terça-feira, 27 de abril de 2010

A quadrilha política e o Bhagavad-Gita

Sei que vocês vão dizer que o título é Irreconciliável. Mas sabe que dá para juntar alhos com bugalhos...

Lembra daquela música de Chico Buarque, ‘A flor da Idade’?

Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Carlos que amava Dora que amava Pedro que amava Carlos que amava toda a quadrilha


Pois é. Não é que ela casa, sobremaneira, na política. Então vejamos:

Lula que amava Dilma que amava Ciro que amava Tasso que amava Serra
Que amava Aécio que amava Guerra que amava Jarbas que amava Quércia
Que amava Temer que amava Collor que amava Lula que amava toda a quadrilha


Acredito que não estou dizendo nenhuma novidade.

Coloquei em termos macros, na política nacional, mas essa música se encaixa perfeitamente nas realidades estaduais. Nós sabemos como na política os conchavos e conveniências ditam a regra das alianças. Por isso, Ciro Gomes é chamado a retirar sua candidatura pelo PSB, evidentemente, porque o partido fez um acordo com o PT – diga-se o presidente Lula.

Já conheci gente fã de Lula, de Ciro, de Heloisa Helena, de Serra. Muitas dessas pessoa ainda se deixam levar emocionalmente pela política. Ora, hoje em dia a única política que existe é a das tripas. É meio aquilo que o falecido deputado Roberto Cardoso Alves exemplificou na frase franciscana 'é dando que se recebe'.

A ídeia tem muito a ver com a política praticada hoje pelo PT quando faz alianças com Collor, Sarney, Renan, Maluf e vários outros. Mas não nos enganemos. O PT pode estar na ponta de lança dessa política hoje, mas FHC já a cometeu nos seus conchavos com ACM e limitada. Apesar disso, volto a dizer: não coloco todo mundo no mesmo saco e entendo que hoje a política não parece ter outra saída a não ser distribuir benesses para avançar. Ainda que dizer isso possa parecer polêmico. O problema é maior: está no sistema, ele sim está completamente podre. A começar pela mistura quase indissociável do sexo (vide escândalo Mônica, Renan e CIA Ltda), da política (vide escândalos diários)e do dinheiro (vide meias, cuecas e calças dos parlamentares).

Todas essas três forças (sexo, dinheiro e política) lidam com a ilusão e o desejo. As três dão prazer e sensação de poder. Mas são ilusão, porque colocam fora do homem a realização que elas propiciam. O poder e o prazer que essas três forças ‘nos dão’ podem ser retiradas de nós. Assim, alguém que se baseia nelas para se sentir realizado e preenchido facilmente estaria sentindo-se derrotado e infeliz, caso alguém lhe tirasse alguma dessas 'posses'.

Não digo que a política, o dinheiro e o sexo não servem para nada. Longe disso. A política ainda é o meio pelo qual conseguimos argumentar e chegar a melhorias na sociedade. Ao contrário do que muitos dizem, não acredito que todos os políticos estão num saco só. Alguns têm boas intenções (sei que o inferno está cheio de boas intenções), apesar de terem que participar do sistema para sobreviver. Mas, pelo menos esses políticos não estão completamente entregues.

O problema de fato é o sistema com sua idéia deificada do capital, essa sim uma distorção absurda. Muitos de nós vivemos escravos do dinheiro, quando deveria ser o contrário. Vivemos para pagar contas, para ter uma vida razoavelmente confortável. Vivemos cobiçando um televisão de plasma, 3D, um carro com GPS, uma plástica de corpo perfeito. Dinheiro pode comprar, mas não preencher.

Mas o dinheiro não deve ser visto como um vilão. Ele é apenas um instrumento e vai ter a cor de quem o manipula. Ele pode ser essencial, ou apenas necessário, uma ajuda, para construir.

Bem, acho que me afastei um pouco do tema inicial e vou me afastar mais um pouco ainda... Mas o que quero dizer é que não precisamos só de uma reforma política, o problema é mais em baixo...

Cumprindo minha promessa acima de me distanciar mais. Abaixo transcrevo um texto retirado do Bhagavad-Gita que toca em alguns aspectos do que estou falando. Espero que não fique muito hermético

Existem três modos (ou amarras) da natureza material que acorrentam a alma individual no corpo: a bondade, a inércia e a atividade.

A ignorância nasce da inércia. A ignorância acorrenta os homens pela desatenção, preguiça, e pelo dormir demasiado. A bondade prende alguém à felicidade do estudo e conhecimento do espírito; A paixão prende à ação; e a ignorância prende por negligência, pelo encobrimento do auto-conhecimento.

A bondade mantém-nos longe de atos pecaminosos e conduz ao auto-conhecimento e felicidade, mas não é a salvação. A paixão cria forte cativeiro Kármico, e conduz o indivíduo mais distante da liberação. Semelhantes pessoas conhecem as ações corretas e erradas, baseadas em princípios religiosos, mas são inaptas para seguirem-nos, por causa dos seus fortes impulsos de luxúria. A paixão obscurece o real conhecimento do Ser e causa tanto a experiência de prazer como dor. Tais pessoas são muito apegadas a riqueza, poder, prestígio, prazeres sexuais, e são muito egoístas e mesquinhas.

A ignorância, a pessoa não é capaz de reconhecer a real meta da vida, de distinguir entre a ação certa e errada, e permanece apegada em atividades proibidas e pecaminosas. Tal pessoa é preguiçosa, violenta, carece de inteligência, e não tem interesse no conhecimento espiritual.

Parece que o texto faz um salamalê daqueles não!? Parece que Krishna diz a Arjuna (para quem não sabe o Bhagavad-Gita conta um diálogo entre Krishna e Arjuna antes de uma batalha) que auto-conhecimento apenas não serve, que a inércia ou a reação apenas também não serve. E, por fim, a paixão, por si só, não leva a nada. Todos os três acorretam pelos prazeres que podem provocar. Nada disso leva a salvação.

Mas de qual salvação ele fala?

Creio que Krishna fala da libertação de uma vida de ilusão. Só há uma forma de conseguir a salvação: a consciência ativa.

Só para fazer um link com o início do texto. Se formos seguir o que Krishna diz, não há como nos envolver com política, muito menos falar sobre ela. Nada disso é real e cada vez mais fica mais irreal. Contudo, a consciência olha o mundo como algo real, ainda que saíba que não é...

Não teve jeito, ficou hermético. Volto a tocar no assunto noutro momento...

2 comentários:

jussara disse...

Prometi para mim não ler sobre a "política", escrito por vc é diferente, sinto uma nova analogia.

Moreira disse...

Há vida inteligente nesse planeta "política" que não seja os "brogs" de Dércio e Torres. Viva Paulo Dantas.