quarta-feira, 20 de julho de 2011

CURSO ONLINE, INTERATIVO e GRATUITO de KABALAH!

Estou postando aqui o início do Curso de Kabalah da AD'OR. Para todos que desejam descobrir um pouco mais sobre si mesmos, sobre o sentido da vida e estão buscando se entender, entender o mundo, a vida, o amor. Para aqueles que têm perguntas e não conseguem respostas, mas não deixam de buscar...
A Kabalah revela um esquema de evolução espiritual e explica muita, muita coisa sobre o propósito da Criação.



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terça-feira, 19 de julho de 2011

Agentes do Destino: Quando o amor e o ideal parecem contrários

O filme Os Agentes do Destino (The Adjustment Bureau/2011) foi rodado a partir do conto “Adjustment Team” do escritor de ficção científica Phillip K. Dick. Antes de começar a falar do longa, propriamente dito, cabe aqui uma pequena nota sobre o escritor, uma verdadeira mina para Hollywood no quesito filmes de ficção científica. É de uma adaptação de um conto de PKD, como ele também é conhecido, que se originou um dos mais belos filmes do gênero: Blade Runner – Caçador de Andróides. O filme lançado em 1982, com inesquecível trilha sonora do Vangelis. O ano, por sinal, foi o mesmo da morte do autor, devido a um AVC.

Mas há outros filmes famosos que beberam da fonte do escritor, caso de O Vingador do Futuro, Screamers: Assassinos Cibernéticos, O Impostor, Minority Report: A Nova Lei e O Pagamento.

PKD viveu numa época de muita paranóia norte-americana, a famosa caça as bruxas – o escritor era filiado ao partido comunista. Nos seus livros ele buscava inspiração em ideias do Budismo, Kabalah, Gnosticismo e outras doutrinas herméticas. Também combinava tudo isso com certos aspectos de crenças na parapsicologia, extraterrestres e percepção extra-sensorial. Philip chegou a alegar ter sido contatado em 1974 por uma inteligência alienígena. O escritor chegou a estudar filosofia, mas abandonou o curso antes de terminar.

Devo ressaltar que não conheço o conto original que deu origem ao filme Os Agentes do Destino, mas fica claro para mim que o material é de primeira grandeza.

A história: David Norris (Matt Damon) é um jovem político com uma carreira promissora e em ascensão. O filme começa quando ele está à beira de uma campanha que o levará ao Senado. Contudo, um escândalo atrapalha a sua trajetória. Tão logo perde a disputa pela vaga ele conhece Elise (Emily Blunt), uma mulher misteriosa por quem se apaixona. É aí que ele é apresentado a alguns homens com estranhos poderes que podem interferir no futuro. Esses ‘seres’ começam a pressioná-lo para que ele não dê continuidade a este romance, porque isso poderá atrapalhar o futuro de ambos. A partir daí não dá para contar muito mais sem estragar a história.

No decorrer de todo o longa, há uma deliciosa discussão sobre Livre Arbítrio versus Destino Determinado. Na verdade, para mim, o filme é isso: a própria discussão. Já ouvi alguns defendendo que viram apenas a história de amor. Discordo. A história de amor, ainda que extremamente valiosa no contexto da narrativa, não é o ponto principal.

A película não tem grandes arroubos de direção, nem de atuação, ainda que Matt Damon (Gênio Indomável e O resgate do soldado Ryan) e Emily Blunt (O Lobisomem e O Diabo Veste Prada) estejam especialmente bem. A química entre os dois é muito boa. Outro ponto forte é a dinâmica do filme, uma mistura bem orquestrada entre drama, ficção científica e ação.

O diretor George Nolfi nos faz questionar qual será a melhor escolha para os dois: manter a relação e vir a não realizar seus potenciais ou seguir separados e dar ao mundo tudo que lhes é predestinado dar. David e Emily vão conseguir driblar um destino que busca a perfeição em ambas as vidas, mas que projetou uma realidade separada para eles? Uma realidade diferente seria justo para com eles próprios? E para as outras pessoas que poderiam ficar privados de seus dons? Até onde podemos arriscar egoisticamente?

