sábado, 1 de maio de 2010

Reflexões a cerca da violência, do bem e do mal


Saí com meu irmão para comprar algumas peças do carro. O carro que ele bateu, mas não tem dinheiro para pagar o conserto. O sol escaldante das 13h abaixo do trópico de câncer, na verdade, bem abaixo da linha do Equador. Um calor intenso....

Vi homens e mulheres na rua, os pedintes, os trabalhadores, os carros passando ...olho e não deixo de ver a violência das pessoas que falam, a violência nas ações humanas.

Parece que a violência é inerente ao homem.

Afinal, a ação é uma violência se comparada a placidez e a calma de um jardim. Penso num mar tranqüilo e as braçadas de um homem nesse mar, movendo e batendo na água, é a violência. Um arado sendo puxado por um boi e um homem fazendo sulcos para meter a semente na terra, é a violência.

Talvez a violência não seja apenas uma qualidade do homem, mas da própria natureza quando ela resolve fazer suas intervenções. A violência de um vulcão, de um maremoto, de um terremoto, de uma tempestade.

O movimento representa a violência em relação ao estado anterior. A evolução, de certa forma, significa a violência contra a estagnação.

Mas há outra violência, e essa é cometida apenas pelo homem, ou em grande parte pelo homem: Matar um ser da própria espécie por prazer. O homem é capaz dessa violência, sem nenhum propósito maior, apenas pelo prazer de dominar, pelo desejo de poder.

Esta é outra violência, que se refere as escolhas de bem e mal, bom e mau, de certo e errado. Às vezes, pessoas boas fazem coisas ruins acreditando que estão agindo corretamente. Só o tempo vai mostrar que não há nada de correto na ação. Apenas algum desejo, de tirania, de posse, de controle, algum medo...

Na verdade, acredito que o homem pode ser o que acreditar ser. Talvez tudo vá depender de suas escolhas.

Mas como pessoas boas fazem coisas más, às vezes até sem querer? Como, e por que, abdicamos desse caminho que para nós parece o melhor (o do bem) e acabamos atolados num outro caminho sinuoso e cheio de sombras?...

Talvez porque o bem não seja um caminho tão simples. O verdadeiro bem não separa mais as ações em certo e o errado. Ele une a luz e a sombra num só propósito. É desta forma que algumas ações podem parecer más, mas visam o bem e algumas ações podem parecer boas, mas visam o mal. Então, em alguns momentos fazer o bem a alguém é ir contra a evolução e fazer o mal é atender ao apelo evolutivo.

Espero que me entendem, não estou aqui dizendo para saírem batendo na cara do primeiro que encontrarem pela frente. Estou dizendo que qualquer ação já é uma violência em relação ao meio e as pessoas que nos cercam. Estou dizendo que o bem ou mal dessa ação será exposto nas intenções de cada um de nós e às vezes só o tempo poderá dizer se a direção das ações levam para cima ou para baixo.

Para definir se algumas ações são boas ou não é preciso ter um olhar além do tempo. Os Hierofantes, os grandes vizires egípcios, tinham essa percepção. Mas enquanto não somos hierofantes é melhor questionar quais são nossos desejos e interesses.

Muitas vezes guardamos rancor, raiva, ódio, mágoa, ressentimentos... Assim o coração vai ficando negro e quando menos percebemos aí estamos nós, sentados confortavelmente ao lado de outros irmãos intolerantes e ainda dizendo que o inferno são os outros...

Não podemos esquecer que o amor também leva à violência. As pessoas matam por amor, e não falo só do amor pessoal. O amor a pátria, a uma religião, a uma idéia. Vai ver que o inferno está no que nós acreditamos e pelo que nós lutamos...

Uma vez eu disse a um sábio, quando ele me perguntou como eu estava: estou lutando contra sentimentos que me fazem mal. Ele disse: não lute.

Entendi que a luta é como estimular ainda mais o opositor. O melhor é deixar que o opositor, seja ele quem for, lhe mate em suas crenças e você, quem sabe, poderá abandonar a certeza, inflexível, de que é você quem está com a verdade e a razão...

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