segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Luzes Eleutérias


Estou surdo
Uma dor profunda zune pelos meus tímpanos
Dessa dor surge uma revelação
Será que o que eu escuto é realmente o mesmo som que sai das bocas
Dos roncos dos motores, do barulho das ruas?
Um dia desses procurei ficar em silêncio,
mas não havia silêncio para me apoiar, então caí até me esborrachar...
Por mais silêncio que eu fizesse eu sempre podia ouvir uma gargalhada,
Uma voz, uma buzina, um motor ronronando...

Uma luz explodiu nos meus olhos

Não consigo enxergar mais nada, ou pelo menos nada mais é como antes
Olho para as casas e elas parecem que estão pelo avesso
Olho para as pessoas e elas parecem que são ocas
Quase me assombro ao ver as poucas que mantém uma chama
É uma luz bruxuleante
Às vezes está na testa, outras no centro do corpo
Outras, no coração.

Meu corpo foi despedaçado
Em pedaços fui atirado pelo espaço
No infinito esses pedaços foram reunidos, mas também caíram sobre a Terra
Na Terra, ao invés de árvores, nasceram homens-árvores
Estes cresceram e novamente ficaram surdos, cegos e despedaçados
Um dia, eu disse, enquanto me derramava sobre a terra,
Vou reunir-me por completo e, então, vou cair para o alto.

Um comentário:

Vasilhas disse...

Bela poesia, belo sonho/meta/desejo de voltar à inteireza do Ser.As palavras estão fluindo, vejo a linha do dentro-para-fora.