O filme nos remete inevitavelmente a idéias já abordadas em Matrix e A Origem – não somos donos do nosso destino e nossa vontade. Há uma fala de um dos Agentes que é esclarecedora nesse aspecto. Algo assim:

“Nós os guiamos até o final do Império Romano e depois os deixamos a sua própria sorte e vocês deram ao mundo séculos de uma idade média. Nos aproximamos de novo, trouxemos o Renascimento, o Iluminismo, a Revolução Industrial e achamos que vocês poderiam ir sozinhos. E vocês mergulharam o mundo em duas grandes guerras”.

A ideia exposta aí não é necessariamente que não existe o Livre Arbítrio, mas que não sabemos fazer escolhas. Na Kabalah, de onde o filme também tira alguma de suas idéias, existe o Livre Arbítrio, mas de uma forma bastante peculiar. Podemos fazer escolhas, porém o destino é um só: fazer a vontade do Criador.

Nesta concepção, até quando o filme expressa o amor como um gérmen do caos na ordem que já foi determinada pelos Agentes do Destino – uma ordem que busca o máximo da perfeição daquelas vidas naquela sociedade – o longa mostra que o amor não modifica o resultado final, antes disso, acelera. Porque acrescenta uma vontade e uma escolha consciente, onde antes só havia inconsciência...

O filme é conduzido por George Nolfi roteirista de O Ultimato Bourne e Doze Homens e um Novo Segredo que faz neste longa sua estreia como diretor. Também estão no elenco Anthony Mackie (Guerra ao Terror), Terence Henry Stamp (Superman e Teorema) John Slattery e Anthony Ruivivar (ambos da série Law and Order). Recomendadíssimo.

Sobre homens, heróis e deuses

No filme X-Men - Primeira Classe (X-Men: First Class/2011), viajamos no tempo e descobrimos o início de tudo... Nesse princípio, a câmera mostra Erik Lehnsher (enquanto criança Bill Milner e quando adulto Michael Fassbender), que será Magneto no futuro. O menino é um judeu franzino, que foi separado dos pais num campo de concentração polonês e alvo das vilanias do comandante Sebastian Shaw (Kevin Bacon). Na primeira cena em que o poder de Erik é revelado – ele consegue atrair e mover os metais – quase meia dúzia de soldados nazistas são arrastados pelo menino que não quer se separar dos pais. Tudo sob os olhares de Shaw que a partir daí resolve se utilizar do garoto, não sem antes fazê-lo viver uma cena profundamente cruel e que lhe marcará para o resto da vida. Uma vida que será pautada pelo desejo de vingança, pelo ódio e raiva.

Outros dois personagens centrais surgem numa realidade completamente oposta. Numa casa tão rica, que chega a ser opulenta, encontramos o menino Charles Xavier (interpretado quando criança por Lawrence Belcher e na fase adulta por James McAvoy). Xavier acorda no meio da noite e sai empunhando um taco de beisebol enquanto desce as escadas de sua mansão castelo em direção a cozinha. Lá, encontra o que parece ser sua mãe. O menino tem a capacidade de ouvir pensamentos, lembranças e induzir pessoas. Assim, Xavier vê a mulher e sabe que não é a sua mãe. Antes de ser a descoberta do pavor, essa é a chance de ver que existe um outro ser igual a ele. Aí se revela Mística (interpretada quando criança por Morgan Lily e quando adulta por Jennifer Lawrence), uma menina de pele azul e com a capacidade de se metamorfosear em quem quiser. Nossos personagens crescem nesses universos opostos.

Termina a segunda guerra mundial e o mundo parece que entra imediatamente na Guerra Fria. Enquanto isso, Erik surge adulto, mas ainda acorrentado as lembranças de criança. O personagem começa a empreender uma viagem em busca de Sebastian Shaw. Quer realizar sua vingança. Na outra ponta da história, Xavier estuda a evolução genética e se forma com louvor. E Mística, agora apresentada como sua irmã, convenientemente na pele de uma adolescente comum, começa a se questionar como conseguirá se relacionar com alguém, sendo tão diferente. Como poderá ser aceita por um homem?...

As duas pontas dessa história vão ser ligadas pelo vilão Shaw. Os plano do ex-nazista irão unir Erik e Xavier. Eles se tornarão amigos, partilhando um laço profundo. Será essa amizade irá mudar toda a história dos X-Men, na verdade, construí-la de fato.

