quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Na Paraíba: o herói, o anti-herói e o homem

Vamos imaginar que a vida é uma ficção. Vivemos num estado chamado Paraíba e acompanhamos a vida de uma personalidade pública, política. Estamos em 2010, nossa personagem tem 47 anos, é um homem, e vive momentos de agonia e felicidade, no auge de uma batalha. Uma luta encarniçada, brutal, feroz. Digna de gladiadores instintivos e apaixonados.

Ele é daqueles homens que conseguem imprimir empatia com o público. É considerado um homem bonito. Tem uma ansiedade que alguns podem chamar de hiper atividade. É centralizador, mas também do gênero que constrói uma relação de fidelidade com seus escudeiros e comandados. Daquelas fidelidades caninas... Muitas vezes emotivo na sua relação com o público. Tem pleno domínio da platéia que o ama.

Um típico herói?

Sente-se injustiçado e perseguido. Vive um martírio público. Deseja vingança, cria estratégias consideradas de traição e dominação. Tem atração e apego ao poder. É vaidoso, talvez manipulador.

O protótipo do anti-herói?

Vive ou já viveu situações dramáticas. Primeiro com o pai, que alvejou com três tiros um desafeto político. Era para lavar a honra da família e do filho, disse o pai, que hoje está numa cadeira de rodas. Dizem, por culpa. A mãe, uma mulher gentil. Foi quem lhe sugeriu criar um programa de ajuda aos mais necessitados. Uma idéia caridosa. Mas foi essa idéia que no final das contas o levou a se meter em encrenca com a justiça eleitoral.

Ele já admitiu alguns erros, mas talvez precisasse ir mais fundo...

Talvez não devêssemos olhar para o homem público. E sim para o pai de família, o marido, o irmão, o filho. Olhar para aquele que à noite fecha os olhos, deita a cabeça no travesseiro e não dorme. Não por algum peso na consciência, mas porque continua tiquetaqueando dentro do pensamento. Procurando... Continua ouvindo a batida do coração, a respiração enchendo e esvaziando os pulmões...

Sabe aquela sensação que dá quando fechamos os olhos e achamos que o mundo só existe enquanto olhamos para ele? Pois é. Não é verdade. O mundo permanece, mas diferente sem a nossa presença. Nos resta entender que a vida vai além de qualquer disputa de poder, seja dentro de casa, ou num palácio.

Mas voltando a nossa personagem.

Esse homem viveu seu inferno e encontrou forças naquele poço interior que é uma mistura de fé e vingança, de raiva e certeza. De justiça e destemor. Ele manteve a crença em si mesmo. Avançou, às vezes, contra tudo e contra todos. Demonstrando coragem certeira. Em alguns momentos aos olhos do que o amavam, parecia um homem que não temia o sacrifício, obstinado, destemido. Pronto para o que fosse necessário. Com apenas um objetivo: vencer. A vitória era o combustível da vida.

Aos olhos dos que o odiavam era o símbolo de uma oligarquia. De uma força política que quer se perpetuar no poder. Que se articula da mesma forma que as velhas forças políticas sempre fizeram: com pressões, autoritarismo, exigindo a tal fidelidade canina. Seduzido com falsas promessas. É o velho travestido de novo, dizem.

Qual dos dois é o real?

O ser humano é cheio de matizes. Não dá para dizer se é um ou se é o outro. Ninguém é apenas de uma cor. Talvez ele seja os dois, o herói, o anti-herói, sem tantas tintas fortes. Nem maquiavélico, nem santo. Talvez ele seja apenas um homem que está buscando ir além da bondade e da maldade. Que quer fugir dos conceitos. Talvez nem a personagem saiba qual o papel que deve viver de fato...

Mas uma coisa é certa. Este homem foi colocado pelo destino numa posição privilegiada: para servir de paradigma do certo, do errado, do perdão, da luta e, acima de tudo, da percepção que é sempre possível recomeçar. Que nada nos pertence. Nada. Nem a verdade, nem o amor, nem o poder. Nada. Muito menos os favores de uma sociedade corroída pelo egoísmo, que clama pelo espetáculo.

O que ele fez de fato para ser amado e odiado? É difícil dizer, porque a história é contada pelos ganhadores, e muitas vezes, essa história é apenas um pedaço da verdade. E, francamente, não tenho condições de conhecê-la como um todo. Por isso, faça seu próprio julgamento e arque você com as conseqüências de seu juízo.

Não sou bom em dar conselhos e dizem os mais materialistas que se conselho fosse bom não se dava, se vendia...mas lá vai...

Seja o que for que venha a acontecer: siga transcendendo, siga transformado. Às vezes, na nossa estrada, somos metidos numa máquina de desconstrução, de dissolução, onde o destino parece que quer moer nossa vida e por mais que pareça próxima a vitória, ela fica distante.

Talvez queiram dizer que a vitória é outra. Que a vitória pode até vir, mas não será nossa. Parece que o destino quer mandar um recado: tem a ver com conseguir realizar uma mudança, trazer um pouco mais daquela parte de você que anda esquecida à tona, a melhor parte. Aquela parte que fala quando você fecha os olhos e pensa: o mundo permanece, mesmo que eu não esteja nele.