quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A Viagem (Cloud Atlas) - Tudo está conectado

Assiste ao filme ‘A Viagem’ (Cloude Atlas) na sexta-feira (11/13). Confesso que fui para o cinema já munido de alguns comentários que desabonavam o filme – uma amiga havia visto o e disse que não gostou. Então, entrei no cinema carregando um misto de expectativa: ansiosa para ver um novo filme dirigido pelos Os irmãos Andy e Lana Wachowski (Matrix e V, de Vingança) e o alemão Tom Tykwer (Corra, Lola, Corra, Trama Internacional), ao mesmo tempo que temia ser bombardeado com uma tolice presunçosa de três horas de duração.

 

 A cena inicial teve um impacto negativo. Numa edição frenética, várias cenas de épocas distintas, aparentemente desconexas, foram saltando na tela. Pensei: vai ser um daqueles filmes ‘cabeças’ sem nenhuma cronologia, cheio de verborragia, metido a filósofo e absurdamente chato. Me preparei...e disse a mim mesmo: o filme tem meia hora para me fisgar, senão eu saio.

 Agora, depois de ter visto o filme. Confesso: as histórias não me saem da cabeça. Algumas mais do que outras, é verdade, mas como se trata de um conjunto, é estranho falar de histórias separadas. Algumas frases também ficaram marcadas.

 O filme conta como personagens vividos por Tom Hanks, Halle Berry, Hugh Grant, Susan Sarandon, Jim Broadbent, Hugo Weaving, Jim Sturgess, Ben Whishaw, Keith David, David Gyasi, Zhou Xun e Doona Bae vão trocando de sexo e etnias diversas vezes ao longo dos séculos. As histórias e personagens se entrecruzam e dão impulso para o futuro. Tudo isso é contado de forma linear dentro de cada história, mas com uma aparente desordem, como se todas acontecessem ao mesmo tempo na tela grande. O filme pula para passado, presente e futuro, quase aleatoriamente.

 Fiquei com a impressão que os diretores gostariam de ter dividido a tela em várias partes e contado as histórias simultaneamente. A história só tem dois fios: começa no futuro mais distante e finaliza da mesma forma. O outro fio é que seguimos as vidas de duas almas principais no decorrer do tempo, marcada sempre com um sinal (uma estrela cadente ou cometa) em diferentes partes do corpo. A alma que carrega a marca é o personagem principal da história, que normalmente tem outra alma que lhe dá suporte. Outras almas ‘atuam’ como ‘coadjuvantes’, para o bem ou para o mal do personagem central. Parece difícil entender? Talvez, com certeza exige concentração e pelo menos uma segunda olhada no filme, mas é gratificante.

Cloud Atlas é baseado em um complexo livro de David Mitchell. Narra seis histórias que se intercalam, mas que ocorrem na vida de vários personagens diferentes em vários momentos diferentes da história, do século XIX até o futuro distante. De forma simplificada e cronológica estes são os episódios da trama:

 - Uma viagem pelo Pacifico Sul durante o século 19, onde um advogado (Jim Sturgess) viaja até uma ilha com o intuito de concluir um negócio em nome do seu sogro e onde pode ver com os seus próprios olhos os problemas da escravidão.

 - O percurso de um jovem compositor homossexual dos anos 30 (Ben Wishaw) do século XX que começa a trabalhar como uma espécie de copista para um conceituado compositor belga, acabando por criar a sua própria grande obra, o “Sexteto Cloud Atlas” e envolvendo-se em conflito com o seu mestre.

 - A história de uma jornalista dos anos 70 chamada Luisa Rey (Halle Berry) que se vê no meio de uma conspiração que tenta desmascarar os planos que os lideres petrolíferos têm de forma a destruir a credibilidade da energia nuclear, pondo em causa mesmo a segurança da população.

 - A vida de um velho editor literário em 2012 (Jim broadbent) que vê a sua vida complicar-se depois do seu principal cliente matar um critico literário em plena festa de lançamento de um livro e após o seu próprio irmão o fechar num lar para idosos que em tudo se assemelha a uma prisão.

 - A libertação de uma clone (Doona Bae) em Nova Seul por parte de um grupo rebelde e as consequências desta libertação para o resto da civilização mundial.

 - Um mundo onde as consequências de todas as histórias anteriores levaram a uma sociedade pós apocalíptica e primitiva onde um pastor de cabras (Tom Hanks) se vê obrigado a enfrentar os seus medos após um ato de covardia.

 Os ponto fortes do filme, em termos de atuação são mesmos a atriz sul coreana Doona Bae, que imprime emoção a sua clone de forma contida e tocante. Também Jim Broadbent, como um engraçado editor. Jim Sturgess e Ben Wishaw também são dignos de nota. Sturgess fazendo um advogado sensível e humano (algo estranhamente não condizente com a profissão, a princípio) e Wishaw com seu homossexual libertário.

 As menções desabonadoras estão para Tom Hanks e Susan Sarandon e as maquiagens que transformaram os atores ao longo das várias histórias. Em algumas histórias as transformações mais ousadas ficaram estranhas (para dizer o mínimo).

 O filme é ambicioso e a ideia de deixar as histórias como um quebra cabeça que nós mesmos vamos montando ao longo da projeção é realmente uma tirada de mestre, isso faz com que histórias aparentemente simples ganhem um toque a mais.

Outro ponto forte é a própria ideia, contar o desenvolvimento e o entrecruzamento de vidas e almas procurando deixar mais claro as motivações futuras e os laços que vão sendo criados por ações do passado é um ponto de partida maravilhoso. Não vou contar mais sobre o filme, apenas deixar algumas citações, talvez até um pouco incorretas (na tradução) que a história traz.

 Quando o advogado houve de um senhor escravocrata que “Este mundo tem uma ordem natural e aqueles que tentam subvertê-la não se dão bem” e que ele ao lutar pela abolição será apenas um gota no mar. E o advogado responde algo como: ‘mas o que é o mar, senão as gotas juntas”...

 Seguem abaixo outras frases que nos são jogadas durante o filme, que servem para pensar e montar o mosaico que a história propõe.

“Estou tentando entender porque sempre cometemos os mesmos erros repetidamente...” 

 “Nossas vidas e escolhas, cada encontro, sugere uma nova direção possível” 

 “Cruzamos e recruzamos antigos caminhos como patinadores num ringue” 

 “Medo, fé, amor, fenômenos que determinam o curso de nossas vidas. Essas forças começam bem antes de nascermos e continuam após nossa partida” 

 “Nossas vidas não são nossas. Estamos vinculados a outras vidas, passadas, presentes... e de cada crime e cada ato generoso moldamos nosso futuro”

 Recomendo

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