As diferenças dos dois parece que ajuda a solidificar ainda mais a união. Um pacífico (Xavier) e outro essencialmente destrutivo (Erik). É inevitável ver na relação dos dois algo afetivo, quase uma dependência. Há uma menção homoafetiva no final, quando Erik, resgata uma mutante que tem os mesmos poderes de Xavier dizendo: ‘meu amigo deixou um vazio que eu gostaria que você preenchesse’.

Mas o filme vai além disso... O longa trata da descoberta dar dor, antes de qualquer coisa. A dor vivida por homens e mulheres que não podem ser quem são, que escondem sua verdadeira natureza. E que muitas vezes nem as conhece. Mostra esses seres vivendo paradóxicos éticos. Sob a capa do super poder, há naverdade um profundo desejo de ser aceito e ainda vivem seus dilemas. Eles se perguntam se devem ou não ser como são. Usar ou não usar poderes sobre humanos em meio a uma sociedade belicista e altamente egoísta, que não pensa duas vezes em se ver livre do obstáculo, da ameaça. Ainda que essa ameaça tenha sido criada por ela mesma – vide Osama Bin Laden, Afeganistão, Irã, etc.

Só fazendo um adendo...Imagine pessoas que descobrem em si, lá dentro, uma realidade insuspeita pela maioria das pessoas. Percebam que expressar essa realidade seria expor o que muitos poderiam considerar uma espécie de desvirtuação do passo natural da natureza... Essa é uma das idéias que vêm sendo amadurecida na série X-Men, acrescendo, a cada episódio, um ingrediente a mais. A metáfora da descoberta da sexualidade, ou homossexualidade, é uma das mais comuns feitas à série. Mas há também a da perseguição dos judeus, dos negros, mulheres, comunistas, todos aqueles que precisaram em algum momento da história esconder o que pensavam ou quem eram para serem aceitos.

Neste filme, um ingrediente impossível de deixar escapar é como o vilão de toda a série, Magneto, surge como um grande protagonista. Como não entendê-lo? E aí é preciso destacar o trabalho de Michael Fassbender (Magneto), que constrói um personagem corroído, tenso, sensível e apaixonante. Que leva ao espectador a se questionar se ele não tem razão em seu desejo de destruir.

James McAvoy também consegue imprimir ao Professor Xavier muito mais realidade do que foi mostrado até agora. Com sua inteligência e capacidade de perscrutar a alma humana, Xavier mostra a benevolência, mas também a solidão. Contudo, talvez a grande surpresa seja mesmo Kevin Bacon, o seu vilão (Sebastian Shaw) é surpreendente e mostra que o ator conseguiu, enfim, ir além do jovem galã dos anos 80 de Footloose. Como últimas notas dignas de menção, estão Jennifer Lawrence que constrói uma Mística frágil, mas já com rápidos lances da ferocidade que lhe será típica no futuro. E Nicholas Caradoc Hoult, que constrói o Fera a partir de sua auto-rejeição. Nicholas já havia impressionado em Um Grande Garoto e Direito de Amar.


Talvez o mais surpreendente no filme seja que não há uma luta do bem contra o mal, mas uma luta entre deuses e homens. Os primeiros em permitir ou não a existência dos homens. Xavier aí seria Prometeu, o Titã que rouba o fogo do Céu para que a humanidade possa evolui, enquanto Magneto seria Zeus que em sua fúria nos dá o dilúvio. Enquanto isso os pobres mortais lutam entre si, se digladiam e se destroem.

domingo, 22 de maio de 2011

A vida e a subida da montanha


Sei que faz tempo que não escrevo aqui. Os dias têm sido muito intensos. Os acontecimentos não param. Isso não é uma reclamação, apenas uma constatação. Sei que tenho que fazer escolhas e vou fazê-las. Na verdade já fiz, mas é preciso paciência para implementá-las. Acho que vocês não estão entendendo... Não vou explicar também, desculpem-me. Estou apenas utilizando o espaço para desabafar.

A partir de hoje vou escrever aqui como se fosse um diálogo... talvez esteja mais para monólogo (rs).

Cada vez mais olho para vida e não vejo sentido na nossa sociedade, nos seus quereres, prioridades, nas suas lutas. Parece que não levam a lugar nenhum. Não é um pensamento niilista, é, mais uma vez, uma constatação. Há um vazio social excruciante, que chega a machucar. Mas, provavelmente, é esse vazio que vai nos levar a chegar a um novo patamar da existência em conjunto. Torço por isso...

terça-feira, 15 de março de 2011

Afinal, o mal existe?


