quinta-feira, 22 de abril de 2010

José Serra: o estilo é o homem

Como prometi, aí vai mais um perfil


José Serra Chirico completou 68 anos no dia 19 de março de 2010. No sábado, 10 de abril, lançou oficialmente a sua candidatura a Presidência do Brasil. O economista ocupou o cargo de governador de São Paulo no período de 1 de janeiro de 2007 até 2 de abril de 2010, quando renunciou ao cargo para se candidatar. José Serra foi candidato à Presidência da República pela coligação PSDB-PMDB em 2002, quando foi derrotado no 2º turno por Luís Inácio Lula da Silva.

Serra tem uma trajetória curiosa. Nasceu em um bairro operário paulista, a Mooca, filho único de pais com sangue italiano, ambos já falecidos. No livro ‘O Sonhador Que Faz’, do jornalista Teodomiro Braga, ele conta:

“Nasci pobre e vivi com pouquíssimo dinheiro até a idade adulta. Meu pai, Francesco, veio para o Brasil com trinta anos de idade. Fugiu da pobreza na Itália para tentar a sorte aqui. Não conheci meus avós paternos, que nunca saíram de lá. Meu avô materno, Steffano, veio da Itália para Buenos Aires, antes da Primeira Guerra Mundial. Minha avó Carmela era argentina, filha de italianos. Os dois se conheceram em Buenos Aires e vieram juntos para o Brasil. A Mooca foi o destino de todos eles. Meu avô Steffano era analfabeto. Sustentou a família com uma banca de frutas no mercado municipal da Cantareira e com uma carroça puxada por um burrinho. Meu pai só aprendeu a ler quando fez o serviço militar. Também ganhou a vida vendendo frutas no mercado público. Sou, portanto, filho e neto de feirantes. Filho único, fui o primeiro da família a chegar à universidade”. Serra dormiu no quarto dos pais até 4 anos; depois, na sala da casinha simples, sem geladeira, nem fogão a gás.


Tímido, José Serra fez o papel principal quando ainda estava na faculdade em uma das peças do diretor José Celso Martinez Correia, uma experiência que, segundo ele, lhe ajuda até hoje. De olhos verdes, considerado na juventude como sedutor, era bom dançarino, daqueles que sussurra no pé do ouvido durante as músicas românticas.

Entre as características, marcantes está a implicância. “Às vezes, tendo a racionalizar demais, de fato, tenho muita dificuldade de entender como uma pessoa não compreende uma coisa que é lógica.", justifica. Já o viram implicar com comida, com a maneira de os outros se vestirem, com o vinho servido num jantar, com a redação de um cardápio, com o que colunistas escrevem a seu respeito, com as ações de aliados e adversários. Extremamente competitivo – se estimula com uma disputa intelectual. Tem uma insônia persistente – o que acaba utilizando para se antenar.

É um utilizador contumaz do Twitter e recebe cerca de 500 mensagens pessoais por dia. Inteligentíssimo, vaidoso, meio psicótico - há anos ele tem o hábito de lavar as mãos várias vezes ao dia, sobretudo depois de cumprimentar estranhos. Não é muito religioso, apesar de ter sido criado em uma família católica. Detesta comida com alho e cebola, não come frituras, não toma café e não digere sementes. Alguns o consideram hipocondríaco. Apesar dessas características fortes, Serra mostra mais seu lado pisciano de homem calmo e pacífico. Mas é evidente que guarda uma força insuspeita dentro de si. Os amigos dizem que Serra é engraçado, espirituoso e até fofoqueiro.


O paulista começou na vida pública em 1962, quando integrou a Ação Popular (AP). Um braço da Igreja católica que surgiu a partir dos movimentos sociais fundados nos anos 1950. O movimento político era resultado da atuação dos militantes estudantis da Juventude Universitária Católica (JUC) e de outras agremiações. No ano seguinte, em 1963, um ano antes do golpe militar, Serra foi eleito para União Nacional dos Estudantes (UNE). Na época, cursava engenharia na Universidade de São Paulo. Naqueles idos, a UNE tinha status de partido político, dando a Serra condição de participar da política nacional e a oportunidade de contato com autoridades, governadores, e com o então presidente João Goulart, o Jango.

