terça-feira, 6 de abril de 2010

Os medos, a vaidade e a homossexualidade (?) de Chico Xavier

Toco nesses temas, apesar de não concordar com a forma como eles vêm sendo tratados em relação a Chico, porque sei que muitos (desses temas) ganharam holofote com a publicidade em torno do filme. O longa não fala sobre esses assuntos abertamente, mas toca em pelo menos três passagens. O medo é demonstrado numa cena folclórica quando o médium vive uma turbulência aérea num vôo. Ele grita e pede socorro a Deus. Neste momento Emmanuel (seu guia espiritual) surge lhe cobrando compostura e trava um diálogo áspero, mas extremamente engraçado.

Contudo, a cena enseja um dúvida: essa seria a forma de um líder espiritual, com estreita relação com a morte, agir numa situação de perigo mortal?

A vaidade seria demonstrada quando ele passa a usar uma peruca para cobrir ‘esconder’ a calvície. Chico uma vez falou que preferia não se apresentar de uma forma desagradável aos olhos das outras pessoas. Mas a evolução espiritual não deveria acarretar desapego da aparência física, entre outros desapegos?

No filme de Daniel Filho a questão sexual é tocada em três momentos.

Primeiro quando o pai de Chico resolve levá-lo ao prostíbulo para que ele possa ‘perder’ a virgindade. Ao invés de sexo o rapaz convence a todos a fazer um círculo de oração.

Noutro momento, na ilha de edição da TV onde Chico está sendo sabatinado, um dos funcionários da TV faz alusão a marchinha de carnaval. ‘Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é...’. Por fim, as imagens reais de Chico, à vontade em público, mostram um homem que não temia em expor a delicadeza. E em alguns momentos essa delicadeza beirava o feminino.

O comportamento do médium, enquanto vivo, gerou desconfianças de sua sexualidade.

Sei que algumas pessoas, ainda hoje, também questionam. Como pode um homem que se diz espiritualizado ser homossexual? Segundo um colega meu, todos esses pontos (medo, vaidade e homossexualidade) apontam para uma incompatibilidade com o desenvolvimento espiritual, defendido por Chico. O que demonstraria incoerência.

Não ia tocar nesse assunto, mas talvez seja realmente inevitável...


Tenho simpatia pelo médium e sua história de sofrimento e não concordo com os argumentos acima – alguns deles foram utilizados no passado e ainda hoje, infelizmente.

No filme de Daniel Filho, em trecho da entrevista no Programa Pinga Fogo, Chico fala sobre o sexo. O diretor omitiu um trecho anterior na mesma resposta onde o médium fala sobre homossexualidade e bissexualidade. Para Chico, e o guia Emmanuel, estados inerentes a alma que não devem servir de perseguição ou chacota.


No programa Chico afirma: ‘Vamos dizer: se as potências do homem na visão, na audição, nos recursos imensos do cérebro, nos recursos gustativos, nas mãos, na tactividade com que as mãos executam trabalhos manuais, nos pés, se todas essas potências foram dadas ao homem para a educação, para o rendimento no bem, isto é, potências consagradas ao bem e à luz, em nome de Deus, seria o sexo em suas várias manifestações sentenciado às trevas?

Ouso responder, utilizando a mesma linha de raciocínio: não, o sexo em suas várias manifestações não deve ser sentenciado às trevas. Afinal, se temos tantos meios de crescimento e descoberta interior e de nossas potencialidades dadas por Deus, não devemos considerá-las como maléficas. E o sexo está entre esses meios de descoberta interior.

Mas só pontuando os temas acima. Não afirmo que Chico Xavier se iguala a Cristo, Buda, nem mesmo a Ghandi, apesar de ser perigoso fazer um juízo de valor tal e dizer quem é maior e quem é menor. Não tenho régua para isso.


Os líderes espirituais – e o médium é um deles, certamente – têm suas missões, muitas vezes missões árduas e dolorosas. Há histórias de líderes que não chegaram a atingir um nível supremo de liberação do plano físico, de desejos, prazeres, complexos e medos, e mantiveram na personalidade o que seriam considerados pequenos pecados. Mas afirmo, tais características não necessariamente desvirtuam o caminho espiritual.
Elas só são consideradas graves na medida em que realmente atrapalham o trabalho verdadeiro do homem. Aquele Trabalho com 'T' maiúsculo, que serve a Grande Obra de Deus


Outra coisa, há um estágio da consciência espiritual onde a liberdade da alma é plena e qualquer regra de certo e errado, mal ou bem, pecado ou graça, aprisionam. O mais importante de tudo é a consciência com que se faz algo, não exatamente o algo em si, e em que nível cada ser individualmente se responsabiliza por seus próprios atos e desatinos.