Hoje minha mãe me disse que o Diabo existe, mas ele quer que pensemos o contrário.

Disse a ela que não. Não existe uma força oposta a Deus. Nada se opõe ao Criador.

Ela me disse que o padre falou disso hoje na missa. Que esse é um dos maiores enganos da humanidade. O mal existe, ela repetiu.

E eu voltei a dizer: o mal existe, mas não existe uma entidade que personifica o mal como a Igreja quer nos fazer acreditar. Pode até existir pessoas que acreditam nisso, espíritos que acreditam nisso, mas nada se opõe a Deus.

O teu pai pensa do mesmo jeito, ela disse. Mas ele existe.

Não mãe, eu disse, isso é blasfêmia. Nada se contrapõe ao Criador.

Nossa conversa foi interrompida com a chegada de meu pai. Na saída me despedi dela com abraço apertado e caminhei pelo sol quente até o ponto do ônibus. Fui para o cinema assistir ‘O Ritual’. O filme tratava exatamente desse assunto...

Um menino que nasceu e se criou numa funerária, preparando cadáveres para o enterro resolve fugir desse destino abraçando o sacerdócio. Antes da ordenação ele resolve abandonar a igreja, mas acaba sendo persuadido a fazer um curso para aprender sobre exorcismo em Roma. Se depois disso ele ainda quiser sair, será liberado.

Premissa aparentemente absurda.

Seria mais provável que alguém com crise de fé, e que usou a igreja como um refúgio de uma dura realidade, ao ser confrontado justamente com uma prática medieval, queira fugir mais ainda da Igreja. Para o clérigo que o manda para Roma essa é a oportunidade de ele, de uma vez por todas, sanar suas dúvidas a cerca de Deus e sua vocação.

Sentei na cadeira e embarquei na viagem a espera de ver a bela Alice Braga na tela. Mas Alice não foi páreo nem para o papel, nem para a discussão travada no filme, que para mim tinha um sentido mais profundo ainda.

Devo confessar que durante muito tempo me questionei sobre isso e fiquei esperando para ouvir o que o personagem e o diretor tinham a me dizer. Infelizmente, eles seguiram a velha cartilha do terror aprendida com ‘O Exorcista’: um homem cético, com crise de fé, ajuda um outro padre, mas velho e cansado, a exortar o dito cujo do corpo de uma adolescente.

A conclusão do ritual é a mesma conclusão do vaticano: se existe Deus, existe o mal, existe o Diabo.

Ouso dizer, o vaticano está errado, ou então está omitindo uma boa parte da verdade. Ainda acredita que é melhor manter seus fieis sob o cabresto de dogmas muito ultrapassados. É melhor incutir o medo a perder os fiéis. É melhor simplificara verdade, porque é muito mais complicado contar como tudo é realmente. Devem pensar...

Entendo que Deus está muito acima do bem e do mal. Tão acima que só podemos vislumbrar uma pálida luz de sua presença quando o olhamos sobre o prisma dessas duas forças. O bem e o mal são pólos que se completam e que tem a razão de existir um no outro, como todo pólo. O que seria do bem se não houvesse o mal para defini-lo. O que seria do mal se não houvesse o bem para demarcá-lo. O que me entristece é saber que a grande maioria das pessoas fica presa no emaranhado dessas duas qualidades e esquece o Criador e, infelizmente, a Igreja incentiva isso, principalmente nesses tempos de Ratzinger.

Quando era criança passei muito tempo me perguntando se eu era bom ou mal, se eu acreditava em Deus, ou no Diabo, se eu merecia o céu ou o inferno. Perdi muito tempo nesses conceitos que só me acorrentaram e trouxeram infelicidade a minha vida. Hoje entendo que esses conceitos servem apenas para nos manipular e diminuir.

Nós somos criados de luz e sombra, assim temos dentro de nós o que chamamos de bem e de mal, mas vivemos e vamos aprendendo a fazer escolhas para nós. É a qualidade de nossas escolhas, ou as intenções com as quais nós as fazemos, que vão acabar nos definindo. Ou melhor dizendo, definindo nosso destino. Definitivamente tem mais coisa entre o céu e a terra do que nossa vã filosofia pode alcançar...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Cisne Negro, a percepção da alma e do ego humano


O filme Cisne Negro (Black Swan/ 2010) mostra a maturidade completa do diretor Darren Aronofsky – há ecos claros de Stanley Kubrick, Roman Polanski e Brian de Palma na película, principalmente nas cenas de psicose, claustrofobia e no arco dramático vivido por seus personagens.

