quarta-feira, 2 de junho de 2010

Por trás de uma bactéria artificial

Recentemente, o mundo foi assaltado com a descoberta do senhor Craig Venter, que criou a primeira bactéria artificial do planeta. A descoberta está sendo considerada um marco rumo ao desenvolvimento de vida artificial. Doutor Venter afirma que espera usar a tecnologia para projetar novas bactérias que poderiam desempenhar funções úteis. A equipe já colabora com companhias farmacêuticas e de combustíveis para projetar e desenvolver cromossomos para bactérias que produzam combustíveis ou novas vacinas. Uma das metas é criar bactérias que absorvam dióxido de carbono e, dessa forma, ajudem o meio ambiente.

Me engana que eu gosto.

Vejamos bem se eu entendi direito. Doutor Craig Venter (o nome parece ser inventado, lembra romance policial de Sidney Sheldon, ou estilo novela Sabrina/Bianca vendido nas bancas) criou uma bactéria artificial e quer construir com esses seres microscópicos o 'Mundo Encantando de Craig'.

Todavia, o santo médico quer patentear a descoberta, evitando repassar sua experiência de ‘criação divina’ aos outros pobres mortais da França, Inglaterra, Alemanha (estou sendo irônico, viram?), não vou nem falar dos países em desenvolvimento, nem da África miserável. A retórica pseudo verde/humanitária choca-se com a ação ambiciosa e gananciosa do cientista. Mas é bom ficar ciente: a descoberta tem uma grande indústria farmacéutica por tras (como já admitiu o próprio Craig) e, junto com ela interesses bem capitalistas.

Bem, que estamos caminhando a passos largos em direção a descobertas que cada vez mais nos colocarão em xeque frente a ética do que significa criar outros seres inferiores – vide a clonagem – parece realmente inevitável. A questão é saber: estamos realmente preparados para sermos pais? Para criarmos nesse nível?

Ontem fui num asilo de idosos e encontrei homens e mulheres abandonados. Gente que foi tratada como animal pela família. Uma família que apenas sugava as aposentadorias dos pais, mães, avós. Esses idosos conseguiram achar uma curadoria do idoso para lhes salvar de seus parentes e repassá-los para uma entidade beneficente. Mas quantos não tem a mesma sorte?

Ninguém precisa sair de casa para constatar o desprezo e medo da raça pela sua própria espécie. Basta olhar pela janela e ver as centenas de pessoas que andam pelas ruas catando papelão, vivendo uma vida miserável. Maltrapilhos e zumbis que varão a madrugada em busca de restos. Basta ver soldados israelenses matando e cerceando a vida de palestinos. Os mesmos palestinos que se atiram como homens bombas para matar inocentes.

Basta ouvir na televisão que agora os chineses preferem se suicidar jogando-se dos prédios ao invés de trabalhar num regime desumano.

Basta olhar para os ditadores do passado e do presente que mandam matar centenas porque acordaram de mal humor. Olhar para Obama, que surgiu como uma esperança, mas a cada dia que passa senta-se mais na mesma política anacrônica. Uma política cheia de compromissos voltados para o seu próprio umbigo ou para o bem estar dos seus. Uma Justiça que só ousa abrir as asas com os seus, mas que perante os outros prefere fechar os olhos...Essa é a mesma velha política norte-americana de sempre, talvez um pouco mais aberta.

Mas abriu porque achou justo, ou porque não tinha outra escolha?

Para constatar o desprezo da raça por si mesmo, basta ter que encarar o Papa Bento XVI dizendo que os católicos precisam fazer penitência pelo pecados da Igreja.

Não sou católico, mas minha família inteira é e não são eles os pedófilos. Nenhum deles acredita ser necessário o celibato. Nunca disseram que os negros não tem alma e não fizeram silêncio quando os nazistas resolveram exterminar os judeus. Ora, a penitência é de quem está no poder e não faz nada.

Os cientistas brigam e na maioria das vezes parece que não sabem o que dizem. Não sabem o que fazem e se vendem pelo primeiro saco de moedas que lhes oferecerem. Parece que adoram repetir a lenda do velho Fausto.

Não sou contra o avanço da ciência, mas também não acho que estamos preparados para começar a fazer vida artificial. Toda essa história lembra Aldous Huxley e seu ‘Admirável Mundo Novo’ e as estranhas histórias de ficção científica. Mas de qualquer forma, acho que o avanço é inevitável. Precisamos agora é nos preparar para ele.

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