quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O voto do ódio e a religião

A religião anda dando as caras nas eleições desse ano. Da pior forma possível.

Em João Pessoa circula em e-mail anônimo, e em alguns blogs, que afirma que o candidato Ricardo Coutinho (PSB) é ateu e fez um pacto com o dito cujo. O socialista teria construído também sete monumentos na capital para celebrar essa força. O e-mail ainda diz que o pacto teria sido feito através de uma mãe de santo. O sete seria uma referência a um número cabalístico. Como todos sabem, afirma o tal e-mail, a Cabala é a interpretação equivocada, porque demoníaca, dos textos da Bíblia.

Em escala nacional tem sido a candidata Dilma Rousseff a atingida. As igrejas católicas e protestantes têm orientado seus fieis para não votarem na petista. Alguns pastores e padres em suas preleções afirmam que a candidata é a favor do aborto, do casamento gay – há um e-mail que diz que Dilma teve um caso com uma mulher durante 15 anos. E, além disso, também é ateia.

Nunca vi tanta baboseira e preconceito juntos!

E José Serra perde muito da sua credibilidade como político ao usufruir dessa campanha e não deixar claro que ele não pactua com essas idéias tortas.

Bem, antes de qualquer coisa. Não é salutar quando religião e política se misturam. Não em nossa sociedade atual. Os exemplos claros recentes são o oriente médio e seus estados totalitaristas. O inverso também não é positivo: os estados comunistas e o cerceamento de religião. O radicalismo tanto de esquerda quanto de direita são retrocessos dos quais não se tem nenhuma saudade, definitivamente.

A religião também já mandou no mundo e fez surgir fogueiras para queimar as mulheres. As mulheres não podiam pensar diferente que seriam tachadas de bruxas. Essa era a época em que qualquer peste era um sinal do demônio. E essas fogueiras eram erigidas sempre visando interesses particulares, políticos e econômicos. A Igreja e o Estado comandavam o circo, mandando matar os ‘enviados do demônio’ e se apossando de seus bens.



A população era manipulada, e ainda é, pela religião que mantém seus palácios folheados a ouro em Roma. A mesma religião que defende que não se use camisinha, mesmo com risco de pegar AIDS, e fala da abstinência sexual como forma de prevenção das doenças e das altas taxas de natalidade infantil. A população é manipulada por uma religião eivada de escândalos de pedofilia – ela passou anos tentando escondê-los, enquanto milhares de crianças eram consideradas elas as pervertidas. Enquanto isso, seus padres, pastores, bispos, eram promovidos...

Foi a religião quem disse que os negros não tinham alma e os condenou a anos de escravidão. Mais uma vez aí estava o interesse econômico. Foi a religião que foi utilizada por Adolf Hitler para subjugar os judeus (os assassinos de Cristo, diziam) e lhes roubar jóias, dinheiro, casas, carros, móveis, cabelos, dentes, roupas e a vida.

As pessoas têm o direito de não acreditar nas religiões ou não professá-las e isso não significa que elas não acreditam no Absoluto. Significa apenas que elas não se encontraram nos caminhos oferecidos pelas religiões. E ainda que não acreditem em D'us, ser ou não ser ateu não significa ser mal, assim como ser ou não ser religioso, um fervoroso e assíduo freqüentador de templos e igrejas, não significa ser bom. Conheço ateus que são muito mais cristãos que aqueles que batem no peito a sua fé em praça pública, mas no final das contas são larápios contumazes ou hipócritas.

Sobre o aborto, concordo com o Ciro Gomes (PSB) que diz que a opinião de Dilma e de Serra são idênticas. Os dois são contra o aborto, e pensam na questão como males de saúde pública. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde, entre 729 mil e 1,25 milhão de mulheres se submetem ao procedimento anualmente no Brasil. Destas, pelo menos 250 morrem. Quando não morrem, por vezes essas mulheres acabam com sequelas irreversíveis. Algumas colocam produto químico ou objeto metálico no útero para abortar. A chance de infecção e perfuração é muito grande, 1/3 de quem tenta abortar acaba procurando ajuda no hospital. São esses números que fazem com que o assunto na campanha do jeito que está se torne melancólico.

Em relação a Ricardo Coutinho e os monumentos. Primeiro o monumento ‘O porteiro do inferno’ não é da gestão de Coutinho. Foi construído na gestão de Pedro Gondim. O nome ‘Porteiro do Inferno’ refere-se a mitologia grega. Existe um outro monumento em Mangabeira que lembra um Obelisco, com uma cruz no cume. Vale a ressalva que em João Pessoa já tem um obelisco: na Praça da Independência, e existem vários obeliscos no mundo, a exemplo de Paris, Washington, Buenos Aires, Cairo, etc. Mesmo que a obra não seja um Obelisco, tem uma cruz... e desculpa aí, mas dizer que a cruz pode ser um símbolo maléfico é o fim da picada.