No filme, há também o esplendor da atriz Natalie Portman que já havia demonstrado sua força em Closer – Perto Demais (dirigido por Mike Nichols e lançado em 2005 no Brasil). Contudo, em Cisne Negro Portman se comporta e surge na tela como uma grande atriz.

A história é aparentemente simples. Beth MacIntyre (Winona Ryder), a primeira bailarina de uma companhia, está prestes a se aposentar. O posto fica com Nina (Natalie Portman), mas ela possui sérios problemas interiores, especialmente com sua mãe (Bárbara Hershey). Pressionada por Thomas Leroy (Vincent Cassel), um exigente diretor artístico, ela passa a enxergar uma concorrência desleal vindo de suas colegas, em especial de Lilly (Mila Kunis).

Winona Ryder faz uma ponta medíocre, longe da estrela que ela já demonstrou ser em Época de Inocência. Já Mila Kunis defende sua personagem de forma correta. Mas é o trio composto por Nina, a mãe e o diretor artístico que conduzirá a história.

A chave narrativa é a relação mãe e filha, recheada de tensão e sexualidade reprimida. Além da própria história da peça que será encenada a partir de uma visão particular do roteiro escrito por Mark Heyman. No Lago dos Cisnes, encenado por Darren Aronofsky, um bruxo enfeitiça uma princesa e seu séquito de acompanhantes as transformando em cisnes. Só um verdadeiro amor poderá trazê-la ao normal. É aí que um príncipe se apaixona pela princesa. Entretanto, quando o amor vai se concretizar o cisne negro (na verdade uma bruxa que se faz passar pela princesa) seduz o príncipe. Ao descobrir a traição e perceber a impossibilidade de ter de volta sua vida real, o cisne branco resolve se jogar num abismo para a morte, num vôo de libertação.

Na narrativa do filme a bailarina escolhida para fazer a rainha dos cisnes (que tem que fazer os dois papéis – o cisne branco e o negro) não mostra as características necessárias para fazer o cisne negro, mas sedutor, sexual e maléfico. Desta forma, a história se torna na narrativa da luta entre o cisne branco e o negro pela alma de Nina.

Darren Aronofsky ( do ótimo A Fonte da Vida) constrói uma homenagem à técnica e a capacidade do balé de nos arrebatar contando uma história emocionante através de dança e música. Mas, ele vai mais longe, para além da homenagem. Há também uma lente que perscruta e revela a busca extenuante e, às vezes, degradante por uma perfeição inumana.

Uma busca na qual, bailarinos, atores e até muitos de nós mergulhamos. As cenas mostrando os exercícios repetidos a exaustão e a pressão psicológica torturante que beira a loucura e a esquizofrenia, são um retrato fiel desses momentos particulares. Quem nunca viveu seus momentos de obsessão que atire a primeira pedra...

Outro feliz achado é a química entre Bárbara Hershey e Natalie Portman. Fazia tempo que não se via uma relação tão carregada de energia entre mãe e filha, pelo menos desde Carrie, a Estranha e Noite de Desamor (os dois filmes protagonizados pela excepcional Sissy Spacek).

Alem disso, o filme é praticamente todo construído a partir de percepções subjetivas, muito poucos fatos acontecem para compor o drama e embasar os sentimentos da personagem. Tudo surge dos desejos de Nina. È o mundo que ela vê, teme e busca fazer parte, assim como se defender, que é projetado. E Aronofsky dá a entender que esse mundo não é totalmente real.

Mas seria difícil que fosse real, já que Nina é criada num quarto de boneca, rosa, cheio de bichinhos de pelúcia, por uma mãe dominadora. Quase num conto de fada. E a mãe, que na cabeça de Nina é uma presença constante, está sempre a espreita, sondando, escutando os seus baques e gemidos, lembra mais uma madrasta má ou uma bruxa, que observa até através dos quadros. É uma mãe eternamente negra – notem como Bárbara Hershey sempre veste preto e Nina invariavelmente usa roupas mais claras, apresentando a primeira dicotomia entre o bem e o mal. A atriz faz uma mãe que nutre um misto de satisfação, inveja e posse. Que se sente ameaçada porque SEU objeto de prazer e realização quer assumir vida própria. Bárbara Hershey constrói seu personagem no detalhe, cada olhar, gesto, observação. Ela consegue estar presente mesmo ausente.


