ele ataca o romantismo do filme e acredita que a única forma de viver em harmonia com a natureza é deixá-la intocada, talvez essa seja a idéia da antiga escola romântica, com seu ‘bom selvagem’. Mas hoje, não cabe mais esse romantismo, nem o romantismo hippie. Ainda que o filme possa levar alguns a fazer, em parte, essa leitura, esse não é o ponto mais importante.

O filme diz que a harmonia com a Natureza não está na completa falta de interação, como sugere Pondé, pelo contrário, é a falta de interação que causa a desarmonia. Não podemos olhar para a natureza como uma inimiga, nem como um pote de dinheiro, mas como um outro organismo vivo, criado como um espaço de crescimento e habitação.

Essa mentalidade de dominação da natureza é uma falácia, é a mentalidade de que somos superiores. Acreditamos assim até que ela, a Natureza, resolva abrir o chão sobre nossos pés e desabar o céu sobre nossas cabeças, aí temos a dimensão de nossa vulnerabilidade e pequenez. Nessa hora a gente bota o rabo entre as pernas e entende que não tem como brigar ou se meter a ser superior com algo que nem entende.

Avatar’ ainda diz que somos os vilões. Todos. E questiona o quê é a realidade e o sonho. Podem dizer que Matrix fez esse questionamento de forma mais eficaz. Não, Matrix só raspou. Para mim ‘Avatar’ vai mais além, ele pressupõe: se há um mundo paralelo, com realidades paralelas, é bem possível que haja outros. E então, onde está a verdade?

Infelizmente, não dá para falar tudo...

segunda-feira, 29 de março de 2010

O Papa e a pedofilia


Lembro quando o Papa Paulo VI morreu e o Papa João Paulo I foi alçado a líder maior da Igreja Católica. Na época eu tinha nove anos – era 1978 – e estava na quarta série primária – hoje acho que é quinta série fundamental, não sei ao certo. O Papa João Paulo I escolheu o nome duplo em homenagem aos seus dois antecessores: Papa João XXIII (talvez o último grande líder religioso católico) e Paulo VI. Mas seu pontificado durou pouco, apenas três meses. Muito se fala das histórias ocultas em torno da morte de João Paulo I, inclusive dois filmes tocam no tema: O Poderoso Chefão III e Anjos e Demônios.

Como, naquela época, o Brasil parecia predominantemente católico, havia uma consternação geral com o acontecido. Era de se esperar que a morte dos dois papas, assim seguidos, deixassem o mundo católico inseguro de quais eram os desígnios de Deus.

Bem, após a morte de João Paulo I, João Paulo II foi consagrado e veio para acalmar todos os ânimos.

Aos poucos fui conhecendo um pouco mais o Papa João Paulo II. Um homem austero que se incumbiu da missão de silenciar várias vozes da Igreja, a época envolta em escândalos bancários, com a máfia italiana, e a suspeita de assassinato de seu antecessor. João Paulo II conseguiu reagrupar e reorientar a Igreja, dando fim, inclusive, a novas idéias que surgiam, muitas delas latino-americanas, advindas da Teologia da Libertação.

Os padres e frades insistiam em dizer que Cristo e socialismo tinham algo a ver. João Paulo II deixou claro que não. Eram coisas diferentes para ele.

O papa polonês, Karol Wojtyła era seu nome de batismo, praticava o ato da mortificação (auto-flagelação), na clausura suntuosa de seu quarto papal, para se sentir mais próximo de Deus. Também dormia uma vez por semana no chão, numa prática asceta. É inegável, que ele teve vários méritos no seu papado, entre eles de aproximar a Igreja católica de outras religiões monoteístas, pediu perdão pelas omissões da igreja no passado e admitiu – com ressalvas, o sincretismo religioso brasileiro – mas continuou combatendo a eutanásia, a homossexualidade, a liberação da mulher e defendendo o celibato entre os padres... O Papa centralizou o poder da igreja, combateu o uso da camisinha como prática segura contra a contaminação do HIV e fez interferências diretas em regimes comunistas. Com pelo menos um sucesso claro: seu país natal. Há várias críticas à atuação do polonês... e também vários elogios...

Eu sempre vi Karol com simpatia, era difícil olhar para ele beijando o chão de onde chegava e não acreditar em sua profissão de fé. O papa era então a imagem da própria Igreja Católica.

Mas confesso: as posições dogmáticas, e muitas vezes radicais do Papa, foram em muito responsáveis por eu me afastar da Igreja – não de Deus. Assim, as diferenças entre mim e a Igreja Católica foram ficando intransponíveis, até eu simplesmente resolver que deveria buscar outro lugar para estar com Deus. Para mim, o Criador não designou nenhuma religião como única porta de comunicação com Ele, pelo contrário, nos deu vários acessos. Parece que Ele não queria ver ninguém sem opção.

Hoje, Bento XVI está à frente da Igreja Católica. Seu pontificado tem sido marcado por , digamos, controvérsias. Entre essas controvérsias, palavras mal ditas sobre os muçulmanos, ações desastradas em relação aos judeus e agora escândalos envolvendo padres pedófilos – que diga-se, já existiam durante o papado de João Paulo II, mas conseguiram passar quase invisíveis.

