terça-feira, 18 de maio de 2010

Lula e o Irã, a Globo e uma Imprensa torta

Faz algum tempo que estou querendo falar sobre a política externa do Brasil. Mas evito. O pessoal vai acabar dizendo que gosto de polemizar. Mas, confesso, não me contive ao ouvir e ler os comentaristas sobre o acordo conseguido por Lula junto ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.

O cúmulo vi no dia 17/05 no Jornal da Globo, quando os apresentadores William Waack e Christiane Pelajo entrevistaram José Augusto Guilhon Albuquerque, professor de Relações Internacionais do Departamento de Economia da USP. Enquanto José Augusto dizia:

Eu acho que isso ( o acordo) atrapalha bastante. Pelo menos atrapalha o esforço que as Nações Unidas estão fazendo para colocar o programa nuclear do Irã dentro da Linha”. “E ainda joga a bola no campo de Israel. Agora, provavelmente, Israel terá que intervir”. “O acordo vai prejudicar as soluções diplomáticas e jogar isso para um campo militar. Eu acho que o Brasil não ganha nada com o acordo, o governo Lula ganha em exposição aparente, uma aparente vitória diplomática. Mas o que vimos na reação dos principais parceiros brasileiros da Europa ocidental é que houve um certo menoscabo da posição brasileira. A posição dos franceses é terrivelmente contra a pessoa do presidente. Nós jogamos fora um prestígio que o próprio presidente levou sete ou oito anos para construir numa jogada mal feita”.

Enquanto a entrevista ocorria (minúscula), fiquei olhando para o rosto do professor e me perguntando a quem ele servia de fato. Sempre me questiono assim, quando vejo posições defendidas de uma forma tão parcial.

Não é segredo que boa parte da grande Imprensa brasileira é pró-Serra e faz de tudo para desconstruir qualquer notícia que tenha um laivo de positivo a cerca do governo Lula, mas algumas vezes as tiradas são baixas... bem, os dois lados da moeda conseguem fazer lances baixos, isso é verdade. Só quero lembrar que Guilhon é autor de um livro sobre o Franco Montoro ('O legado de Franco Montoro' - Montoro foi governador de São Paulo de 83 a 87, pelo PSDB) e já deu algumas declarações depreciativas a cerca do governo Lula (uma busca rápida na internet comprova isso). Parece que o seu forte não é a isenção e no mínimo o professor tem um certo desconforto com o PT e com Lula, para dizer o mínimo.

Acho que ninguém precisa se questionar por que o Jornal da Globo escolheu o professor (uma escolha assim tão ao acaso) para falar sobre o tema.

Bem, a política externa brasileira não é nenhuma unanimidade. Entre seus lances há ações que podem dar sim calafrio nos mais tradicionais, como a proximidade com o presidente venezuelano Hugo Chavez (para mim um fanfarrão), com o presidente Hondurenho deposto Manuel Zelaya (pelo amor de Deus, aquela história na embaixada parecia história de terror, e o Zelaya não inspirava confiança). Além destes, ainda tem os afagos à Cuba e nenhum nota sobre a repressão popular na ilha, a aproximação com Muamar Kadafi e agora com Ahmadinejad, numa situação delicadíssima: o vespeiro do Oriente Médio, onde, de um lado estão os nada santos israelitas e do outro os satanizados palestinos, iranianos, iraquianos, jordanianos, libaneses, egípcios.

Putz, nunca vi tanta gente ruim junta, nem sei porque eles ficaram com tanto petróleo. Melhor seria explodi-los todos e ficar com a gasosa... (se vocês não perceberam isso é ironia...)

Ainda que nenhuma dessas pessoas acima inspire confiança em nossas cabeças ocidentalizadas e prefiramos os bem arrumados e belos Barack Obarma, os ingleses e os franceses, afinal, eles são mais civilizados. Vale ressaltar que é os Estados Unidos, a Rússia, França, Reino Unido, China, Índia e Paquistão e, mais recentemente a Coréia do Norte, que têm a bomba atômica. Assim como também, possivelmente, Israel. Comenta-se que no total, por debaixo dos panos, cerca de 40 países têm a bomba. Para AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), 39 países podem possuí-la. Mas o clubinho é fechado. Os grande não querem que ninguém mais entre.

