quinta-feira, 11 de novembro de 2010

'Afogando' Mayara e seu pensamento nazifascista

Confesso que relutei em escrever sobre isso, por isso demorou tanto, mas aí vai...

Mayara Petruso conseguiu seus 15 minutos de fama através de seus vômitos na rede mundial. A paulista postou no Facebook, após a vitória de Dilma Rousseff (PT), um desabafo endiabrado. Sugerindo que nordestino não é gente. A moça, uma estagiária de direto incitou: ‘Faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado!”. Antes a ‘inteligente’ estudante de direito tinha postado essa pérola: “Afunda Brasil! Dêem direito a voto aos nordestinos e afundem o país de quem trabalha para sustentar os vagabundos que fazem filho para ganhar a bolsa 171”, disse.

Tudo isso porque a região deu a Dilma Rousseff (PT) 18 milhões de votos e apenas 7 milhões a José Serra. Vários amigos meus ficaram indignados – detalhe, a maioria não é nordestina. Eu, que nasci em João Pessoa, capital da famosa Paraíba (famosa pelos seus renomados cabeças chatas, homens de peixeira na cintura e das mulheres ‘cabras macho’, deveria pensar Mayara) ouvi e li os comentários e não tive pensamento nenhum. Não me senti atingido.

Simplesmente porque as palavras de Mayara não me diziam nada. Aprendi, na Kabalah, que se alguém lhe diz algo que lhe atinge de alguma forma e provoca em voce irritação, fúria, indignação, é porque encontrou algum tipo de eco. E esse eco é jogado para fora, vociferado, na maioria das vezes, reforçando o orgulho. Por isso, pipocaram na Internet e nos meios de comunicação frases de efeito e artigos reforçando o orgulho nordestino.

Desculpem-me os que pensam como Mayara, mas eu não me sinto inferior, não preciso que meu orgulho seja reforçado e nenhuma daquelas palavras fere minha integridade como cidadão. Apenas expõe a ignorância da garota. Mayara demonstrou o que pensa uma certa elite paulistana e carioca e de outros recantos chiques do Brasil. Mas não é só um pensamento que está entranhado na elite. Ele também ecoa em algumas cabeças da classe média alta. É um pensamento fascista, separatista, preconceituoso. Que se autodenomina e se auto-observa como sendo o rico espoliado pelos pobretões.

Lembra a visão da monarquia. Uma Maria Antonieta dizendo ‘Se não tem pão, comam brioche!’. Frase célebre dita antes da queda da bastilha. Todos sabem qual foi o fim de Antonieta – a guilhotina. Antonieta esquecia que eram seus súditos que lhe proporcionavam a vida que ela tinha, não era ela que proporcionava a vida aos seus súditos.

Passa despercebida a elite, e a Mayara, filha dessa elite, a mesma coisa: não é o sudeste que proporciona ao nordeste seu bem estar, a matemática é invertida. Afinal, todo o dinheiro investido no Nordeste para gerar emprego e renda, retorna as regiões mais industrializadas quando o trabalhador, ou aquele usuário do Bolsa Família, que seja, alimenta a economia comprando bens de consumo duráveis ou não.


Mayara aponta o dedo e diz que muitos no Nordeste agora preferem fazer filho ao invés de trabalhar. Sabem que terão o Bolsa Família. Já ouvi esse argumento dito da boca de um prefeito e de técnicos sérios na própria Paraíba. Por isso, não duvido que exista também essa realidade. Mas é ridículo acreditar que essa é a regra geral. Acreditar nisso é voltar para o início do século XX, onde diziam que a miscigenação enfraquecia a índole do homem. Tornando-o corrupto, de segundo escalão. Foi aí que floresceram ‘filosofias’ fascistas e nazistas. Eles acreditavam que os não-arianos eram seres de segunda grandeza.

Graças a Deus, surgiram outros pensamentos, e a engenharia genética, explicando que não existe raça pura. O mundo é uma mistura. Completa. E o Brasil uma mistura maior ainda, que lhe dá um caldo cultural e uma diversidade que é uma de suas riquezas. Mayara resgata esse raciocínio, mas ela não inclui mais todos os brasileiros num único caldeirão. Uma parte é pura, a outra é o símbolo do atraso.

O nordeste dos baianos, paraibanos, cearenses. O nordeste dos Sarneys, dos Collors, dos ACMs. O Nordeste miserável que precisa do Bolsa Família para manter as famílias amontoadas nos manguezais. Famílias, que segundo Mayara, já nascem corruptas e preferem botar um filho no mundo para viver as custas do governo federal do que trabalhar.

O Nordeste tem mazelas. Mas muitas delas, talvez a maioria, estão em todo país. Do tipo: a corrupção, um pensamento corporativista nos governos, uma política ainda com resquícios do coronelismo – que pouco a pouco vem arrefecendo, mas outros tipo de coronelismos vão surgindo. Não venham me dizer que o rodízio de poder na mão de algumas famílias é uma prerrogativa apenas da região Nordeste. Esse tipo de política pode ser percebida em praticamente todo o país, mais ou menos diluída, mas ainda presente.

Essas mazelas são um sinal da falta de educação. Uma educação e cultura real, forjada na luta democrática, não na forja da elite. Afinal, ter educação, mas continuar como uma Mayara da vida, não é avanço, é manter a ignorância apesar do acesso garantido. Ter dinheiro, ser rico, nunca foi sinal de sabedoria. Assim como acumular conhecimento nas faculdades não desenvolve a moral, nem a ética. A revolução a qual Mayara se ressente deveria começar com a mudança da sua própria mentalidade.

Só para deixar claro: se os votos dos nordestinos dados a Dilma e a José Serra fosse retirados, a mineira ainda ganharia por 1 milhão e 300 mil votos. Ainda, se tirarmos a diferença dada a Dilma no Nordeste: 10.733.007 milhões, a candidata do PT ainda ganha com o mesmo percentual, 1,3 milhão.

O Nordeste escolheu Dilma, porque tem crescido a taxas chinesas. O Nordeste tem sido descoberto e se descoberto como novo eldorado. E, em grande parte, isso é mérito do governo do PT. É inegável. O Nordeste não votou em José Serra porque o tucano demorou demais para decidir se candidatar, não abriu canais de comunicação mais efetivos com região – com visitas para se fazer mais conhecido e a suas propostas. A tática de Serra para a região foi tardia e pífia.

Só para finalizar. Quando a raposa prende a cauda ou a pata numa armadilha, ela, muitas vezes, corta essa parte para se ver livre. É como tirar uma parte do corpo para mantê-lo vivo. Se fosse possível Mayara descartaria os nordestinos, crente que sua vida seria um paraíso. A opção, às vezes é válida, outras vezes é um suicídio. Os fariseus e saduceus preferiram crucificar Cristo para salvar o povo judeu. Perderam os dois. Foram necessários quase dois milênios até se recomporem de novo como nação. Por isso, cuidado: é preciso saber o que se descartará. Às vezes, sem perceber, podemos jogar fora o coração. Eu sei que o cérebro é importante, mas sem coração o corpo não vive.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá.. me chamo Janiele, sou natural de João Pessoa, entrei no seu Blog por acaso mais nem tão por acaso assim rsrs. Está havendo um caso bem semelhante aki no meu Estado e que está repercurtindo muito aki de Xenofobia entre outros. Sou totalmente contra todo o tipo e forma de preconceito, é incrível até que ponto o ódio, egoísmo e a intolerância das pessoas podem chegar... Lamentável!! Adorei seu Blog e suas sábias palavras! Tudo de melhor prá você!! Fica com DEUS... Abraços à todos!!