Agora, os escândalos começam a se aproximar perigosamente de Ratzinger – o irmão do Papa foi acusado de proteger um pedófilo alemão e agora o próprio Joseph Ratzinger é acusado de não ter feito nada ao saber de um padre americano que teria abusado de 200 crianças surdas. Além disso, um padre, próximo a Ratzinger, teve, pela polícia italiana, um telefonema interceptado. O homem conversava com outro padre tentando aliciar jovens padres 'vigorosos'. As perguntas estavam direcionadas a questões físicas (como era o corpo) e sexuais (era passivo ou ativo) desses que seriam 'aliciados'.

O Papa, já teve que se defender de boatos que o envolveram em um passado na juventude hitlerista. E, convenhamos, ele tem uma certa dificuldade no quesito empatia.... Mas ainda que a falta de empatia com alguns meios de comunicação e as acusações precipitadas de que ele teria sido adepto de Hitler não tiram o valor dessas novas denúncias. Não dá para a Igreja dizer que está vivendo um achaque demasiadamente incisivo, e injusto, da mídia. Os fatos existem.

A verdade é que a Igreja está metida em escândalos, o que não cai bem para uma instituição espiritual. Ela precisa, urgentemente, dar uma resposta eficaz ao mundo, longe de acusar os que denunciam. Talvez fosse saudável olhar para a sua política de amenizar ou acobertar envolvimento sexuais de seus dirigentes. Esse voltar-se para si mesma talvez possa ajudar a entender como foi consumida parte de sua imagem e ver o quê fez surgir frutos pobres em seu seio.

Não há como negar. Um dos grandes vilões dessa política de acobertamento é a idéia de que para ser um guia espiritual é preciso manter-se celibatário. Talvez a Igreja tenha confundido a idéia de celibato com castidade.
A idéia de celibato entre as religiões é antiga, como prática de superação dos desejos da carne e, num certo sentido, entrega espiritual. Mas o celibato nem sempre foi tido como uma opção, já que a castidade é um conceito muito mais abrangente e não necessariamente pede que seus adeptos sejam celibatários, mas refratários aos excessos, em todos os sentidos.

Infelizmente, hoje, a Igreja acabou por se tornar um lugar de refúgio não só espiritual, mas também para pedófilos homossexuais e heterossexuais – e aqui não cabe um julgamento de valor em relação as orientações sexuais de padres e freiras, mas simplesmente uma percepção de um equívoco da Igreja. Um equívoco , o celibato, que merece uma ação enérgica para impedir novos casos.

Ok, ainda que eu entenda que muitos adolescentes vivem por iniciativa própria uma iniciação sexual prematuramente. Essa prática se torna inadmissível quando uma mão adulta guia crianças indefesas, órfãos, surdos, estudantes, que não desejam caminhar pela trilha sexual antes do tempo e muitas vezes são tragados, contra sua vontade, para dentro de universos sombrios, de medo, privação da liberdade, obsessões e abusos, simplesmente porque não conseguem enxergar que o adulto a quem confiam a vida e a educação, na verdade é um lobo, literalmente, na pele de cordeiro.

Sem falso moralismo. É obvio que é necessário uma resposta rápida da Igreja e uma cobrança séria da sociedade. Afinal, sabemos que os casos que vêm a tona, possivelmente, não representem nem a metade da realidade. Talvez seja hora de ver a Igreja Católica reformular alguns de seus velhos preceitos, para poder manter-se digna em seu pedestal. Senão, arrisco a dizer que estaremos vendo o princípio do fim de uma era religiosa ocidental.

P.S.: Deixo claro aqui que este artigo não é um ataque as crenças espirituais de quem quer que seja, mas uma análise sobre a atual situação da Igreja, que precisa ser revista, ou no mínimo explicada de forma convicente. Além disso, a instituição precisa - urgentemente! - resolver esse problema (a pedofilia) que a tem molestado há algum tempo com escândalos. Sei que alguns religiosos fervorosos podem se sentir atingidos em sua dignidade ao verem seus ícones sendo questionados. Por favor, amigos, atenham-se a sua fé, não a alguns homens (e mulheres) que dirigem a sua religião. Lembrem-se: ainda somos falíveis...

A luta entre Maranhão e Ricardo Coutinho


Depois de quase dois meses desde o meu último artigo sobre política, o cenário na Paraíba continua nublado e sujeito a trovoadas. O que se vê?: Cícero Lucena irredutível. Não larga o osso por nada. Configurando um inevitável racha na oposição e fragilizando as duas candidaturas, tanto a dele (já sem força) quanto a de Ricardo Coutinho (PSB). O racha favorece o atual governador José Maranhão.

Parece certo. Cícero Lucena será candidato, o objetivo: dar sobrevida ao seu projeto político. O tucano não aposta em 2010, óbvio, mas se ele não concorrer, é possível que esteja declarando sua morte antecipada, mesmo contando com mais quatro anos a frente do Senado.

Na outra ponta deste triângulo (infelizmente nada amoroso, apesar dos três terem muito em comum), temos o governador José Maranhão. O governador quer mostrar serviço e tem mostrado emprenho neste sentido. Já anunciou várias obras estruturantes, com bilhões em investimentos até 2015, que se vingarem de fato podem mudar a cara da Paraíba, para melhor.