No filme, enquanto o clima de tensão se avoluma em casa, Nina começa a desabrochar seu desejo sexual. É como se a menina se digladiasse, quer se fazer mulher, mas também teme a fúria e a presença da mãe. O roteiro é magnífico ao fotografar esse momento e mostrar a inevitabilidade da tragédia que ronda Nina, que, para escapar das conseqüências de suas escolhas, prefere se partir em duas. O problema é que uma das partes a seduz, a machuca e provoca, assim como o cisne negro seduz e provoca o príncipe. Intrincado, não? Mas magnífico.

Todo o ato final do filme é arrepiante. O balé que levita, não toca mais o chão. Os efeitos especiais simples, que nunca roubam a cena, mas contribuem para dar mais veracidade a composição da personagem.

A fotografia é outro ponto alto, trabalhando com espelhos e sombras, insistindo na sensação de divisão, de um outro universo, como um negativo de um filme. A música arrebatadora de Tchaikovsky, a câmera, as vezes nervosa, outras vezes seguindo Nina em seus rodopios, e no exercício exaustivo da repetição. A montagem linear, mas ao mesmo tempo tensa. Tudo isso imprimem ao filme um universo que vai além da tela, sai do quadro...

A história da luta do Cisne Negro e do Cisne Branco dentro de Nina compõe pelo menos duas metáforas. A primeira, mais obvia, conta sobre a luta do bem contra o mal dentro de nós, da sedução e do sexo versus a castidade e a suavidade. É uma busca religiosa. A outra metáfora é sobre o mundo que nós enxergamos e como desejos e medos viram a própria realidade que nos consome, é uma busca ética.

No balé encenado no filme, o Cisne Branco, como uma alma aprisionada, busca o seu príncipe para libertar-se, mas sua parte obscura acaba corrompendo o seu próprio salvador e não resta outra alternativa a não ser encontrar outra via de libertação: a morte – na história original contada em quatro atos pelo compositor russo Tchaikovsky, quem morre é o príncipe, enquanto a donzela continua aprisionada ao seu corpo de rapina.

Darren Aronofsky construiu um filme que praticamente expressa um movimento religioso quando reflete a busca de Nina pela perfeição e olhamos o seu produto final: dois cisnes em cena. Mas também é uma aula de psicanálise sobre o ser humano, de como a mistura de neurose, solidão, medo e egoísmo podem ir emparedando a alma até a sua completa destruição. Em última instância o filme trata da eterna luta interior pela libertação de medos, conceitos ou de uma ilusão qualquer.

Ao final da batalha vivida por Nina a sensação é de deleite e choque. Um grande filme.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O Ocaso de Maranhão


O governador José Maranhão (PMDB) está de saída da cena política. Alguns já começam a dizer que vai tarde. Outros ainda alardeiam que o todo poderoso presidente do PMDB da Paraíba terá ainda condições para novos fôlegos.

Maranhão resolveu não passar a faixa para Ricardo Coutinho (PSB), deixou a missão a cargo do vice-governador, Luciano Cartaxo (PT). Ao invés disso, preferiu viajar para Brasília a fim de acompanhar a posse de Dilma Rousseff (PT). A deferência é clara e a esperança por um cargo no Governo Federal também.

Após a posse o atual ex-governador viajou para Tocantins, onde tem uma fazenda. Espera por lá a nomeação que, dizem, será para presidente da Transpetro. Mas não há nada certo.

Sempre foi difícil imaginar que Maranhão conseguisse emplacar uma nomeação para o primeiro escalão. Agora continua complicado pensá-lo no segundo escalão. Para mim, o peemedebista só tem cacife, neste momento, para o terceiro. Então, se conseguir a diretoria de alguma indireta (como a Transpetro), pode se considerar vitorioso.

Lembremos que o governador abandonou a candidata á presidência no segundo turno quando percebeu quem nem ela, nem Lula, viriam à Paraíba dar o ar da graça, para salvarem a sua eleição.

É inegável. Maranhão vive o ocaso de sua vida política e tem um balanço até positivo para fazer de sua trajetória.

