Publicado orinalmente em dezembro de 2008
O Papa Bento XVI veio mais uma vez a público condenar a relação homossexual. Não é a primeira vez que o maior líder da Igreja Católica no mundo se levanta contra as relações entre pessoas do mesmo sexo. Relações que existe desde os primórdios da humanidade e foram registradas entre egípcios, gregos, romanos, muçulmanos, judeus... Vi a declaração no Jornal Nacional, na noite de ontem, 22 de dezembro. Os âncoras da Globo (dois homens) foram lacônicos, não comentaram e deram a notícia em meio as mensagens do Papa.
Pensei nos pais ouvindo aquilo e posteriormente orientando seus filhos, perpetuando o preconceito que cada vez mais se dilui numa tendência a homogeneização do masculino e do feminino na moda, profissões, na política e nos casamentos. Os homens e as mulheres cada vez se parecem mais e trocam mais tarefas. Esse é o lado bom dos novos tempos.
Pensei no que leva um homem a orientar o seu rebanho dessa forma. Para mim, ao contrário do que prega o dogma católico, o papa é falível – basta lembrar quando a Igreja já foi a favor da segregação racial e chegou a admitir, ou pelo menos não se pronunciou contra, a idéia de que os negros não tinham alma, que os índios eram seres inferiores. A Igreja também silenciou e, em alguns casos, foi conivente com o regime nazista e fascista na perseguição aos judeus, homossexuais, ciganos...
O cardeal Joseph Ratzinger ao fazer essa declaração diz que a salvação da humanidade está na relação heterossexual. Ele considera, sem dizer textualmente, o homossexualismo como uma espécie de degeneração moral e social.
Parece que voltamos ao tempo da Idade Média e todo o avanço nos direitos humanos foi jogado no lixo. Felizmente, a separação da Igreja e do Estado já é uma realidade sem volta, na maioria dos países do mundo e alguns dos seguidores do catolicismo, das igrejas evangélicas, muçulmanas e judias conseguem ser mais coerentes com a mensagem de amor e paz de seus livros sagrados do que seus maiores expoentes.
Conheço inúmeros casais gays, de homens e mulheres. Alguns felizes, outros não, alguns fieis, outros não, alguns morais e outros amorais, exatamente da mesma forma que existem casais heterossexuais. Todos buscam um quinhão de felicidade e os homossexuais ainda precisam ter a coragem de enfrentar pais, irmãos, amigos e a sociedade para se posicionar com orgulho – porque não – sobre a sua "escolha" sexual.
Digo "escolha" porque já é sabido hoje que não existe escolha alguma. A orientação sexual, ainda que possa receber, em certa medida, influência do ambiente social, é determinada por um fator genético e da alma. As pessoas já nascem com esse, digamos, impulso. Assim como os homens e mulheres heterossexuais já nascem com seus impulsos sexuais pré-determinados. Os pais, a educação, o meio ambiente, podem refinar esses impulsos. Mas reorientá-los será sempre ir contra a natureza primeira. Aquela natureza que vai definindo quem e como será a criança no futuro. A definição que atua nos primeiros sete anos de vida e se fundamenta na adolescência.
Essa reeducação, em todos os casos que já ouvi e tive acesso, acarretou sofrimento, frustração, dor, culpa, medo e muita infelicidade. Alguns homens e mulheres conseguiram frear seus impulsos, parando de exteriorizá-los, mas na intimidade se flagram em pensamentos e até em atos aos quais se culpam mortalmente. Talvez esses sejam alguns dos casos dos padres e freiras que buscam no conforto espiritual uma fuga de desejos repreendidos. Não estou dizendo que essas pessoas são melhores ou piores do que outras que resolvem viver e admitir, com naturalidade, como são, apenas que essa decisão cabe a cada um e os outros, a sociedade incluída aí, não deve pressionar ninguém sobre qual direção tomar.
A questão principal aqui é: porque um Sumo Pontífice – o nome significa alguém que deve construir pontes entre o mundo visível e o invisível – conclamaria seus fieis a uma luta que gera tanto desamor, principalmente numa época onde deve ser comemorado o nascimento do Cristo e sua mensagem de um Pai fraterno, amigo, amoroso e próximo de todos?
Vale ressaltar ainda que o próprio Cristo não deixou nenhuma orientação de negação sexual neste sentido. As orientações mais claras neste sentido foram dadas pelo apóstolo Paulo, que não conviveu com Cristo, é bom que se diga, e que pode sim ter cometido seus excessos. Afinal, nós, pobres mortais, nos equivocamos nos julgamentos, voltamos atrás e pedimos perdão. Assim como a Igreja já fez em vários momentos da história recente.
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