Não dá para não citar o Porto de Águas Profundas, o Metrô de Superfície (na verdade trólebus para as partes mais populosas da Capital. O trólebus é uma espécie de ônibus só que mais extenso, que pode ser movido por eletricidade). O Estado ainda tem projeto para a Triplicação da BR-230, de Cabedelo até Oitizeiro, a medida desafogaria o trânsito via Bessa. Prevê também a construção de um viaduto ligando a Beira Rio à Epitácio Pessoa e à Ruy Carneiro, outra medida para desafogar o trânsito da Capital (vista com azedume pela Prefeitura Municipal, não vamos discutir se essa seria ou não a melhor opção para desafogar o trânsito, é a opção oferecida).

Os projetos do governador ainda contam com várias outras interligações com as BR-101, multiplicando as entradas e saídas para o interior do estado, além de investimentos no Cariri/Seridó. A construção do Centro de Convenções, do Aeroporto de Cajazeiras, construção e/ou restauração de vários hospitais..., não há como negar, Maranhão tem mostrado serviço.

Em termos de melhora do cenário, a Paraíba ainda conta com o início da exploração do petróleo na região do Sertão. Tá, isso não tem uma ligação direta com o Governo do Estado, mas são dividendos que podem entrar no bolo... Assim, não é de se estranhar que depois de tantas anúncios de projetos o quadro esteja mais sorridente ao governador.

É verdade, a propaganda do Governo do Estado tem sido intensa (assim como a de Ricardo Coutinho também, talvez só um pouquinho menos intensa). Mas Maranhão ainda tem conseguido driblar uma Assembléia Legislativa indigesta e amealhado investimentos federais para o Estado, assim como empréstimos consideráveis para reforçar o caixa e mostrar resultados.

Com seu estilo ‘come quieto’, Maranhão tem aumentado o número de aliados, simpatizantes socialistas que abandonaram RC (deputados, prefeitos) e mantém a maior parte do PT. O peemedebista conseguiu também parte do PTB (é verdade que o partido bem pode estar na sua já costumeira jogada dupla, do tipo: é melhor ter uma perna em cada possível ganhador, assim ninguém fica chateado e o partido sempre ganha).

Fechando esse triângulo temos Ricardo Coutinho. O ‘Mago’, como é chamado o prefeito de João Pessoa, é ambicioso. Começou essa história como vereador e deputado aguerrido, sempre com um olhar crítico para as administrações, voltado para a luta dos excluídos. RC é uma personagem que fez a cabeça de muita gente da UFPB e dos centros acadêmicos. Ligado ao PT, CUT, PCdoB, PCB. É o que antigamente chamaríamos de esquerda raivosa.

Coutinho soube se reinventar. Deixou de lado o estilo, digamos, ‘forte’, (alguns diriam que nem tanto) e tem conseguido aliados, enquanto perde outros. A reinvenção foi tanta que agora está aliado à ala mais a direita (se é que ainda dá para falar assim hoje em dia), o ex-governador Cássio Cunha Lima e o senador Efraim Morais. Aguinaldo Ribeiro, Ricardo Barbosa, Carlos Dunga, são outros nomes hoje próximos do ‘Mago’.

RC tem feito uma administração de resultados à frente da Prefeitura de João Pessoa, tirou ambulantes das calçadas, embelezando a cidade. Ordenou as barracas da orla e está mudando a calçadinha. Deu outro visual a feirinha de Tambaú, construiu o terminal de integração (talvez sua maior obra para o povão). Fez o Estação Ciência, reformou praças, inclusive colocando aparelhos para ginástica em muitas delas (sua segunda maior obra para o povão). Acabou de inaugurar a Estação Digital, com acesso gratuito à internet em 30% da cidade, fez escolas, reformou e construiu PSFs e, apesar das brigas da oposição com a secretária da Saúde Roseana Meira, tem feito uma administração na saúde interessante, principalmente no quesito dos programas voltados para áreas específicas, como soro positivos, fumantes, pessoas portadoras de distúrbios mentais, etc. No quesito saúde, assim como na educação, talvez falte mais, mas não dá para negar que muito tem sido feito.

Esse panorama nos leva as recentes pesquisas. A última causou alvoroço. A Pesquisa Vox Populi/Correio para o Governo da Paraíba indica Maranhão com 44% | Ricardo 32% | Cícero 8% | Branco/Nulo 7% | Não sabe 9%. Já na Consult Maranhão surgia com 40,1%. Ricardo Coutinho com 32,6% e Cícero Lucena com 8,7% das intenções de votos. Vale ressaltar que no ano passado a pesquisa do Ibope, encomendada pelo Jornal da Paraíba, chegou a registrar empate técnico entre RC e Maranhão. O primeiro com 38% e o segundo com 37%. Num segundo turno RC ganhava em todos os cenários.

Todos sabemos que as pesquisas mostram apenas um retrato, de áreas específicas e momentos específicos e, claro, elas revelam um certa tendência, mas não significam um resultado. Em 2006, a Consult em vários momentos trouxe pesquisas indicando a vitória do governador José Maranhão, mas o resultado obtido nas urnas foi diferente. A mudança pode ter acontecido nos momentos finais? Pode, mas o retrato aferido pela pesquisa poderia estar equivocado? Também pode. Justamente porque a pesquisa é um retrato, de uma determinada região e de uma parcela da população. Por isso, a pesquisa deve ser tomada com ressalvas tanto pela ala 'Já Ganhou' do grupo maranhista, quanto para os aliados de RC que podem arriscar um 'Já Perdeu'. Uma amiga minha garante que a única pesquisa confiável é a da Data Folha... Como eu também desconfio da Folha... melhor esperar.

