sexta-feira, 13 de agosto de 2010

No Jornal Nacional: Serra foi mais meigo que Marina


Acabei de assistir (vi em vídeo, confesso) as entrevistas de Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB) no Jornal Nacional. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a falta de “gentileza” de William Bonner na entrevista com Dilma Rousseff. Para mim procede, mas contabilizo isso mais ao nervosismo inicial dos dois e ao temperamento tanto de Dilma quanto de Bonner, os dois sim esquentadinhos. Bonner ficou visivelmente irritado.

Mas acho que a candidata do PT saiu-se bem e soube se colocar como candidata de Lula sem se mostrar uma marionete nas mãos do petista. Admitiu que o PT não tinha experiência antes de ser governo e por isso criticava as alianças do PSDB com o DEM, o que justifica hoje suas alianças amplas com figuras tão díspares como José Sarney (PMDB) e Fernando Collor (PTB), só para ficar nas figurinhas carimbadas do nordeste, ambos ex-presidentes, que também já foram criticados por Lula e pelo PT.

Dilma perdeu tempo tentando explicar que o presidente não disse que ela maltratava seus ‘companheiros’, o que Lula disse. Ainda que fique claro em seu discurso (que transcrevo abaixo) que ele diz maltratar quando quer dizer ser dura.

Muita gente acha que a Dilma é dura, que a Dilma é isso… Porque, também, nem todo mundo é obrigado a ficar se arreganhando para todo mundo todo dia. Tem uma história de que político tem que aparecer rindo, que nego vem te falar de um velório e você começa a rir. Não, a Dilma é o que ela é. Ela é assim, e, sobretudo, a mulher tem que ser mais serena e saber que ainda tem muito preconceito contra a mulher. E que, portanto, muitas vezes, ser um pouco dura é, possivelmente, uma das estacas que você utiliza para exercer a sua função, o seu poder. (…)

As nossas conversas, as nossas discussões, as tuas brigas como José Sergio Gabrielli, da Petrobras; a tua briga com a Maria Fernanda, na Caixa Econômica, por causa do programa Minha Casa, Minha Vida; a tua briga com o nosso querido Lobão, na questão das Minas [e Energia]; com o Minc… Toda vez que tinha um problema, eu falava: “Dilma, o Minc é teu companheiro de luta armada, vai conversar com ele, vai acalmar”. Então, eu penso que você vai deixar… Eu duvido que tenha tido um companheiro, um companheiro que trabalhou contigo, que não tenha uma extraordinária impressão. Tem alguns que saíam da tua sala e iam à minha sala se queixar de que você tinha maltratado ele, que tinha sido muito dura com ele, o que também é normal, também é normal. De vez em quando, deve sair alguém da minha sala e ir à tua sala se queixar do meu tratamento, sobretudo o Gilberto Carvalho.”

Mas a ex-ministra se saiu bem ao fazer uma comparação de seu posto como dama do PAC com uma mãe que cobra resultados, mostrou que é firme com um motivo justo: o crescimento e obtenção de resultados, o que inspira confiança. Dilma ainda conseguiu deixar claro que mantém o diálogo, citando a boa relação do PT com os movimentos sociais.

Marina teve melhor sorte com o apresentador, não se deparou com um Bonner irritado, mas enfrentou uma saia justa também complicada ao ser perguntada como era contra o mensalão, mas mesmo assim continuou dentro do PT, depois que o escândalo veio à tona. Ela conseguiu pontos ao falar sobre as alianças dos adversários, dizendo que o PT e o PSDB tinham se tornado reféns do DEM e do PMDB. Mas houve atritos com os apresentadores, que tentavam quebrar o raciocínio da senadora e foi visível que Marina forçou a barra em alguns momentos. Outro ponto bem positivo foi à candidata ter conseguido frisar sua origem humilde e dizer que não irá governar só com quadros do PV.

Mas foi Serra quem teve a melhor estratégia, bancou o bom moço. Por isso, não concordo com Roberto Jefferson (PTB) que disse que os apresentadores pegaram mais leve com ele, é verdade que poderiam ter tocado em temas mais espinhosos, mas houve momentos delicados, quando questionaram exatamente a aliança com o PTB de Jefferson, um dos nomes enlameados pelo mensalão.

Serra foi gentil, amável, e conseguiu um bom domínio de cena, imprimindo simpatia, o que ele precisa fazer muito mais vezes, e conseguindo estender essa empatia aos apresentadores. Até não conseguir finalizar as considerações finais foi positivo.

