quarta-feira, 15 de setembro de 2010

‘Do Começo ao Fim’, primeiro filme gay do Brasil


Apesar do título do artigo, sei que o cinema brasileiro já produziu outros filmes que tocou, de uma forma ou de outra, na temática gay. Devem ser mencionados os filmes ‘A Rainha Diaba’ e ‘Madame Satã’. A Rainha Diaba, dirigido por Antônio Carlos Fontoura em 1974, conta a história de um homossexual que controlava o tráfico na Lapa. Interpretado por Milton Gonçalves, o filme é inspirado numa história escrita por Plínio Marcos – o teatrólogo mais marginal que o Brasil já teve.

O segundo filme, Madame Satã, dirigido por Karim Aïnouz conta a história real de João Francisco dos Santos, travesti que vivia na Lapa, considerado uma referência na cultura marginal urbana do século XX. Dá para notar que os dois filmes têm muito em comum...

Há também ‘Vera’, direção de Sérgio Toledo, 1987, com Ana Beatriz Nogueira (urso de prata pela atuação). O filme conta a história de uma interna da Febem, homossexual e poeta (a Vera do título). No longa, Toledo aborda desde os maus-tratos no internato ao suicídio, em 1982, passando pela fase em que saiu da Febem pelas mãos do (então) deputado Eduardo Suplicy que, sensibilizado com seu talento, deu-lhe apoio e conseguiu-lhe emprego. A história é baseada em fatos reais.

Bem, depois dessa, digamos, introdução ácida aos filmes com temática gay produzidos no Brasil, vamos ao açucarado filme ‘Do Começo ao Fim’ lançado em 2009 sob a direção de Aluizio Abranches.

Do Começo ao Fim’ pretende ser uma história de amor entre dois homens, com um adendo polêmico: os dois são irmãos – de pais diferentes. Em parte, o filme cumpre o prometido.

Com uma história delicada e poética – e absurdamente romântica, mais açucara que ‘Candelabro Italiano’ – de um amor que nasce na infância e é consumado quando Francisco (João Gabriel Vasconcellos, modelo profissional na vida real) e Thomás (Rafael Cardoso, o moço é ator profissional e faz parte do elenco da novela TiTiTi) se tornam adultos. A cena que os dois se despem quando vão se amar pela primeira vez é estranhamente teatral e forçada. Apesar da beleza, 'Do Começo ao Fim’ perde a oportunidade de aprofundar a temática.

O filme acaba servindo para mostrar cenas tórridas - os dois atores parecem realmente que vivem uma paixão sem reservas - a partir da segunda metade do longa e para Abranches defender a idéia que o amor nasce independente de sexo, filiação sangüínea, raça ou religião, sem pecado ou fronteira... A tentativa do diretor é louvável e interessante.

Ao deixar de fora os questionamentos – o filme salta da infância para a fase adulta - sem mostrar as descobertas e conflitos sexuais dos dois, o mundo mostrado na tela fica quase edulcorado.

Tudo bem, é uma proposta, onde o amor e sua expressão é mostrado quase de forma natural. É como se Abranches defendesse uma tese: e se essa emoção brotasse sem questionamentos e fosse aceita dessa forma, apenas como uma expressão amorosa? Se as pessoas esquecessem que são dois homens que a consumam, dois homens de uma mesma família. É como se ele dissesse: são apenas duas almas que se amam.

Seguindo essa premissa, a idéia de irmãos até ganha outra tonalidade: a universalidade. É como se Abranches perguntasse: não somos todos irmãos? Assim também é o amor entre os dois rapazes, um amor quase incondicional. Não chega a ser um sofisma, mas era necessário colocar mais luz nessas propostas...

Ok, é interessante a forma como o tema é abordado. Mas parece um desperdício de talento e dinheiro.

É inegável que Abranches conseguiu dar a sua idéia uma forma acabada, mas deixa a impressão que poderia ter apostado mais e inserido algum conflito, de qualquer ordem, amorosa ou sexual, já que a história transcorre como se os rapazes existissem numa espécie de paraíso bem próprio, longe da realidade de preconceito, desarmonia e dor do mundo reservado aos homossexuais.

Apesar disso, as interpretações são corretas – João Gabriel Vasconcelos é um pouco fraco, é verdade, mas a beleza do moço resolve a disfunção teatral. A fotografia, também do suíço Ueli Steiger, mesmo que fez Nosso Lar, é competente e a música está dentro do estilo romântico açucarado do filme. Também no elenco, Fábio Assunção, Júlia Lemetz, Jean Pierre Noher, Louise Cardoso, Mausi Martínez, Gabriel Kaufmann e Lucas Cotrim.

O filme não é ruim e, como já disse, as cenas entre os dois atores são muito bem feitas. É impressionante como Abranches conseguiu uma intimidade e interação entre os atores que parecem se amar realmente, o que é essencial para que acreditemos na história.

Além disso, é muito bem construída a primeira parte do filme - a infância - e aí está o grande trunfo do filme. São belas as interpretações dos dois atores mirins, que fazem Francisco e Thomás quando crianças, mostrando uma amizade simbiótica, que lembra, de longe, o filme inglês Almas Gêmeas, de Peter Jackson. Só que no filme de Jackson a coisa descambava para a loucura, enquanto que no filme de Abranches o caminho traçado é o amor...

Vale dar uma conferida.

Algumas informações interessantes: Do Começo Ao Fim teve um orçamento baixo, que não ultrapassou os R$ 2 milhões. Mas um vídeo promocional do filme foi colocado no YouTube e foi visto mais de 400 mil vezes, causando polêmica e comentários de todos os tipos, desde indignação até o entusiasmo. Já no Orkut, o filme também repercutiu bastante e foram criadas inúmeras comunidades, com um número de membros incalculável. O filme é o terceiro longa-metragem do diretor Aluizio Abranches, os primeiros foram: Um Copo de Cólera (1999) e As Três Marias (2002)

Para os que querem ver algumas cenas mais quentes, do teaser do filme, recomendo ENSAIO DO COMEÇO AO FIM. É só os dois marmanjos se agarrando.

Abaixo o trailer do filme

2 comentários:

Anônimo disse...

chei muito linda essa historia assisti esse filmes um monte de vezes parabens pelo blooger.

Sandro Santos disse...

Linda e polêmica a história... Mas adorei!!!