Há muita água para rolar ainda. No momento podemos entender o seguinte: acreditando piamente nos números apresentados: RC parou de crescer e Maranhão ganhou musculatura. Isso significa que talvez o estrago de Cícero Lucena na campanha de RC seja maior do que o esperado. Talvez a transferência dos votos de Cássio para RC não seja tão certa assim, ou não está suficientemente claro que os dois políticos agora estão unidos no projeto político para o estado.

Em contrapartida, Maranhão tem feito o dever de casa de forma quase impecável.

Mas uma coisa é certa, haverá muita sujeira sendo jogada no ventilador nessa eleição. Creio que os dois lados estão se municiando. Por isso, volto a dizer, caros leitores, olhem e vejam, não se deixem enganar. Não andem como cegos em tiroteio, juntem os dados e pesem o passado e o presente de cada candidato. No fundo, seria tão bom ver apenas os resultados das administrações e escolher o melhor. Será que não pode ser simples assim algum dia?

Scorsese volta à forma com ‘Ilha do Medo’


Durante muito tempo fui um grande fã do diretor Martin Scorsese. Essa admiração pela obra do novaiorquino do Queens surgiu com filmes como ‘Caminhos Perigosos’, ‘Taxi Driver’, ‘Touro Indomável’, ‘A Última Tentação de Cristo’, ‘Os Bons Companheiros’ e ‘A Época da Inocência’. Scorsese tem tentado reencontrar sua grande forma novamente sem conseguir o mesmo resultados dos seus grandes filmes – para mim, com altos e baixos, o período foi finalizado com ‘A Época da Inocência’, com um breve suspiro irregular em ‘Kundun’ e outro em ‘O Aviador’.

Vale ressaltar que o cineasta teve seu fundo do poço em épocas distintas, tanto é que filmou coisas pavorosas como ‘Guangues de Nova Iorque’ e ‘New York, New York’. Mas sempre mantive a fé. Qual não foi minha surpresa ao ouvir que o descendente de italianos tinha acertado a mão. Então, fui assistir o novo ‘Ilha do Medo’ com toda essa expectativa. O que não é uma boa para nenhum cineasta.

Quem acompanha as obras de Scorsese sabe de suas obsessões, tanto religiosas – ele é ex-seminarista – quanto do mundo do crime – ele e Robert De Niro viveram num bairro violento – tipo Padre Zé, Alto das Populares, Mandacarú, Renascer – num tempo em que era fácil ver um presunto esfaqueado ou baleado na porta de casa ou no meio da rua.

Bem, ‘Ilha do Medo’ é thriller psicológico, talvez o primeiro de Scorsese. Agora não consigo lembrar de nenhum outro (não vejo 'Cabo do Medo' como thriller psicológico) e por isso as obsessões do diretor caminhem por outros labirintos neste filme. Mas também estão lá. O filme começa com um barco saindo de uma neblina densa e o personagem central, Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) a beira de uma pia, com enjôo, afirmando para si mesmo: ‘controle-se Teddy’.

Teddy, intepretado por um DiCaprio cada vez mais encarnando com mestria seus personagens, é um policial federal que investiga o desaparecimento de um paciente num hospital psiquiátrico para assassinos, e tem como ajudante o novato Chuck Aule (Mark Ruffalo).

Essa seqüência inicial, já avisa que Scorsese irá assumir um certo tom romanceado no filme, calcado na adaptação da obra ‘Paciente 67’, de Dennis Lehane. Outra dica, é quando vemos a ilha pela primeira vez, a música de suspense vai num crescente grandiloqüente, seguindo até a entrada do hospital. Levando ao expectador a sensação que algo de muito grave acontece ali dentro.

No filme, Teddy, que guarda um trauma profundo pela perda da esposa, desconfia que os médicos realizam experiências radicais com os pacientes, envolvendo métodos ilegais e anti-éticos, algumas experiências semelhantes ao que aconteceu nos campos de concentração nazista. Enquanto busca resolver o caso do desaparecimento da paciente, Teddy tenta descobrir mais informações, mas enfrenta a resistência dos médicos em lhe fornecer detalhes do que acontece no local.

O suspense vai num crescente, num emaranhando onde Teddy começa a ter alucinações com a esposa morta e é questionado sobre sua própria sanidade. Quando um furacão deixa a ilha sem comunicação e diversos prisioneiros conseguem escapar tornando a situação ainda mais perigosa.

Com atores como Ben Kingsley (Dr. John Crawley), Emily Mortimer (Rachel Solando)
Michelle Williams (Dolores Chanal) e Max Von Sydow (Dr. Jeremiah Naehring), além dos já citados, o filme constrói um intricado jogo de gato e rato que muda a opinião do expectador a respeito dos personagens a todo instante. Quem está com a verdade e o quê de fato acontece no hospital é uma pergunta que cada expectador tem que resolver sozinho e esse é o grande trufo de Scorsese.

