quinta-feira, 22 de abril de 2010

Os prazeres criminosos ou o fundamentalismo dos não-fumantes


É apenas uma impressão, ou o mundo anda com uma tendência perigosamente fundamentalista. Um fundamentalismo com a desculpa de ordem, de colocar as coisas nos eixos, sob alguma lei, moral, dever. Uma espécie de perseguição que atinge várias áreas da vida. São aqueles que buscam e acreditam na verdade absoluta. O absoluto existe, mas não a verdade absoluta. A verdade se move, cresce, se expande. Nós crescemos para ela.

Minha mestra de Kabalah, Tânia Carvalho, uma vez disse: imagine você aos 10, aos 20 e aos 40 anos. Em cada idade você sabia e acreditava em determinadas coisas sobre você e a vida de forma diferente. Sua percepção a cerca do mundo e de si mesmo foi mudando com o tempo. Hoje você pode olhar para trás e achar que o que você acreditava aos dez anos era mentira. Mas se você descartar quem você era aos dez aos, aos vinte, você estará matando uma parte da experiência que te fez chegar até aqui, com a compreensão que você tem hoje. Não era mentira o que você acreditava e percebia. A verdade cresceu.

Em parte é por isso que é preciso questionar e procurar a verdade. Suspeite dos jornais, das revistas, da televisão, dos cientistas, dos padres, do papa, dos pastores, dos médicos. Não acredite que eles têm a verdade absoluta. Eu vivo dentro do meio jornalístico e sei: a verdade não está escrita nos jornais. Ela não passa nem longe, quanto mais perto.

Temos a tendência a julgar personagens pelo que a mídia nos apresenta. Mas lhes digo, acreditar piamente na mídia é um erro e um perigo. Podemos estar sendo facilmente manipulados. O melhor é prestar atenção e se municiar de informações variadas, de informações de pessoas confiáveis, ou dos vários lados que conhecem ou presenciaram a notícia...

Mudando de assunto, mas ainda falando de fundamentalismo. Fiquei pensando outro dia numa realidade bem próxima, sobre como nós podemos acreditar que estamos fazendo o bem comum e ainda assim cedemos a tirania. Para mim, quando o Estado Municipal, Estadual, Federal e Internacional resolveu fazer a negação da existência do fumante, passamos a viver uma tirania social.


Vamos lembrar como começou essa luta contra a fumaça... Começaram fazendo uma campanha de conscientização contra o cigarro, as indústrias do fumígeno. Os fumantes foram chamados a repensar seu vício. Confesso que gostei, num primeiro momento, que o cigarro tivesse sido banido de alguns ambientes comuns. Não ter ninguém fumado dentro de um ônibus lotado e ver áreas reservadas para fumantes em aviões, restaurantes, repartições...foi, a princípio, gratificante.

Mas agora o policiamento começa a entrar no âmbito do absurdo. Os fumantes começam a ser perseguidos, acusados e vistos como pessoas que cometeram algum delito grave. Os locais para exercerem seu prazer (ou vício) em público sumiram e eles estão sendo encurralados. Criaram até uma máquina para medir o nível de fumaça no ambiente, isto quer dizer, se alguém fumou, mesmo que já tenha apagado o cigarro, a máquina registrará.

Algumas pessoas ainda chegam ao cume de perseguir os fumantes em sua própria residência. Outro dia uma amiga minha foi abordada pelo síndico do seu prédio. Ele havia recebido uma reclamação da vizinha sobre a fumaça que saia do apartamento dela (da minha amiga, vamos dizer que o nome dela é Joana). Joana tomou algumas providências, fechou a circulação de ar, acima da porta, e passou a fumar na área da varanda. A mulher continuou reclamando. Não suportava o cigarro. Foi preciso que o dono do imóvel conversasse com o síndico e a mulher para chamar atenção do absurdo da situação. “Agora tenho que avisar no jornal que só será alugado para não fumantes?”, questionou o dono.

O fundamentalismo está na religião há muito tempo, quando os religiosos evangélicos, católicos, judeus, mulçumanos atestam que a sua verdade é mais verdadeira do que a dos outros. É como dizer: O MEU DEUS LIMPA MAIS BRANCO...

Na política existem aqueles que perseguem quem muda de opinião. Sei que há muitos oportunistas nessa seara, mas mudar de opinião, de partido, de companheiros... a liberdade deveria ser algo salutar e renovador. Claro que os políticos acabam usando a liberdade para pular de partido segundo suas conveniências e muito pouco tem a ver com qualquer ideal o ideologia. Mas as pessoas não deviam ser obrigadas a permanecer onde não querem mais ficar, nem muito menos serem reféns de algo ou de alguém.

No meio jornalístico há o patrulhamento intelectual. É pecado revelar aspectos de uma alma que tenha algum laivo brega ou que não esteja antenada com as notícias do dia. As pessoas que estão fora desse parâmetro são alienadas. Também é errado ser de direita, gostar de Roberto Carlos, Steven Spilberg ou ler livros de auto-ajuda...


O fundamentalismo (ambientalista, materialista, espiritualista, e quantos mais ista tiver) parece que vai entrando pelos poros, olhos, pele, cabelo, toma o corpo e quando vemos já estamos engalfinhados num calhamaço de regras tortas que devem nos proteger do outro. Vamos entregando nossa liberdade de escolha e movimento em troca da segurança. Uma segurança totalitária de que seremos ouvidos, entendidos, protegidos. Uma segurança que para funcionar é preciso que todos se comportam e pensem igual.

Para mim a unanimidade não é burra, antes é um estado de espírito, onde há uma compreensão real e em uníssono de qual o caminho, a decisão, a ação a tomar... mas isso não pode ser impingido goela abaixo.

Não podemos nos deixar enganar pela falsa ordem. Porque, então, estaremos sentando no colo do Grande Irmão, o verdadeiro Big Brother, aquele que George Orwell apenas vislumbrou, mas que nós estamos cada vez mais conhecendo. Desculpem-me se estou parecendo demasiado alarmista, mas os tempos estão muito estranhos ultimamente.

O vídeo abaixo é o discurso de Charles Chaplin no filme 'O Grande Ditador',
vale a pena dar uma olhada e entender um pouco mais sobre os perigos da intolerância.

4 comentários:

Moreira disse...

Adoro lê-lo, texto interesantíssimo, posso divulgar?

jussara disse...

Adorei! Suas idéias e ideais são de um pensandor.

mastigada disse...

Sim Moreira, pode divulgar a vontade. Obrigado pelo elogio. Um abraço,

Sirius disse...

Muito bom....não havia pesado nisso, ou seja, da tirania em relação aos não fumantes. Tudo seria mais fácil se as pessoas respeitassem umas as outras, mesmo na "sutileza" do fumar!

Ainda não cheguei no Serra...confesso que não tenho muita vontade de ler sobre ele...mas sua expressão é tão convidativa que...vou até lá!

Gostei da foto! Sua