segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Dilma a ‘mãe’, Lula o ‘pai’: uma peça publicitária irretocável


O PT resolveu investir pesado na campanha eleitoral para presidente e construiu um programa eleitoral que cria um fosso abismal em relação aos outros candidatos. Contando, principalmente, com Lula como cabo eleitoral. Diga-se, um cabo eleitoral excepcional. Não sou fã de José Serra, mas dá pena vê-lo se perder em meio ao que parece cada vez mais ser uma vitória acachapante do PT. Lula queria uma eleição plebiscitária e conseguiu, já que a grande maioria não está votando em Dilma de fato, mas na continuidade da era Lula.

O programa investe numa imagem de Dilma mãe. Há algo de casto, de sacrificado e de compassivo na imagem da mãe. O exemplo maior é mesmo Maria, mãe de Jesus. É nela em que todas se espelham. São mulheres que dão outra tonalidade a vida dos maridos, filhos, ou da instituição. As ‘mães’ do povo já encarnaram a pele de argentinas (Evita Peron) e inglesas (Elizabeth).

Mas há também a imagem da mãe que ganha consciência a partir dos olhos do filho, ou de um homem a quem professam seu amor. A utilização desse esquema não é novo e encontra eco, porque trata exatamente de uma idéia santificada. Lula é o pai, Dilma é a mãe, e o povo, o filho, que tanto precisa ser redimido e salvo em sua miséria.

É emblemática a peça publicitária em que Dilma surge no Chuí e Lula no Oiapoque. Os dois entabulam um conversa virtual sobre o Brasil. Neste programa – o primeiro que foi exibido à noite – é ressaltado o nacionalismo ufano. Em meio a imagens de estradas, que dão a idéia de continuidade e futuro, as biografias de Lula e Dilma são unificadas, como se houvesse algo de predestinado. Dilma percorre o país indo de norte a sul, numa alusão de como as obras do governo estão espalhadas e atingem a todos e de como ela (Dilma) sabe e acompanha esses projetos.

A peça encerra com Lula no Palácio do Planalto, lembrando de sua chegada à presidência. Aí começa uma música cujo tema central é ‘deixo em tuas mãos o meu povo’. É a coroação da peça de marketing político que faz a construção de um mito, diga-se extremamente arriscado por suas várias conotações religiosas e nacionalistas, quase messiânicas. A sensação é um misto de emoção, de crença, quase uma experiência de fé. Arrebatador. Quando terminou o programa eu estava com os olhos marejados e, meio hipnotizado, tinha uma certeza: Dilma irá ganhar no primeiro turno.

Definitivamente o programa maquia Dilma e a mostra mais doce – algo parecido aconteceu nas eleições de 2002, quando Lula foi reapresentado ao povo com uma imagem mais conciliadora – era o Lulinha paz e amor, com frases como: a esperança venceu o medo. Mas o sindicalista pegou daí e expandiu mais uma característica que ele já tinha. Se Dilma também tem essa característica maternal e amorosa e a campanha apenas ampliou isso, não sei dizer.

Mas é claro que a ex-ministra tem sido orientada a sair pela tangente e evitar respostas que possam gerar algum tipo de conflito ou embaraço. Talvez por isso seu discurso pareça algo entrecortado e, às vezes, difícil de entender. O papel de doce mãe não é fácil de carregar, a ex-ministra já demonstrou ter uma característica mais forte, até ríspida, às vezes. Basta ver que nas entrevistas e debates Dilma se saiu melhor quando foi espontânea e deixou fluir seu lado brucutu. Noutros momentos ela pareceu difusa.

Mas não há dúvida, estamos vendo o nascimento do mito na campanha da ex-ministra Dilma Rousseff. No entanto, Dilma é futuro, não dá para falar agora no que ela vai se tornar, até porque a mineira é uma incógnita.

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