Assim, para mim, se Chico não era (ou não parecia) espiritualizado na medida em que nossa sociedade acredita que seria a ideal, digo: e quem é esse ser perfeito que está apontando o dedo para o imperfeito? Quem é esse que sabe a fórmula que deve ser seguida e ainda não a colocou em prática? Quem é esse sem defeitos e puro que não mostra o caminho? Muitos problemas do plano espiritual em relação a humanidade são a quantidade de moldes que a nossa sociedade resolveu criar para dizer quem está caminhando na senda da luz. O problema é que não raro, ninguém cabe nesses modelos idealizados de perfeição.

Sobre se ele era ou não era homossexual, não sei. Mas sinceramente, não concordo que a orientação sexual de alguém, ou a prática do sexo, signifique alguma diminuição da evolução espiritual. Volto a dizer, tudo depende da consciência de quem faz, das intenções, do responsabilizar pelos próprios atos. Para mim, não há pecado em avançar pelas descobertas espirituais e manter-se ligado a alguns elementos telúricos. Deus não mede o merecimento ou a luz de alguém por esse prisma. Essa mensuração, infelizmente, é feita por nossas mentes atrasadas...

No vídeo abaixo Chico Xavier fala sobre homossexualidade


3 comentários:

Unknown disse...

Caro Paulo,

Gostei muito de seus comentários e mais ainda de ouvir Chico Xavier em um tema tão polêmico. Chamo atenção sobre a forma como ele se refere ao tema “homosexualidade” e não homosexualismo, cuja terminação tem sido criticada pelos movimentos GLBT uma vez que “ismo” é uma terminação dos códigos de doenças. Realmente um dos que tem tentado trazer boas novas à humanidade.

Atenciosamente,


Gloria Rabay

GIL SABINO disse...

Paulo, bacana o blog...
Bem, gostaria de comentar mesmo aqui sobre o Chico Xavier..
Fiquei inquieto com o comentário de um cronista no site do Uol logo no dia seguinte a estréia do filme, dizendo que a fita desmerecia o público, negligenciava a inteligência do público n sabendo a que veio, qual teria sido o conteudo do filme... Ora, o exemplo da vida de Chico diz tudo embora muitos não o tenham ainda percebido...
No comentário do amigo, a homossexualidade acredito que passa distante de um homem que levou a vida inteira dedicando ações em favor do próximo logo percebeu sua missão. Não seria nem o caso de assexuado, mas, mesmo, de dedicar suas energias a tarefa fraternal, não cabendo aí, e dispensando obcuros pensamento a esse respeito. Não ha como imaginar um coisa dessas, Chico nunca foi objeto de rumores, isso ou aquilo nesse campo.
Já a vaidade, quando ultrapassa os limites e vai ao excesso, é motivo de registro. Usar uma peruca nao faz mal a ninguém, nem a si, nem ao próximo.... E o medo é, segundo nos ensinam os espíritos de luz através da literatura de Allan Kardec, o codificador da doutrina espírita, nosdizem os espíritos que o medo faz parte da natureza do homem em preservar sua existência, em proteger, e assim manifestando quando da presenã de ameaça, perigo, etc. Para logo acionar mecanismos psiquícos e subconscientes, até, impulsos instintivos associados a prática da lógica imediata. Portanto, medo de cair de avião seria natural a qualquer ser vivo por mais especial q o seja. No caso, Emannuel o guia espiritual de Chico se valeu para enobrecer a ação de consolar em casos de desespero do próximo, reforçando a tese também, da continuidade da vida. É isso.
Abç e parabéns p blog.

Livia Falcão disse...

Realmente não me aprofundei no seu artigo por pura falta de tempo, mas...sabemos que a sexualidade (ou homo) Paulo pode ser sublimada ou a energia sexual canalizada para outras atividades. Me parece que é isso o que teria acontecido com Chico. Aqui realmente não importa sua orientação, já que ele não teria dado vazão à ela. Abraço!