quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O vírus da intolerância no mundo


Pensem num vírus mortal, capaz de fazer com que as pessoas pensem que os outros são inimigos. Mas esse inimigo é basicamente aquele outro que pensa diferente, que é age e vive diferente de você. Assim, com esse vírus, é fácil ver o inimigo num gay, se você é heterossexual. Num cigano, se você tem emprego e residência fixa. Uma mulher de burca ou um muçulmano, se sua religião é cristã ou judaica. Um homem pobre de pele escura, se você é branco e está de carro num bairro da periferia...Um evangélico, se você é católico; um esotérico, se você é católico, evangélico ou muçulmano. É engraçado como esse vírus permeia as religiões... Um ambientalista, se você é industrial; um vegetariano, se você gosta de carne; um fumante, se você não fuma...

É o vírus do ódio.

Quem já sentiu essa emoção sabe que ela vem acompanhada de uma espécie de agonia. Algo como uma dor, com arroubos incontroláveis de violência. É o instinto na enésima potência. O ódio traz com ele também a crença, um fanatismo qualquer, uma certeza absurda da verdade que a pessoa dominada pelo vírus carrega. Essa crença se afirma ao projetar que o errado está fora de mim e que as minhas idéias e crenças religiosas, políticas, sexuais são a expressão da verdade, porque eu faço o bem, quero e desejo o bem. Assim sendo, não haveria chance de eu ser um instrumento do mal. Então, elementar meu caro, eu estou com a verdade e você que pensa diferente de mim está errado. Não só está errado, você mente! Está corrompido. E precisa urgentemente ser salvo. Claro!

E assim os homens vão se distanciando do amor, em nome do próprio amor.

O ódio é uma paixão que impele a causar ou desejar mal; impele a execração, ao rancor, raiva, ira, aversão, repugnância, antipatia, desprezo, a repulsão. O ódio quer eliminar o que não lhe apraz, ou o que lhe causa medo.

De uma certa forma o ódio está em voga ultimamente, não só nos homens e mulheres loucos aos quais mais e mais temos notícias que atiram nas escolas, que matam os pais, os filhos, que esquartejam namoradas e vizinhos. Não é só nas páginas policiais. Ele circula nas eleições deste ano no Brasil, nos boatos da internet, nas denúncias, nas humilhações e achincalhes entre os candidatos. Ele também circula pela Europa com expulsão dos ciganos e a proibição do uso da burca nas mulheres muçulmanas pelo presidente Nicolas Sarkozy.

Anda pela ascensão da direita numa comunidade Europeia em crise econômica que cada vez mais se agrava. Não digo que o ódio é sinônimo de direita, mas que muitas vezes ele é trazido nos movimentos radicais de mudança. E essa retomada da direita e suas propostas xenófobas e restritivas da liberdade devem ser um alerta.

São diversas famílias conservadoras e liberais que dominam atualmente os maiores Estados da Europa - da França de Nicolas Sarkozy ao Reino Unido de David Cameron, da Alemanha de Angela Merkel à Itália de Silvio Berlusconi. Na Suécia, sem esquecer os países da antiga esfera soviética - como a Hungria, a Polônia e a República Checa -, que também têm rejeitado as propostas socialistas.

As exceções mais notórias a este quadro político surgem em Portugal, Espanha e Grécia. Mas as sondagens, tanto portugueses como espanholas, mostram vontade de mudança.

Ainda há a nova direita americana chamada Tea Party (Festa do Chã) com a simpatia de 52% dos norte-americanos – o nome é uma alusão ao protesto de colonos norte-americanos contra a taxação do chã pelo governo britânico que resultou na independência dos EUA. Lançado em 2009, após a eleição do primeiro negro presidente americano o movimento Tea Party já tem as feições de um novo partido além dos já conhecidos Democrata e Republicano (apesar de ainda fazer parte do seio deste último). O Tea Party chegou a comparar Obama a Hitle e Stalin.

Integrantes do Tea Party, já criticaram o apoio oficial na luta contra a AIDS – eles consideram o vírus uma penitência justa do pecado da promiscuidade. Condenam a pornografia, a masturbação e a homossexualidade, e defendem a recuperação de uma sociedade de moral calvinista, em contraponto à perversão e à lascívia que, segundo acreditam, caracterizam os dias de hoje.

É verdade que a América Latina, pelo menos no seu traçado político até o momento, parece fora dessa onda, mas o ódio é como um vírus que se alastra com rapidez. Lembrem, não é a direita que tem o vírus, é o homem, e esse vírus se manifesta para todos os lados quando o radicalismo se instala.

Um comentário:

Unknown disse...

E isto mesmo Paulo, pensar diferente do pensamento globalizado, divergir e ver a verdade, pensar e refletir é muito dificil. A intolerancia realmente está muito frequente na sociedade, querem muito mais dividir do que somar.Falta olhar um pouco mais a natureza que se ajusta agregando, somando, multiplicando...