O filme se passa da década de 50, logo após o fim da segunda guerra mundial e o horrores do holocausto – quando milhões de pessoas, principalmente judeus, mas também homossexuais, ciganos, deficientes físicos e mentais, foram exterminados – e questiona quais os métodos para lidar com um paciente que não tem valores morais e é capaz de cometer atrocidades. Visualmente belos e instigantes, os delírios e alucinações de Teddy compõem esse jogo que é estabelecido com o expectador. Num quebra cabeça eletrizante, ainda que o suspense seja mais psicológico.

O cineasta retorna com ‘Ilha do Medo’, à grande forma e desde já coloca o filme na lista dos seus melhores.

Leia os últimos parágrafos só se tiver visto o filme

Não pude deixar de lembrar de ‘O Sexto Sentido’, nesta nova lição de Scorsese, mas com um adendo a mais. Existe uma profunda lição moral do que significa viver, e escolher viver, com a consciência de um erro fatal, aí está, mas uma vez, a obsessão religiosa e ao mesmo tempo o fascínio pelo crime de Scorsese.

No final, no filme, a escolha é uma incognita. Ficamos na dúvida se Teddy escolhe conscientemente a lobotomia por acreditar que é melhor ‘morrer como homem bom, do que viver com a consciência de um monstro’, ou escolhe a lobotomia, porque não há saída. Conhecendo Scorsese, fico com a primeira opção.

Para corroborar esta visão, é interessante analisar os pontos do longa que confirmam a construção do roteiro no sentido de libertar Teddy da paranóia, e da ilusão de que está no hospício a trabalho. Idéias propostas por Scorsese e pelo roteirista Laeta Kalogridis. Estão lá a inabilidade de Chuck com a arma, o que denuncia que ele não sabe utilizá-la. A tensão dos policiais que vigiam o hospício na chegada e na presença de Teddy, o que mostra que eles temem Teddy. A falta de interesse em procurar a desaparecida, os policiais parecem entediados na busca. Eles sabem que ela não desapareceu.

A história composta pela paciente desaparecida, uma mulher que afogou os próprios filhos, é explicado que ela criou uma ilusão por não suportar a realidade, o mesmo que o personagem vivido por DiCaprio fez. Teddy também passa a carregar fósforos, simbolizando a composição de sua própria paranóia, um incendiário que teria tocado fogo no prédio onde a esposa morava. A esposa aparece - numa cena belíssima - queimada e encharcada ao mesmo tempo, se a esposa morreu sufocada num incêndio, porque aparece molhada?. A cena em que Teddy alucina vendo a paciente que lhe pede ajuda para terminar de matar os filhos, porque ele ajudaria a matar os filhos da paciente e o que ele tem a ver com a historia dela? A cena só teria sentido se houvesse alguma relação entre as duas histórias. Também, em toda a busca pela ilha, Teddy não consegue encontrar as tais salas de experiências

Ainda é inteligente os cortes abruptos, que parecem sempre voltar na mesma cena, num momento inadequado, como se houvesse um erro de montatem. Os retornos dão outras pistas na história. Para mim, este é um dos melhores de Scorsese. O diretor mostrou que é possível entrar e ver a mente de um homem perturbado.

Há salvação fora da relação hetero


Publicado orinalmente em dezembro de 2008

O Papa Bento XVI veio mais uma vez a público condenar a relação homossexual. Não é a primeira vez que o maior líder da Igreja Católica no mundo se levanta contra as relações entre pessoas do mesmo sexo. Relações que existe desde os primórdios da humanidade e foram registradas entre egípcios, gregos, romanos, muçulmanos, judeus... Vi a declaração no Jornal Nacional, na noite de ontem, 22 de dezembro. Os âncoras da Globo (dois homens) foram lacônicos, não comentaram e deram a notícia em meio as mensagens do Papa.


Pensei nos pais ouvindo aquilo e posteriormente orientando seus filhos, perpetuando o preconceito que cada vez mais se dilui numa tendência a homogeneização do masculino e do feminino na moda, profissões, na política e nos casamentos. Os homens e as mulheres cada vez se parecem mais e trocam mais tarefas. Esse é o lado bom dos novos tempos.


Pensei no que leva um homem a orientar o seu rebanho dessa forma. Para mim, ao contrário do que prega o dogma católico, o papa é falível – basta lembrar quando a Igreja já foi a favor da segregação racial e chegou a admitir, ou pelo menos não se pronunciou contra, a idéia de que os negros não tinham alma, que os índios eram seres inferiores. A Igreja também silenciou e, em alguns casos, foi conivente com o regime nazista e fascista na perseguição aos judeus, homossexuais, ciganos...


O cardeal Joseph Ratzinger ao fazer essa declaração diz que a salvação da humanidade está na relação heterossexual. Ele considera, sem dizer textualmente, o homossexualismo como uma espécie de degeneração moral e social.


Parece que voltamos ao tempo da Idade Média e todo o avanço nos direitos humanos foi jogado no lixo. Felizmente, a separação da Igreja e do Estado já é uma realidade sem volta, na maioria dos países do mundo e alguns dos seguidores do catolicismo, das igrejas evangélicas, muçulmanas e judias conseguem ser mais coerentes com a mensagem de amor e paz de seus livros sagrados do que seus maiores expoentes.