Eu até concordo em não aumentar o clube, contanto que seja garantido que quando eles não concordarem com algo, não resolvam invadindo ou apontando uma bomba. Contato que a ONU possa ser realmente um organismo respeitado e obedecido. Sei que algumas vezes obrigar alguns países malcriados a voltarem à razão parece a única coisa a fazer... mas e quando quiserem nos invadir por algum motivo nebuloso, por alguma intenção nada clara, na verdade, quando eles quiserem fazer algo, mas alegarem outro motivo para chegar no que realmente querem. Digo, simplesmente, e quando for conosco... Vocês pensam que só pode acontecer no vizinho? Ah tá, somos do clube dos civilizados. Aquele tipo de gente que só mata por necessidade, só de vez em quando joga uma criança da janela ou mata um pacifista...

Antes que alguém pense errado. Não sou a favor da guerra. De qualquer guerra.

Todavia, a questão não é essa de fato. Para mim o que o Irã não tolera e questiona é o direito de alguns países de mandarem e desmandarem no globo, segundo suas intenções. Não podemos esquecer que hoje os Estados Unidos tem base militar em quase toda a Europa e ocupam o Afeganistão e o Iraque. È bom lembrar que derrubaram Saddam Hussein sob alegações falsas de que o país estava construindo armas de destruição em massa. Saddam tinha apenas bravatas e acabou sendo enforcado. É muito provável que Ahmadinejad seja um outro líder cheio de bravatas. Assim, apesar de não simpatizarmos com alguns desses líderes devemos sempre dar o benefício da dúvida, já que aparência e bravatas não deveriam guiar nosso julgamento. Melhor dizendo, nosso discernimento.

Voltando ao assunto diplomacia, e como a ação brasileira está sendo vista com reservas. O Cientista Político paraibano Jaldes Menezes foi muito feliz em sua observação num artigo publicado no Portal WSCOM Online. Uma parte do artigo transcrevo abaixo:

Sejamos claros, qualquer que fosse o acordo, até mesmo, por absurdo, a rendição do Irã, não interessa aos Estados Unidos (menos ainda a Israel) novos interlocutores diplomáticos no circuito geopolítico do Oriente Médio e da Ásia Menor, do mundo árabe e da nação persas, ambos de extração religiosa mulçumana.

Especificamente às relações entre os Estados Unidos e o Irã, há no passado remoto um divisor político emblemático não cicatrizado, ao contrário, exponenciado pela Revolução Xiita de 1979, comandada pelo Aiatolá Khomeini: foram os Estados Unidos que derrubaram o governo constitucional e nacionalista de Mohammed Mossadegh em 1953, tendo feito retornar a monarquia tirânica do Xá Reza Parlev. A operação do golpe de Estado de 1953 foi fundamental no sentido de acantonar os interesses de cobiça da principal região produtora mundial de petróleo no mundo, aliás, manifestos desde a Segunda Grande Guerra
”.

Então, como acreditar que alguma ação seria bem vista? Se a única ação boa para ‘os aliados’ vai além da rendição? Não podemos esquecer que o Irã faz parte – assim como a Venezuela e a Coreia do Norte – do triângulo do mal denominado por Bush pós 11 de setembro.

Para mim, a intervenção do Brasil é sim um fato novo. Muda as forças políticas? É uma tentativa de mostrar que as coisas podem correr de uma forma diferente e quem sabe encontrar outra saída para aquele vespeiro que não seja a repisada supremacia norte-americana e israelense. Muitos de nós tendem a pensar que dar mais força ao mundo muçulmano seria o mesmo que ver o inferno na terra. Será? Não digo que está tudo certo do lado de lá, pelo contrário. Mas não dá para dizer que está tudo certo do lado de cá.

O tema é complexo. Mas dizer que a diplomacia foi ingênua é uma tolice. Era claro que os diplomatas brasileiros sabiam o que ia acontecer em Teerã, assim como o EUA, a Russia, a França, todos sabiam. È um jogo de fingimento, a qual a Imprensa se presta a seguir os poderosos. Não esqueçam amigos: olhem quem está falando e se questionem, qual a intenção daquele que fala. Ainda há outra coisa: se for passional demais, tem algo estranho... pode parecer que a vida dele está em jogo. Talvez seja outra coisa em jogo, prestígio, poder, contra-cheque... algo mais umbilical.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Enquanto a entrevista ocorria (minúscula), fiquei olhando para o rosto do professor e me perguntando a quem ele servia de fato. Sempre me questiono assim, quando vejo posições defendidas de uma forma tão parcial." sempre me faço mesmo questionamento.

mastigada disse...

Pois é, meu caro 'anônimo'. A parcialidade não é um bom cartão de visitas. Ainda que possa ser estimulante para uma boa conversa.