terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ricardo e a revanche de Cássio ou o repeteco de 2006


Alguns podem dizer que eu estou exagerando, que Cássio Cunha Lima (PSDB) e Ricardo Coutinho (PSB) são personagens bem diferentes no cenário político paraibano. Concordo, mas que a eleição tem sabor de Déjà vu, isso tem.

Em 2006 os votos de Campina e João Pessoa se anularam e a disputa ficou no interior do estado, onde Cássio alavancou urnas principalmente nas cidades pequenas. A estratégia desse ano foi semelhante, com um adendo: a campanha de Ricardo investiria no interior junto com Cássio e Efraim. Cássio garantiria os votos de Campina e Ricardo os de João Pessoa.

Então, vejamos os votos de João Pessoa para Ricardo Coutinho. Em 2004, João Pessoa deu 215 mil votos a Ricardo Coutinho numa disputa contra o ex-secretário de governo de Cícero Lucena (PSDB), Ruy Carneiro (PSDB). Em 2008 foram 262 mil, Ricardo disputava o voto com um candidato sem expressão, o deputado João Gonçalves (PSDB).

Agora as eleições estaduais. Em 2006, Maranhão obteve na capital 190 mil votos, contra 132 mil de Cássio. Nesta eleição Maranhão ficou com 130 mil e Ricardo com 213 mil votos. Notem. Ricardo teve seu cabedal eleitoral normal numa disputa forte. A mesma da eleição de 2004.

Os votos de Ricardo permanecem os mesmos. Não houve nenhuma alteração. Digo mais, Esses votos são daqueles eleitores que não se importaram com as alianças de Ricardo com Efraim e Cássio, ou pelo menos já a assimilaram. Também daqueles que aprovaram a retirada dos camelôs e das barracas das calçadas, gostam das novas praças que a cidade recebeu e vêem sua administração com mais idéias e ações acertadas, do que erradas. E parece que não adianta dizer que RC é autoritário. Para esse grupo de pessoenses, enquanto houver resultados positivos o estilo autocrático do socialista será desculpado. Há um outro fator: JP acredita que está na hora de um candidato pessoense assumir o Palácio da Redenção. Também é um voto bairrista neste sentido. Mas não é só o bairrismo que move a capital. Esse é um sentimento que existe, mas não é o principal.

Caso a caso
- Voltando à comparação com 2006. É possível dizer que a performance de Ricardo foi comparável a de Cássio nas maiores cidades do estado. A mudança aconteceu apenas em Bayeux, onde se inverteu fortemente a tendência. Quer dizer, em Bayeux Ricardo foi mais bem votado que Cássio, talvez porque a cidade fique muito próxima da capital, seja quase um apêndice. Houve alguma alteração também em Santa Rita, mas Maranhão obteve praticamente a mesma votação. Todavia, Ricardo teve 4 mil votos a mais que Cássio em 2006.

Vamos aos números. Em 2006, Cássio recebeu em Bayeux 20 mil votos e Maranhão 28 mil. Neste ano, Ricardo ficou com 27 mil contra 21 mil de Maranhão. Em Santa Rita, Maranhão teve 30 mil votos e Cássio 24 mil em 2006. Neste ano, o governador obteve 29 mil e Ricardo 28 mil votos. Em Guarabira, a situação também foi um pouco alterada. Em 2006, Maranhão teve 16 mil votos, contra 11 mil de Cássio. Neste ano Maranhão ficou apenas com 14 mil contra 12 mil de Ricardo. Essas mudanças são interessantes e apontam uma penetração maior de RC no eleitorado que normalmente vota no PMDB. Nas demais cidades há pequenas oscilações para mais ou para menos, mas as votações seguem rigorosamente os números de 2006.

O voto a mais nos redutos de Maranhão, foram conquistas de Ricardo. O restante, repetem 2006 e apontam para outro lado. Posso estar enganado, mas é como se das urnas um voto de censura tenha sido dado à cassação do ex-governador Cássio Cunha Lima, isso também fica claro com a votação estrondosa dada a tucano para o Senado. Praticamente igual ao que recebeu em 2006 para o governo do estado. Naquele ano, Cássio obteve Um Milhão e Três Mil votos no segundo turno, e hoje Um Milhão e Quatro Mil, enquanto Maranhão ficava com 950 mil.

Entendam, são duas coisas: uma é João Pessoa que aposta numa outra direção para a gestão estadual e aponta Ricardo como sua opção. Outra, é o resto do estado (que tem Campina como ponta de lança) que censura as decisões da Justiça contra Cássio e quer rever a posição do estado.

Não quero dizer com isso que Ricardo não tem peso na decisão do eleitorado do interior, longe disso. Cássio é um bom articulista, mas não é possível vender candidatos ruins e RC está longe de ser uma 'mercadoria' difícil de engolir. Ele tem empatia, fez propostas pra lá de interessantes para os eleitores e já demonstrou que é um bom gestor. A administração socialista repercute otimamente no interior do estado.


Campina Grande
- Ainda podem dizer que o prefeito Veneziano Vital do Rego (PMDB) e o senador Vitalzinho (PMDB) fizeram pouco pelo governador. Mas será verdade tal afirmação? Tudo bem, em 2008, Veneziano ganhou uma eleição acirrada em Campina (116 mil votos, contra 109 mil de Rômulo Gouveia/PSDB). Mas, em 2006, Cássio ganhou em Campina Grande por 136 mil votos contra 63 mil do governador José Maranhão (PMDB).

Este ano, Maranhão melhorou sua performance (pifiamente, diga-se) para 68 mil, enquanto Ricardo ficava com 130 mil votos. Para mim, os números são coerentes.
Os campinenses quando instados a escolher entre dois candidatos de Campina, de grupos diferentes e fortes, se colocam exatamente divididos e o embate é difícil. Mas se o candidato é de fora do município tendem a seguir o ideário de que Campina vota em Campina. Por isso o voto em Cássio e Rômulo Gouveia. Ponto.

Acredito que o ‘Cabeludo’ fica nua situação difícil para pedir que votem em Maranhão e contra Cássio, significando o que Maranhão significa para a derrocada de Cássio.

Esse parece ser o troco dos campinenses ao governador que cassou o mandato de Cássio. Para mim esse revanchismo é claro. Um sinal mais do que evidente da rejeição do peemedebista nas searas da Borborema.

Parece que voltamos no tempo, ou tudo se precipitou estranhamente e agora, ao invés de Cássio, Maranhão tem dois personagens emblemáticos contra ele: o próprio Cássio e Ricardo Coutinho. A batalha no segundo turno será dura. Como diz uma amiga minha: de sangue...

2 comentários:

Marcel disse...

Grande Paulo. Sua análise é perfeita, trouxe coisas que eu não tinha parado para pensar. E, as comparações com a eleição passada elucidam muita coisa. Para mim, a conclusão de que Ricardo manteve seu eleitorado em Jampa foi uma surpresa. A mesma surpresa do resultado. E sobre a análise de CG, concordo com vc, há uma rejeição natural para com Zé, aumentada pela derrubada de "Casse-o" do poder. Abraços

Ana Cavalcanti disse...

Paulo,
É a primeira vez que votaram juntas, João Pessoa e Campina...não é?