segunda-feira, 3 de maio de 2010

‘Agora’ e a fúria cristã

Assisti recentemente ao filme ‘Agora’. O filme é uma agradável surpresa protagonizada pela atriz Rachel Weisz e o diretor Alejandro Amenábar. Amenábar dirigiu ‘Os Outros’, ‘Mar Adentro’ e ‘De Olhos Abertos’ – este último foi refilmado por Tom Cruise como ‘Vanilla Sky’.

No filme, Weisz é Hypatia, uma brilhante astrônoma e matemática que se destacou no universo masculino do Egito romano do século 4 d.C. À medida que o império romano entra em decadência, Hypatia luta para preservar a sabedoria do mundo antigo em meio à crescente crença no cristianismo, ensinando na Agora da cidade de Alexandria. A mesma cidade que teve a famosa biblioteca incendiada - uma das sete maravilhas do mundo antigo.

O longa, além da visão histórica, também cria um triângulo amoroso entre Hypatia e seu escravo devoto do cristianismo (Max Minghella) e um de seus estudantes (Oscar Isaac). O filme retrata bem um mundo romano, egípcio e judaico, cada vez mais tomado pelo cristianismo, que culminaria com a Idade Média e seus vários progroms – ataques violentos aos judeus.

Hypatia é uma mulher voluntariosa e profunda estudiosa da astronomia e filosofia, vivendo numa Alexandria onde crenças egípcias, judaicas e cristãs convivem aparentemente de forma pacífica até que essa aparente calma estoure em graves conflitos e massacres.

O filme nos apresenta o fundamentalismo cristão e sua fúria, que, como disse acima, não é diferente da fúria e do fundamentalismo mulçumano e suas cruzadas santas. É triste ver que justamente Cristo, que nunca deixou nada escrito, possivelmente para ninguém fazer de sua profissão de fé um comércio ou dogma, teve suas palavras tão violentamente deturpadas. O homem que falava da liberdade viu usarem seu nome para construírem prisões, sejam elas interiores ou exteriores.

‘Agora’, mostra a barbárie na luta pelas crenças de todos os lados, seja entre egípcios, judeus ou cristãos. Estes últimos ganham o status de vilões por que é neles que no decorrer do filme vai se concentrando o poder. É engraçado ver como esses povos – a civilização egípcia é dizimada e no seu lugar surgem os árabes – construíram uma modernidade de lutas inconciliáveis, todas em torno de brigas por verdades e terras.

Em vários momentos Amenabar busca um foco fora do planeta, longe da cidade, como se fosse o espectador do além, ou como se um dos deuses olhasse para a briga entre os mortais como algo sem sentido, em torno de crenças equivocadas. Também dá a impressão que o diretor tenta um olhar atemporal e é inevitável que nesses passeios sobre as nuvens, enquanto se dessenrolam as lutas e mortes na terra de Alexandria, deixe uma sensação melancólica e incrivelmente atual. Amenábar parece dizer que tudo se repete.

Assim, vemos os cristãos derrubando estátuas – a cena lembra a queda da estátua de Sadan Hussein, uma menção quase subliminar do diretor chileno à Guerra ao Terror promovida pelos EUA depois do 11 de setembro –, destruindo a famosa biblioteca de Alexandria e literalmente apagando estudos que precisariam de milhares de anos para serem retomados. Um belíssimo filme.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu gostei desse filme, mas, eu não entendi porque, Davus, o escravo, matou ala no final...
Vocês poderiam me explicar???

Caio disse...

o escravo à poupou de ser apredejada, ele a mata e diz para os outros que ela apenas havia desmaiado, livrando-a assim de uma morte terrìvel.