Com o golpe e o exílio, ele tinha apenas 22 anos, Serra abandonou a Ação Popular e a política, dedicando-se a estudar Economia, primeiro no Chile e - com a derrubada de Salvador Allende - nos Estados Unidos. Serra voltou ao Brasil antes da anistia, após 13 anos exílio, em 1978, e retomou a vida acadêmica dando aula na Universidade de Campinas. Serra não terminou a graduação, apesar do título constar no currículo. Na verdade, o paulista concluiu a graduação no Chile, mas o diploma não é considerado no Brasil.

Ao voltar do exílio, tornou-se editorialista da Folha de São Paulo e ficou amigo do dono do jornal, Octavio Frias de Oliveira. Contudo, o ex-governador geralmente reclama da relação com a imprensa, ainda que os grandes veículos de comunicação tenham uma identidade política mais próxima a dele do que ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou Dilma Rousseff. Serra tem boas relações com colunistas, apresentadores de rádio e televisão e diretores de redação.


Na sua trajetória política, após o exílio, o tucano já foi secretário do Planejamento do governo Franco Montoro, em São Paulo, deputado federal constituinte, ministro do Planejamento, ministro da Saúde do governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), senador, prefeito e governador de São Paulo. A passagem pelo ministério da Saúde rende dividendos eleitorais até hoje para o governador. O programa de combate à AIDS implantado na sua gestão foi copiado por outros países e apontado como exemplar pela ONU. Serra implantou a lei de incentivo aos medicamentos genéricos, o que possibilitou a queda preço dos medicamentos. Eliminou os impostos federais dos medicamentos de uso continuado. Regulamentou a lei de patentes e encaminhou resolução junto à Organização Mundial do Comércio para licenciamento compulsório de fármacos em caso de interesse da saúde pública. Também conseguiu a proibição de propagandas de cigarro na TV.

Serra foi o único governador eleito em primeiro turno em São Paulo – teve 12 milhões de votos. Na sua gestão investiu R$ 64 bilhões, especialmente em obras, transporte e saneamento. Na Saúde, entregou à população 10 novos hospitais e criou 22 AMEs, unidades com médicos e laboratórios. Expandiu a rede de ensino técnico, criando quase 200 mil vagas para jovens. Foi pioneiro ao estabelecer em lei redução de gases do efeito estufa. O tucano acredita que o mundo está começando um novo padrão de produção e de consumo. Distinto daquele erigido desde a Revolução Industrial no século XVIII, em que a economia verde irá gerar novos empregos e renda para combater a desigualdade social. Quando prefeito de São Paulo ele ampliou o bilhete único, integrando o ônibus ao metrô, diminuiu impostos, acabou com a taxa do lixo e recapeou as ruas. Investiu na alfabetização, com uma segunda professora em sala de aula.


Serra prega o que chama de ativismo estatal, em contraposição ao estado excessivo na economia. “De 1930 a 80, nós fomos uma das economias que mais cresceram no mundo. Agora, este é um modelo (o estatizante) que se esgotou, e, em contraposição a ele, não se deve pensar no estado da inércia, da improdutividade. O estado deve ser forte, não obeso. Forte em seu papel de cumprir as funções básicas e ativar o desenvolvimento, a justiça social e o bem-estar da população. E eu defendo um estado ativo”, diz o homem que no dia 3 de outubro poderá ver um sonho de infância concretizado e se tornar o primeiro presidente do Brasil filho de imigrantes.

Assim, Serra representa o sonho do eldorado dos imigrantes que chegaram ao Brasil, sendo concretizado. Mas é inegável, com uma nova imagem, mais associada a sua origem humilde, ele busca se afastar da imagem de um intelectual frio e inacessível e se aproximar do homem comum que conseguiu superar as adversidades da vida.

3 comentários:

Anônimo disse...

DEUS NOS LIVRE DESSE CRÁPULA!! VC DISSE QUE É INTELIGENTISSIMO??? KUAKUAKUAKA ENTÃO ELE TEVE UMA BELA RECAIDA HEM AMIGÃO??

Anônimo disse...

VEJA a aula magna do seu candidato INTELIGENTISSIMO!! http://www.youtube.com/watch?v=UiRNvK95438

mastigada disse...

Aí, meu caro 'anônimo', adorei o vídeo. Muito engraçado...