Há também o monumento à Ariano Suassuna, esse é feio que dói. Mas fora isso, não tem contra indicação. É inspirado no Movimento Armorial idealizado por Suassuna que resgata a aspectos da cultura popular. Por isso está cheio de carrancas e tem esse visual meio de totem.



Sobre o sete ser um número cabalístico. É verdade. Porque foi no sétimo dia que D'us descansou e disse ao homem para lembrar. ‘Lembra do sábado’. Assim, o sete é o número da lembrança do propósito do homem na terra. Do porquê Ele nos criou. E desculpem os leigos que querem jogar na fogueira a milenar Cabala, repassada por Moises aos seus próprios discípulos. A Cabala, ou Kabalah, não é a interpretação demoníaca da Bíblia. È a interpretação de grandes rabis – mestre judeus – da palavra de D’us.

A Cabala fala do retorno do homem ao seu Criador. Ensina essa caminhada. Ela entende que os textos sagrados não devem ser tomados de forma literal. Para a Cabala, D’us espera de nós muito mais do que apenas seguir ordens cegamente. Ele quer que nós reencontremos a semelhança divina. E essa semelhança jamais será alcançada por vaquinhas de presépio.

Devemos realmente ter cuidado com o mal. O mal que anda nas cabeças e nas bocas daqueles que o buscam insistentemente. Acreditam nele e lhe dão força. Afinal, quem procura acha e passar a viver nessa companhia. Caros amigos, há coisas melhores para fazer do que estimular o ódio religioso. O ódio só alimenta a si mesmo e esse não é o Caminho deixado e ensinado por Cristo.

4 comentários:

Anônimo disse...

É verdade. quando Estado e Igreja se separaram (viva Lutero!) viu-se que quem matava mesmo era o Estado, a religião era o pretexto.
A igreja salvou da fogueira milhares de mulheres, pois quando o cristianismo chegou na Índia, as mulheres eram queimadas na mesma pira que seus defuntos maridos. Para prevenior não fossem usados por outro homem. Isso se conseguissem chegar ao casamento, pois muitas delas eram mortas ao nascer, onde se viu, uma mulher primogênita!
Já o Estado continuou matando. O Marxismo-leninismo matou milhões de dissidentes (sem religião), e o mesmo fez Hitler, não por um motivo religioso conforme o post leva a crer, mas racista.
Hiroshima, Nagasaki... enfim, o
Estado é o verdadeiro assassino. A religião é a desculpa.
Ah, os padres e pastores executados pela ditadura de Fidel...
Mas, se como dizem, Deus é Brasileiro, teremos a vitória da Dilma, apesar do jogo sujo orquestrado pela banda podre da igreja cristã e a imprensa das elites.

Unknown disse...

caro paulo, é realmente uma pena essa perda de tempo com prestação de contas sobre algo tão pessoal qto a religião de cada um, seja ele candidato ou não. é triste ver o tempo utilizado para se justificar ao invés de se propor algo novo e interessante. creio ser essa a velada intenção de maranhão e seus 'seguidores'. a exemplo do que foi feito a dilma, semanas atrás. é tão pequeno, tão medíocre essa relação de subserviencia a principios morais de um grupo X ou Y. se dilma é sapatão ou ricardo macumbeiro não seriam por isso piores (ou melhores) gestores da coisa pública. é triste e enfadonho ver suas justificativas nos horários políticos desperdiçando o mesmo horário que poderia ser utilizado para o debate/demonstração de ideias novas para o cenário atual.

Unknown disse...

pensando bem podemos tirar uma valiosa lição disso: podemos ver como temas mais delicados (direitos dos cidadãos gays, aborto e por aí vai) são vistos pela sociedade e por aqueles que nos representam. outra coisa digna de nota é a força que tais grupos neo-pentecostais vem adquirindo nos últimos anos. é esperar pra ver, mas jamais esperar sentado.

Marcia disse...

Olá Paulo, bom dia!
Gostei demais do seu artigo, vivo aqui na Alemanha, mas acompanho passo a passo o desenrolar da nossa política, mesmo porque apesar de estar fora serei obrigada a votar. Está na hora de parar de usar a religiao, a fé como pretexto para se alcancar objetivos. Peco licenca a você para publicar este artigos em um dos meus blogs. Este tema tem de ser mesmo passado adiante, para conscientizar as pessoas, a tomarem uma posicao de observar mais o caráter dos seus escolhidos.
Um grande abraco, feliz domingo e uma ótima semana!