terça-feira, 28 de setembro de 2010

Um Cássio meio (50%) kamikaze

Nos guias de segunda-feira (27/09) e desta quarta-feria (29/09) o ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB) deixou claro que não irá renunciar e colocar outra pessoa no seu lugar. Das duas uma: ou o tucano conhece o futuro, coisa que a maioria dos pobres mortais não tem idéia, ou ele resolveu arriscar tudo, meio que ‘chutar o pau da barraca’.

Descarto a possibilidade de um blefe. Não pegaria bem e o campinense já demonstrou ser um homem razoavelmente coerente em suas colocações. No pronunciamento da TV ele deixa apenas uma brecha para mudança de decisão: caso a Justiça não permita mais que ele se candidate.

Encarando desta forma, seria necessário uma definição por parte do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à aplicabilidade ou não do Ficha Limpa ainda nessas eleições. O Tribunal se reuniu na quarta (28/09), mas não decidiu nada (estão cinco votos a cinco). Preferiu arquivar a peleja já que o reclamante – Joaquim Roriz – desistiu de sua candidatura e colou a mulher no lugar para disputar o governo do Distrito Federal. O objeto de apreciação dos juízes já não existe mais...

Analisando os fatos, parece que Cássio percebeu que está muito em cima da hora para fazer uma mudança tão brusca na campanha e os prejuízos poderiam ser incalculáveis. Já que nada garante que o seu substituto receba a mesma votação que ele receberia. Para mim, não é um equívoco afirmar que Cunha Lima preferiu ir para o tudo ou nada, numa atitude quase kamikaze – aqueles aviadores japoneses em missões suicidas – do tipo melhor morrer na luta do que se deixar abater sem tentar atingir o alvo. Mas as chances dele conseguir seu tento (ser eleito e conseguir manter o cargo após as eleições) são de 50%.

Explico. Se por um lado a Lei de Ficha Limpa passar no STF numa próxima apreciação valendo já para este ano e ainda por cima abraçar casos de candidatos já condenados – isto é, retroagir – o ex-governador sofrerá o ostracismo da política estadual. Cássio ficará fora pelo menos de toda a disputa eleitoral até 2014. Ele não poderá se candidatar nas eleições municipais e nem na próxima eleição para o governo do estado.

Talvez Cássio tenha pensado que é melhor sacrificar a própria candidatura e evitar fazer um movimento desesperado nesse momento. A atitude (uma desistência) atingiria diretamente mais dois candidatos: Ricardo Coutinho (PSB) e Efraim Morais (DEM). Cássio puxa os votos para os dois candidatos. O vôo do tucano pode realmente ser arriscado, mas é estratégico.

Os outros 50% (de possibilidades positivas) estão numa aposta, de que o STF se coloca numa situação delicada se decidir – ao que tudo indica fará assim – chegar a uma conclusão sobre a Ficha Limpa só depois das eleições, provavelmente após a nomeação por Lula de um novo integrante para a vaga de Eros Grau que se aposentou.

Aí surge uma questão. Se a decisão for pela validade da lei, como ficarão os votos de milhões de brasileiros que escolheram alguém atingido pela Lei? Serão anulados?

Existem alguns candidatos, como Cássio, mas também alguns deputados, inclusive do próprio PT, que puxam votos para a legenda e ajudam a eleger outros da aliança. Como ficam esses prováveis candidatos eleitos, se eles só conseguiram se eleger graças aos votos da legenda, se esses votos forem anulados?

O STF tem uma batata quente em mãos, que deve ser repassada para o próximo magistrado. Não há dúvidas de que o nome indicado por Lula já será sabatinado sobre a questão e nós sabemos como os políticos são ciosos em relação a sua própria classe...

Sei não, mas a decisão, bem que pode ser pela NÃO aplicabilidade da Lei neste ano...mas não dá para prever de fato, já me disseram que cabeça de juiz é imperscrutável.

Só para vocês ficarem a par. Antes do pronunciamento de Cássio na televisão, no seu guia, os boatos davam conta que ele estava em dúvida se iria escolher a mulher, Silvia Cunha Lima, ou o tio, Ivandro Cunha Lima, para colocar no seu lugar. Pelo jeito ele optou por uma outra direção.

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