Conheço inúmeros casais gays, de homens e mulheres. Alguns felizes, outros não, alguns fieis, outros não, alguns morais e outros amorais, exatamente da mesma forma que existem casais heterossexuais. Todos buscam um quinhão de felicidade e os homossexuais ainda precisam ter a coragem de enfrentar pais, irmãos, amigos e a sociedade para se posicionar com orgulho – porque não – sobre a sua "escolha" sexual.


Digo "escolha" porque já é sabido hoje que não existe escolha alguma. A orientação sexual, ainda que possa receber, em certa medida, influência do ambiente social, é determinada por um fator genético e da alma. As pessoas já nascem com esse, digamos, impulso. Assim como os homens e mulheres heterossexuais já nascem com seus impulsos sexuais pré-determinados. Os pais, a educação, o meio ambiente, podem refinar esses impulsos. Mas reorientá-los será sempre ir contra a natureza primeira. Aquela natureza que vai definindo quem e como será a criança no futuro. A definição que atua nos primeiros sete anos de vida e se fundamenta na adolescência.


Essa reeducação, em todos os casos que já ouvi e tive acesso, acarretou sofrimento, frustração, dor, culpa, medo e muita infelicidade. Alguns homens e mulheres conseguiram frear seus impulsos, parando de exteriorizá-los, mas na intimidade se flagram em pensamentos e até em atos aos quais se culpam mortalmente. Talvez esses sejam alguns dos casos dos padres e freiras que buscam no conforto espiritual uma fuga de desejos repreendidos. Não estou dizendo que essas pessoas são melhores ou piores do que outras que resolvem viver e admitir, com naturalidade, como são, apenas que essa decisão cabe a cada um e os outros, a sociedade incluída aí, não deve pressionar ninguém sobre qual direção tomar.


A questão principal aqui é: porque um Sumo Pontífice – o nome significa alguém que deve construir pontes entre o mundo visível e o invisível – conclamaria seus fieis a uma luta que gera tanto desamor, principalmente numa época onde deve ser comemorado o nascimento do Cristo e sua mensagem de um Pai fraterno, amigo, amoroso e próximo de todos?


Vale ressaltar ainda que o próprio Cristo não deixou nenhuma orientação de negação sexual neste sentido. As orientações mais claras neste sentido foram dadas pelo apóstolo Paulo, que não conviveu com Cristo, é bom que se diga, e que pode sim ter cometido seus excessos. Afinal, nós, pobres mortais, nos equivocamos nos julgamentos, voltamos atrás e pedimos perdão. Assim como a Igreja já fez em vários momentos da história recente.

Consciência...

Tenho uma vida que escorre
percorre a via láctea e se derrama
além do firmamento que os olhos alcançam
além da imaginação dos viajantes

Tenho um pensamento que balança
vibra e brinca dentro de mim
quer fazer cócegas nos meus olhos
quer me acordar.
'Acorda, acorda'. Ele diz....

Tenho um corpo que pede
sente e se contorce
quer o prazer imensamente
arde de desejo feito pimenta....
adora quando a água percorre suas curvas
suplica pelos beijos dos teus lábios

Sou uma alma que dança
Ou procura a dança, a música?...
Há uma música?...
Sim, há uma música

Eu a escuto, mas também me perco dela
mas ela canta, vibra, dança, sussurra dentro de mim
Sou uma alma dentro de um corpo,
que tem pensamentos, sentimentos e uma vida

Sou uma alma que tem um ego
que abre os olhos, fala, anda e pensa que é Paulo...
Sou uma alma que olha pelos olhos,
vê e reconhece, fala, mas ninguém escuta
Sou uma alma que toca o corpo, o ego, as emoções e os pensamentos
e tira (bem aos poucos) uma melodia desse conjunto...

domingo, 28 de março de 2010

A sensação do Roubolation


Nesta semana, na segunda (22), um colega de trabalho me apresentou o vídeo feito pelo comediante Cláudio Elias, do programa Bola da Vez, da TV Miramar. O moço fez uma paródia em cima da música originalmente de Marcow Pinto, Roubolation. Marcow tinha feito uma paródia com uma música que estourou no carnaval, o Reboulation. A paródia aproveita a proximidade das eleições para cair de pau nos políticos.

Não salva ninguém, como todo bom comediante que tem uma verve niilista. A ‘música’, que era uma bobagem, agora ganha no humor. Cláudio Elias de terno, junto com um coadjuvante, cantam ‘O Roubolation’ em frente ao Palácio da Redenção. “Bote a mão na carteira que vai começar. O roboulation. O pegadation. O prometation. O enganation”. Cada palavra ‘americanalhada’ é acompanhada do seu respectivo gesto.

A música é repetida em frente a Assembléia Legislativa do Estado e da Prefeitura Municipal de João Pessoa. A mensagem é clara. “Alô, minha galera, preste atenção o roboulation é nova sensação (cenas do escândalo Arruda, do DF). Quem tem 15 (anos) fica de fora que vai começar a eleição. O seu voto é bom, é gostoso demais. Mulheres na frente, homens atrás e a mão na carteira que vai começar. O roboulation é bom, é bom, bom. Se você confirmar fica melhor. A mão na carteira que vai começar...