Ele se enrolou na relação com o PTB, quando foi questionado sobre a cobrança de pedágios nas estradas, considerado excessivo em São Paulo e demorou um pouco de tempo a mais ao justificar porque não ataca Lula. Mas ganhou pontos ao não tentar ir de encontro aos apresentadores e ao falar de suas ações junto a saúde, além de lembrar sua origem humilde.

No final das contas, ele pode até não ter falado tanto, mas a sensação é mais agradável. Serra investiu na suavidade e conseguiu uma proeza: ser mais meigo que Marina, e aí não vai nenhum duplo sentido, afinal o ex-governador de São Paulo tem fama de irritadiço e mal humorado, além de hipocondríaco. Com certeza é um feito, e positivo, passar simpatia, diálogo e confiança. Ótima estratégia Serra.

Um comentário:

Luiz Noleto disse...

Companheiros e companheiras,

As eleições em nosso país já sofrem uma enorme interferência do poder econômico. Candidatos que gastam centenas de milhões de reais numa campanha que massacra a consciência das pessoas para tentar ganhar as eleições geram, obviamente, uma situação de desigualdade na disputa.

E este quadro está tremendamente agravado nestas eleições. As grandes redes de televisão (Globo, Bandeirantes, etc) estão se dando o direito de mostrar à população através de seus noticiários e entrevistas, apenas três candidaturas, e não as nove que estão regularmente inscritas no TSE. O mesmo acontece com os grandes jornais, como a Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de São Paulo.

Agora, nem nos debates que estão sendo promovidos na TV está sendo permitida a participação de todos os candidatos. E não se trata de um impedimento legal, como alguns meios de comunicação argumentam. A lei é clara: os candidatos de partidos com representação parlamentar tem presença garantida. Aos demais é facultado o direito de participar. Ou seja, a lei permite. São as empresas privadas que controlam os meios de comunicação que decidem não apresentar as demais candidaturas, e impedir sua participação nos debates.

Gera-se assim um vício insanável para qualquer eleição que se pretenda democrática: uma parte muito grande da população brasileira vai votar em 3 de outubro sem sequer saber quais os candidatos que estão concorrendo. O programa eleitoral gratuito do TSE também reproduz esta desigualdade, pois poucos candidatos possuem muito tempo, enquanto a maioria tem um tempo muito reduzido. Assim, quando o eleitor chega a tomar conhecimento destas candidaturas, não tem como saber quais são suas propostas.

De uma só vez, as redes de TV e os grandes jornais desrespeitam dois direitos fundamentais no processo eleitoral: o direito de o eleitor saber quais são os candidatos e o que propõe cada um deles; e o direito dos candidatos inscritos junto à Justiça Eleitoral do país, de expor aos eleitores as suas propostas. Só assim seria possível o eleitor votar com consciência, escolhendo dentre todos os candidatos aquele que lhe pareceu melhor. Fora isso, a eleição se transforma em manipulação.

E é isso que vem sendo feito pelas redes de TV e pelos grandes jornais do país. E, infelizmente, até agora a Justiça Eleitoral não tomou medidas para coibir esta prática.

Esta carta que envio a todos e a todas é para conclamar aos trabalhadores, aos jovens, todos os democratas do país, a que protestemos contra essa situação. Que exijamos que os candidatos tenham chances iguais de defenderem suas idéias. Apenas o eleitor, e ninguém mais, pode decidir qual é bom e qual é ruim para o país. Não os donos das empresas de mídia. As TV’s em particular, que apesar de serem empresas privadas, funcionam sob concessão pública, tem a obrigação de assegurar informação isenta aos eleitores.

Independentemente de acordo ou não com a nossa candidatura, cobremos todos, por democracia no processo eleitoral. Protestemos contra a manipulação da grande mídia. Defendamos o nosso direito democrático a uma informação correta e sem manipulação por parte dos meios de comunicação de massa.

Proteste repassando esta carta a todos os seus contatos e pedindo a eles que repassem nas redes sociais (orkut, facebook) e assim por diante. Envie cópia para as empresas de comunicação, como forma de cobrança para que todas as candidaturas tenham espaço para expor suas ideias e para que a população possa decidir com consciência em quem votará nas eleições de outubro. E envie cópia também para o TSE, como forma de pedir providência da Justiça Eleitoral sobre essa situação.

Desde já, agradeço antecipadamente a sua atenção,

Zé Maria – metalúrgico e candidato à Presidência da República pelo PSTU