terça-feira, 30 de novembro de 2010

Uma viagem em direção à Consciência


Às vezes gostaria de apenas silenciar. Um silêncio tão profundo que nem sei. Uma vez desejei mergulhar no fundo do mar e ficar lá esperando os anos passarem. Hoje já não sinto mais essa vontade. Agora apenas penso no silêncio. Em como o silêncio pode nos assaltar.

Mas esse é um assalto bom, leva para longe o barulho, penso.

O intenso barulho do dia-a-dia. O ensurdecedor barulho das necessidades. Das bocas macaqueando ‘bom dia’. Dos sorrisos amarelos. Das brincadeiras envenenadas.

O desejo pelo poder, pela dominação, pelo viu metal, por uma relação afetiva, parece que move o mundo. Para qual direção? Essa reta tortuosa leva á solidão, que também assalta as pessoas, mas esse ‘mãos ao alto’, mas entristece que enobrece. Uma tristeza funda e dolorosa. Mas a solidão, enfim, move as pessoas a sairem da mesmice.

Para escapar dessa solidão o viajante invariavelmente chega ao sexo, ao alcool, às aglomerações públicas, igrejas. Ele liga o rádio, a televisão, assiste filmes, toma remédio, come, vai dormir. A crença é que no dia seguinte a vida importunará menos.

Vou contar um segredo: não há fim para a solidão. Não ficaremos juntos o suficiente, unidos o suficiente. Simplesmente porque só há uma união capaz de aplacar a solidão de fato, e essa união não pode ser mensurada pelo fato, essa é a maior de todas as ironias. Essa união trata do sublime e o que é sublime não pode ser tocado, medido, fotografado, engarrafado e muito menos explicado...

Não há almas gêmeas, não existe a união perfeita que envolva uma relação entre homens e mulheres. Aí não falo só da união entre um homem e uma mulher, mas qualquer tipo de casamento: heterossexual ou homossexual. Não há união perfeita entre os homens e os seus animais de estimação, nem entre os homens e o seu trabalho. Porque essas uniões, normalmente, servem para suprir algum grau de carência, de necessidade.

Essas relações podem diminuir o sentimento de isolamento, amenizar a solidão, mas haverá um momento, ou vários, em que a solidão irá olhar de novo e dizer: não é nada disso, não é esse o caminho.

Então, você vai se voltar para religião, vai rezar, vai freqüentar a Igreja, o Templo, o Centro Espírita, vai ler a Bíblia, buscando mais uma vez diminuir esse sentimento que ao mesmo tempo que é um buraco no meio do peito também sufoca.

Mas as respostas prontas da maioria das religiões só funcionam com uma parcela da população, outros, depois de um tempo, não vão se satisfazer com as respostas. Entenderão ali apenas um manual de sobrevivência no meio da barbárie. Mas fora a barbárie qual o caminho? Vão querer saber. As orações confortam, mas não impedem os conflitos, as dores, os desencontros, as confusões. E volta e meia lá está de novo a solidão.

Alguns não suportarão essa revelação, se tornarão hereges, ateus, se tornarão perversos, liberarão seus instintos e se deixarão ser possuídos por eles. Alguns se deprimirão até a morte, seja adoecendo ou buscando uma forma de acelerar ao máximo uma forma de partida. Querem descansar.

Mas não há descanso, mesmo do outro lado.

Aos poucos que persistem buscando a Verdade, vez ou outra um laivo de luz transpassará a atmosfera, mas será tão rápido, quase imperceptível...

Para estes, lentamente, algo irá acontecer com a escuridão. A princípio parecerá apenas uma mudança de tonalidade, mas com o tempo ficará claro que o escuro já não é tão escuro. O viajante se perguntará: será que meus olhos estão adaptados?

Não é possível dizer quando, nem como, mas raios de luz irão surgir e de uma forma natural a claridade se instalará. Como um nascer do sol. Sem sons de trombetas tonitruantes, sem hinos de anjos, sem arrebatações maravilhosas. Apenas o caminhar vigoroso do viajante solitário. Apenas a persistência corajosa do humilde vigilante cansado.

Com a continuidade do caminhar a claridade irá se tornar cada vez mais intensa, até não haver mais espaço para sombra alguma. Até o contentamento ser uma constante, até a união ser completa, até o amor ser um fluxo ininterrupto. Nessa altura o viajante não pede mais para si, suas orações abraçam a todos e esse amor o moverá montanha abaixo com outra missão: ajudar outros a subir. É hora de retornar.

Dizem que aqueles que encontraram a saída não retornaram para contar qual trilha percorreram. Mas milhares retornaram. Todavia, quando chegaram aqui não conseguiram traduzir em palavras sua experiência. Como traduzir o intraduzível? Como explicar para mentes limitadas e cheias de culpa, medo, conceitos, o que não é desse mundo? Assim nasceram as parábolas, os simbolismos, os hermetismos.

Ouvindo essas palavras, a maioria achará incompreensível os ensinamentos desses iluminados. Outros seguirão com devoção literal seus ensinamentos. Infelizmente, esses, provavelmente, não chegarão a lugar nenhum.

Com o tempo outros viajantes ouvirão aqueles ensinamentos e serão tocados, se sentirão perturbados. Vão reconhecer as pérolas. Vão recolhê-las. Amá-las. Alimentar-se-ão delas e seguirão a trilha deixada. Mas, nessa altura, depois de tanto tempo, essa trilha estará transformada de novo. Já não será mais a mesma viagem...

Às vezes, é preciso coragem para avançar, e avançar, em alguns momentos, significa ir contra o senso comum. Noutras vezes é seguí-lo, sem nunca achar que segue uma verdade absoluta.

Um comentário:

Everaldo disse...

Uma profunda dúvida existencial onde a consciência se bifurca e criam outros caminhos e mais outros e ... Assim, cada vez mais se distancia da realidade tridimensional, ou seja ,onde a lógica do tocar a vida no dia à dia é invertida no tempo da nossa existência (nada do que acumulamos em bens levamos, mas é essa a condição momentâneo que nos dar a razão de chegarmos ao fim de cada dia). O ponto de partida para entender onde estamos é a condição primeira para se achar no caminho sempre curvo de sentimentos lineares. O que é a consciência? Responsável por nos deixar assim... - continuo depois.