Melhor rir que chorar, dizem alguns. A ex-ministra do Turismo achava que o bom era ‘relaxe e goze’, outros ainda tripudiam: ‘se o estupro é inevitável, relaxe’. Talvez seja verdade, quando se trata de auto-preservação. Mas a gente pode ir um pouquinho além.
É verdade que Cláudio Elias não poupa ninguém, Estado, Prefeitura ou deputados. Ou quase ninguém, se era para atacar os poderes, ficou faltando a Justiça. Tudo bem, não é uma crítica as relações incestuosas e imorais entre os nossos poderes, que são capazes de ações indecentes para se auto acobertar.

Não, o vídeo de humor fala apenas de como somos acossados pelos políticos em época de eleição. É aperto, abraço, beijinho, carinho, promessa, presentes. Todos mostram resultados e garantem que são capazes de realizar mundos e fundos. Caros, nem tanto ao céu, nem tanto ao mar.

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, prometeu implementar projetos com apoio do Governo Federal, objetivando realizar parcerias para realizar obras estruturadoras para o Estado, como a Transnordestina, a Refinaria de Petróleo Abreu e Lima em Suape, a Hemobrás e a recuperação da BR-101. Parabéns, ele tem conseguido avançar. Vai acabar o mandato com as promessas em dia. Esse será um dos motivos que o fará ser reeleito. Mas alguns podem dizer, com um Pernambucano no altar do planalto é fácil... É verdade, não dá para comparar com Eduardo Campos. Ele é uma excessão a regra. As promessas, normalmente vem e vão fácil.

Mas a verdade é que dá para fazer muito, mas desconfie de números muito grandes, de promessas muito extensas, de revoluções completas. Porque as intenções até podem existir, mas não se faz uma revolução apenas com boas intenções, é preciso apoio efetivo. Afinal, alguém tem que ir para a rua, levantar a bandeira, fazer pressão e, se for preciso, levar o pau no lombo, se é que entendem a metáfora.

Quero dizer que ‘de boas intenções o inferno está cheio’, diz o ditado. Mas para que as coisas mudem é preciso que a população queira mudança, de outra forma, continua tudo como está.

Eu já trabalhei com o DEM, PP, PMDB, PT, PSDB, Sindicato de empregados e patronal, para governo e oposição. Sei que todos temos nossas preferências entre as esquerdas e direitas da vida. Simpatizamos mais com um ou outro jeito de fazer, pensar e até falar as coisas. Uns gostam mais do vermelho, outros do verde, amarelo, e tem gente que prefere o laranja. Gosto de todas as cores e cada vez mais descubro que não dá para viver sem nenhum delas.

Em relação ao Roubolation real. Existe corrupção em várias instâncias da sociedade, mas é a própria sociedade quem alimenta a corrupção. Não dá para deixar de ter isso em mente. É a filosofia do ‘é dando que se recebe’, do jeitinho, do caminho mais rápido, da burocracia excruciante e humilhante, da percepção que o político tem e para eu colocá-lo no poder ele DEVE ME AJUDAR.

Acho até que o político pode ter o papel facilitador, porque afinal ele muitas vezes sabe qual é o caminho das pedras dentro dos governos, mas sua ação deve cada vez mais estar disseminada no coletivo. Deve ser uma ação a que todos possam recorrer. Uma ação institucionalizada. Entendam, não estou falando de institucionalizar o clientelismo, mas o serviço prestado a população. Se o serviço pode ser prestado a qualquer um, o político deve pensar, então pode ser feito, mas se só poderá ser particularizado, é melhor dar um passo atras.

Claro que sempre haverá excessões. Principalmente num país onde a pobreza e a falta de oportunidade ainda é uma realidade dura. Por isso, não consigo ver erro numa família chegar ao governador e pedir ajuda para salva a filha que precisa fazer uma cirurgia de alta complexidade e que custa os tubos. Muito menos o governador, usando os meios cabíveis, fazer algo por essa família. Ainda que o ideal seria que a família não precisasse recorrer à nenhuma autoridade, e seguindo os meios corriqueiros alcançasse seus objetivos. Porque ao permanecer essa atitude partenalista, sempre ficará a impressão que a ação não foi do governo, mas do governante.

Agora se vc quer saber se nossos políticos enriquecem no poder? Se melhoraram substancialmente de vida, além do que seria razoável ? Ai cabe ao eleitor pesquisar e descobrir, ficar atento. Porque ‘não há nada que esteja oculto, que não venha a ser revelado’. E as nossas vidas nem estão ocultas, estão apenas guardadas em segredo e o segredo é mais fácil de revelar que o mistério, vá por mim.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Um ‘AntiCristo’ equivocado


Antes de tudo, devo confessar que nunca consegui ver um filme de Lars Von Trier. Os acho chatos além da conta e extremamente metidos a intelectualismos (o sufixo ismo é intencional). Por isso, não posso falar da auto-referência do diretor em ‘Anticristo’, apenas de minhas próprias impressões.

Pensei que o diretor tinha feito o filme quando estava deprimido, devido a alguma separação conjugal. A primeira alternativa está correta, a segunda não. Von Trier não se separou da mulher. Essa talvez tenha sido a minha desculpa para o nível de ódio que o filme carrega do feminino. Para mim, só poderia ser algo concreto, pode ser algo assim, mas parece que errei o alvo. De qualquer forma não serei eu o primeiro a acusar o diretor de misoginia.