Natural de Araruna, lançou-se na vida política em 1955, eleito deputado estadual pelo PTB. Com advento da Ditadura, sofreu o ostracismo de 1969 até 1982, quando retornam as eleições conseguiu se eleger. Agora para deputado federal constituinte.

Daí seguiu emplacando três mandatos consecutivos, até que em 1994 vê que o destino lhe sorri. É escolhido o vice-governador na chapa que seria vitoriosa ao governo do estado. Como a maioria já sabe, o vice não é escolhido exatamente por sua expressão política... é mais pela sua falta de expressão... Ironia do destino...

Bem, Mariz acabou morrendo e aquele que parecia um político inexpressivo, apenas mediano, um ilustre desconhecido do grande público, é alçado ao chefe máximo do estado.

Aos poucos vão surgindo alguns mitos em volta do governador. De ser um homem simples, humilde, afável. Boa parte dessa fama deve-se ao famoso evento do aniversário de Ronaldo Cunha Lima no clube campestre de Campina Grande. Quando, em meio a uma disputa de bastidores para ver quem seria o indicado pelo partido (na época ambos no PMDB), a TV flagra uma cena que salta aos olhos.

Maranhão, então governador, sofre a afronta de Ronaldo Cunha Lima. O campinense, depois de um discurso irritado pelas tentativas do governador de conseguir a indicação para uma reeleição, descruza, na marra, os braços de um Maranhão que assiste a cena passivamente. A imagem televisioanda é reprisada em rede nacional. Fica como um acinte! A força de uma oligarquia tentando se impingir a um governador. E em contraposição a prepotência visível dos Cunha Lima, a flagrante humildade de Maranhão, que recebeu toda o ultraje a sua autoridade de forma cândida e silenciosa.

As imagens nem sempre expressam toda a verdade dos fatos... e a opinião pública, sinceramente, é um animal facilmente manipulável.

Essa cena definiria a trajetória de Maranhão daí por diante. Assim, o governador, utilizando de artimanhas políticas, conseguiria a sua indicação pelo partido e deflagraria um racha no PMDB, com debandada de todos os Cunha Lima e seus aliados. Maranhão, sem nenhum adversário a altura da sua nova imagem midiática, seria reeleito com a maior votação proporcional do país. Era 1998.

Na eleição seguinte, deixaria o cargo para ser eleito senador, enquanto Roberto Paulino, então seu vice, tentando a reeleição perderia para Cássio Cunha Lima. Maranhão tentaria voltar ao governo do estado em 2006 contra Cássio, sem sucesso. É derrotado, mas recorre e consegue voltar em 2009. Contudo, tenta se reeleger em 2010, enfrentando agora Ricardo Coutinho (PSB) e perde mais uma vez.

O homem não é nada bom de voto. É fato! Apesar disso, o ex-governador teve uma trajetória excepcional. Duvido que alguém se arriscaria a dizer, à época, que o deputado estadual natural de Araruna se transformaria numa força tão hegemônica no PMDB.

Agora, com o fim do seu mandato o PMDB precisa aprender a se reinventar. Há lideranças emergentes como os irmãos Vital do Rego (Vitalzinho e Veneziano) e Manoel Júnior, deputado federal e ex-prefeito de Pedras de Fogo que já demonstra intenção clara de se candidatar ao governo da Capital em 2012. E outros que ainda precisam mostrar mais musculatura política como Gervásio Maia Filho, Trocolli Júnior, Raniery Paulino e Benjamim Maranhão.

Então, ainda que o ex-governador consiga uma sobrevida com algum cargo federal e tente manter sua mão de ferro sobre o PMDB do estado, seu fim é inevitável. Seria melhor uma saída mais sábia, prestando atenção nos sinais das urnas...e do tempo.

Agora nos resta espera que a Paraíba tenha, enfim, reencontrado as pazes com o seu eixo e agora siga mais em harmonia. Sem contar mais com as surpresas do inesperado. Afinal, a vida sempre pode pregar peças e mostrar que o ‘acaso’, ou a ‘fatalidade’, pode mexer nas linhas do futuro, dando outro traçado ao que foi planejado nos gabinetes. Isso é o que se chama destino. Os gregos diziam que nem mesmo o maior de todos os deuses ia contra essa força... Só Apolo conseguiu driblá-lo com sucesso. Apolo, a imagem da consciência solar...