sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ricardo Coutinho, o sortudo

A eleição de Ricardo Coutinho no domingo (31/10) foi histórica. Ele teve 149 mil votos de dianteira. Acho que não é preciso dizer que o socialista, ao contrário do que previam alguns, aumentou a sua margem de votos em todos os municípios onde tinha ganho no primeiro turno. É verdade que o governador José Maranhão (PMDB) também cresceu, mas entre abstenções, votos nulos e brancos. Contudo, Coutinho além de aumentar a margem de votos onde já tinha ganho, ainda virou em mais 55 municípios no segundo turno.

Um outro fator joga luz sobre a sua vitória: a negativa da população em dar ouvidos a campanha de ódio religioso impetrada, digamos, pelos aliados do governador Maranhão. A resposta foi cabal, aumentando a rejeição ao peemedebista.

Hoje, os jornais apontam, e o próprio José Maranhão se autodenomina, como a maior liderança política da oposição no estado. Ouso dizer que a avaliação não está correta. Ou está correta apenas em parte e no momento. Mas ao pensar em 2014 ou 2012 fica claro que a oposição deve passar por uma reciclagem e adiantar o seu processo de renovação. Porque quando os eleitores alçaram RC ao governo do estado eles sinalizaram exatamente isso: é hora de renovar, velhos nomes estarão cada vez mais sujeitos ao limbo.

Essa percepção não escapa ao governador. Engana-se quem pensa o contrário. Afinal, Maranhão sonhava em acabar sua história política deixando um legado ao estado e fazendo seu sucessor. Nada disso aconteceu. Por isso, vários correligionários afirmaram que o governador estava além de taciturno com o resultado das urnas. Estava pesaroso.

Assim sendo, neste momento a oposição pende muito mais para Campina Grande, com os irmãos Vital, do que para o filho de Araruna. Claro que o governador ainda deve ter trânsito livre em Brasília, principalmente com o PMDB na vice de Dilma Rousseff. E contando que ali, no Palácio do Planalto, ainda estão várias lideranças que compartilham a mesma história pré-64. Berço histórico de Maranhão.

De qualquer forma, o governador já tem 74 anos e urge o surgimento de outra oposição, e neste momento, apesar da fraca atuação de Veneziano e Vitalzinho na performance de Maranhão em Campina Grande, são eles os mais indicados. Não aponto Cícero Lucena (PSDB) simplesmente por considerar que esse sim, saiu alquebrado de todo o processo.

O senador Lucena deveria ter ficado de fora do processo eleitoral de 2010 ao ver a impossibilidade de participar do pleito principal. Sua participação demonstrou sua incapacidade de mobilizar votos na capital. Cícero parece cada vez mais um produto do grupo Cunha Lima, com difícil sustentação – com força e respeito – fora do grupo. Mas há ainda uma prova de fogo, a disputa para a prefeitura de João Pessoa em 2012. Os ‘ciceristas’ já se animam para a disputa e devem indicar algum nome.

Bem, e Ricardo Coutinho? O que esperar dele no governo do estado?

Antes de tudo, Coutinho fez a escolha certa: aliança com o DEM e o PSDB. Sempre apontei isso. Não há como vencer uma força política incrustada no estado sem se aliar com pelo menos uma parte do passado. Lula já havia ensinado e aprendido isso em 2002.

Foi desta forma que RC ganhou de primeira a eleição para o governo do estado enfrentando uma campanha dura e, às vezes, perversa. O saco de maldades da campanha peemedebista – que se juntou aos ciceristas – parecia sem fim. Atacou os fígados de muitos eleitores.

Hoje, o socialista aparece bem na foto. É um dos seis governadores eleitos pelo PSB, partido em alta junto a nova presidente – Ciro Gomes é uma espécie de cereja que Dilma sonha em colocar no seu bolo. E Eduardo Campos foi catapultado, assim como Aécio Neves, como um nome forte para a disputa presidencial de 2014.

Além disso, Ricardo Coutinho terá a frente de JP um amigo – Luciano Agra – que lhe possibilitará uma administração casada, com tudo que há de bom quando se trabalha entre amigos. Sem contar que Agra é um sujeito menos afeito a conflito e mais conciliador. Os socialistas têm tudo para levar de novo a administração da capital.

Campina Grande também deve ganhar com a Coutinho no Palácio da Redenção, desde que Veneziano Vital do Rego (PMDB) ceda cada vez mais lugar ao grupo Cunha Lima... Cássio já projeta lançar o seu filho para prefeito do segundo maior colégio eleitoral do estado.

No final das contas fica a impressão que o ex-prefeito de João Pessoa é muito sortudo e tem lábia de derrubar avião - prova disso é a beleza da primeira-dama do estado.

Mas falando sério. Coutinho não perdeu nenhuma eleição que disputou até agora. Fez uma trajetória meteórica e contra tudo e contra todos, muitas vezes. Contra PT, PCdoB, e muitos aliados históricos. Um coisa é certa, quando Ricardo sente que é o momento, talvez por alguns instinto escorpiônico, nada o segura. Por isso, e suas qualidades inegáveis como administrador, o 'Mago' promete a frente do estado.

É perceptível que Coutinho abre um novo ciclo na Paraíba. Isso é incontestável. E esperemos que possamos usufruir da sua sorte como comandante máximo da Paraíba.

Em relação a mudança de ciclo no estado. Só para fundamentar um pouco mais essa história, vale a pena voltar um pouquinho no tempo e rever as eleições para o governo do estado desde a redemocratização.

As eleições desde 1982 - Em 1982, Wilson Braga ganhou o governo na primeira eleição direta por 509.855 votos ao enfrentar Antônio Mariz que teve 358.146. Em 1986, Tarcísio Burity (PMDB) – que já havia sido governador biônico – enfrentou Marcondes Gadelha (PFL). Burity teve 755.625 votos contra 459.589 mil votos de Gadelha. Em 1990, Ronaldo Cunha Lima (PMDB) enfrentou Wilson Braga (PDT). Obteve 704.375, contra 571.802. Braga sofreu com as denúncias a cerca da morte de Paulo Brandão, do jornal Correio.

Em 1994, quando começou toda essa história com José Maranhão. Mariz ganhou a eleição com 781.349 contra 558.987 votos de Lúcia Braga. Vale a ressalva que a abstenção naquele ano foi de 28% e dias antes das eleições a campanha de Mariz fez graves denúncias contra a campanha dos Braga, o que deve ter levado à vitória tão fragorosa. Em 1998, a vitória de Maranhão foi absurda. O peemedebista ganhou de Gilvan Freire por 702 mil votos. Não dá para contabilizar porque houve aquela história do clube campestre... 1998 foi um pleito a parte.

Quatro anos depois Cássio Cunha Lima (PSDB) obteve 889.922 votos contra 843.127 de Roberto Paulino (PMDB). Em 2006, Cássio enfrentou Maranhão e ganhou por 52 mil votos de diferença.

O que se percebe ao fazer esse retrocesso? Primeiro. Os nomes de políticos formados no processo antes do golpe de 1964 estão rareando. Os únicos medalhões que se mantém como notícia são José Maranhão, Marcondes Gadelha e Wilson Braga. Mas o único que chega a 2010 com um mandato é Braga. Neste sentido, este é o fim de uma era na Paraíba e também um ponto final na briga entre os Targino, Cunha Lima, e Burity. Está na hora de olhar para frente. Por isso, parabéns RC e boa sorte...

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