Bem, no filme do moço há referências claras a Bergman, mas sem o mesmo grau de profundidade do diretor sueco. A impressão que dá é que Lars Von Trier usa símbolos arquetípicos apenas para embasar suas teorias equivocadas. Mas vamos a história.
Na cena inicial – chamada de prólogo por Von Trier, que divide o filme em partes claramente definidas - vemos um homem e uma mulher, interpretados por Charlotte Gainsbourg e William Dafoe (ótimos), fazendo sexo. Uma cena com direito a penetração explícita feita por dublês pornôs. Enquanto os dois transam, o filho sobe num móvel e avança pela janela aberta do primeiro andar, caindo para a morte. Na hora da queda, a mulher chega ao ápice do prazer na cama. Essa a primeira dica de Von Trier sobre o quê virá a seguir e qual é o AntiCristo da história.

Depois disso, a mulher entra em depressão e o marido, um psicanalista autoritário e egoísta, resolve ele mesmo fazer o tratamento da mulher. Ele, com o intuito de vencer os medos da esposa, decide levá-la para uma floresta (chamada Éden) onde os dois têm uma cabana. Pronto, está armada a base mítica do cineasta. Adão e Eva no Paraíso.

Aos poucos, o marido vai desvelando o medo da mulher em relação a natureza, a obsessão pelo sexo, quase como uma forma de abreviar o sofrimento, e a forte culpa que ela guarda. No decorrer da fita, a mulher ainda faz evocações a presença de Satã na natureza, enquanto ela mesma vê o mal personificado em si, como exemplo último dessa natureza perversa. Na cabana, também somos inseridos nos estudos de uma tese que eram feitas pela mulher antes do acidente com o filho: A perseguição sofrida pela mulher na história da humanidade, quando muitas vezes foi queimada como bruxa.

Assim, vamos sendo guiados por cenas de masturbação física e mental – intelectualmente falando, mutilação genital, tortura e assassinato. O filme não é de terror, mas as idéias são. Lars Von Trier diz que não tem ódio da mulher, mas é difícil acreditar ao vermos o seu arco dramático. Ele mesmo já disse que em seus filmes os personagens masculinos são meio tolos, e na sua imensa prepotência assim é com o personagem de William Dafoe, um Adão tolo num ‘paraíso’ onde a natureza mostra suas garras perversas de fêmea a todo instante, enquanto o homem acredita que entende e tem poder sobre o surto da esposa, que se torna cada vez mais violenta.

No filme, Von Trier deixa transparecer que a mulher é a grande vilã e sua vilania cresce a medida em que ela descobre o seu próprio poder e prazer. Na verdade não é a mulher a vilã, nem o Anticristo, mas o feminino, um conceito que engloba muito mais coisas.

Todavia, ao se apoderar dessa idéia religiosa, que remonta a Adão e Eva, ao mito de Lilith e a queda do Paraíso, o moço faz uma leitura tacanha dessa realidade mítica e mística. Ele esquece, ou não sabe, ou prefere não dizer, de qual macho a Bíblia fala quando se refere a Adão. Não é o homem ensimesmado, egocentrado e unidimensional vivido por William Dafoe (e não estou falado da interpretação, mas da essência dentro da história). É um homem nascido do princípio masculino.

Mas não vejo Lars Von Trier preocupado com esse tipo de discussão, ele pensa muito mais em como o feminino carrega o mal em todo seu processo criativo e destrutivo. Em como esse feminino faz os homens seus reféns no sexo, em como os homens são afastados dos rituais que só dizem respeito as mulheres, em como os homens, não temos vez no nascimento, que só pode ser concebido pela mulher. Parece uma imensa queixa exteriorizada no desejo de sufocar (literalmente) a mulher, que barbariza o homem em sua masculinidade e dignidade.

Só me resta uma única certeza. Lars Von Trier deve ter tido sérios problemas com as mulheres ou, sei lá, com seu lado feminino (?). Recentemente, o cineasta informou que fez algumas experiências xamânicas, afirmou que seu animal interior é uma Lontra e que a fala da raposa no filme foi pedido de uma raposa em uma de suas visões durante os 'transes'. No filme, fica a impressão que o cara surtou e misturou vários assuntos. Sinceramente, minha impressão é que ele precisa de ajuda urgente, a mente anda meio perturbada. Ainda bem que ele faz terapia e parece que já saiu da depressão (ele detonou com os terapeutas no longa)...

Mas o mais estranho são os críticos (muitos) que viram no filme uma obra prima. Para mim, a melhor explicação sobre a obra está nas cenas do filme onde Von Trier repete que 'o caos reina'. É verdade, o caos reina, na história, na cabeça do cineasta e em todo lugar, principalmente na vida real. Assim como reina nas nossas obras de arte modernas que não dizem nada, são apenas conversas solitárias e vazias que levam apenas a becos sem saída, concebidas por mentes mergulhadas no poço da depressão.

Alguém tem que dizer para ele que dentro de um poço, muito fundo, não dá para ver nada, só escuridão. Tem que subir mais um pouquinho para respirar outros ares e conseguir ver a luz do sol.

Apesar de tudo, parece realmente o melhor filme dele. Pelo menos consegui ver até o final. E ele ainda disse que era romântico... A idéia de romantimos para ele, então, é a solidão.